Crítica de Filme | A Grande Aposta

Bruno Giacobbo

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12 de janeiro de 2016

Dizem que rir é o melhor remédio e a crise financeira de 2008 fez muita gente chorar de raiva. De uma hora para outra, pelo menos na percepção dos cidadãos comuns, instituições financeiras consideras sólidas, como o Citigroup, a Merril Lynch e a Morgan Stanley, anunciaram prejuízos de bilhões de dólares. O motivo foi a explosão da bolha imobiliária que causou enormes rombos nos caixas destas empresas e levou milhões de pessoas a perderem os imóveis que haviam adquirido às custas de muito suor. História complexa, mas naturalmente interessante devido sua importância, logo despertou o interesse de Hollywood. A questão era: como transformá-la em filme sem reabrir antigas feridas? A solução encontrada por Adam McKay, um diretor oriundo da comédia de improviso, foi retratar este período turbulento com um humor ácido e generosa dose de sarcasmo.

Baseada em fatos reais, a trama de A Grande Aposta, uma adaptação do livro The Big Short (A Jogada do Século, no Brasil), de Michael Lewis, segue os passos de três grupos de investidores liderados por Michael Burry (Christian Bale), Mark Baum (Steve Carrell) e Ben Rickert (Brad Pitt), respectivamente; e de um banqueiro do Deutsche Bank, Jared Vennett (Ryan Gosling), que desempenharam papéis chaves durante a crise. Como escreveu o próprio autor, apesar de alguns deles serem bastante peculiares e excêntricos, eles perceberam o que especialistas com informações privilegiadas não viram: a dificuldade de determinar onde terminava a estupidez dos grandes bancos de Wall Street e começava a corrupção. Assim, anteviram o colapso financeiro e tentaram lucrar o máximo com ele.

Em alguns aspectos, o filme de McKay é primo-irmão de “O Lobo de Wall Street” (2013), de Martin Scorsese. De cara, é possível identificar três grandes semelhanças entre eles. A primeira diz respeito à temática. Os bastidores sujos da economia ianque e a sanha enlouquecida de seus personagens por dinheiro. A segunda é a edição final de ambos. Sem medo de parecer uma simples cópia, com a preciosa colaboração de Hank Corwin, o cineasta conseguiu imprimir o mesmo ritmo ágil e frenético. Por último, há uma similaridade entre os narradores das respectivas obras. Além de parecidos em relação à amoralidade de suas ações, Jared Vennett (Ryan Gosling) e Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio), durante quase todo o tempo, conversam com o público, algo que chamamos de ‘quebra da quarta parede’. E a proximidade para por aí.

A Grande Aposta Meio

Apesar dos dois longas usarem o humor para falarem de assuntos traumáticos, eles o fazem de forma diferente. Na obra de Scorsese, existe um investimento maciço em piadas de baixo calão e em cenas apelativas (envolvendo sexo e cocaína), que, com certeza, afastaram uma parcela mais puritana de espectadores das salas de projeções. Aqui, não. A graça é feita de outro jeito. Com gags, por exemplo, envolvendo as celebridades Margot Robbie e Selena Gomez; e o chef Anthony Bourdain. Em situações absolutamente hilárias, eles traduzem, do economês para a linguagem do dia a dia, o significado de expressões como subprime (créditos de riscos) ou CDOs (obrigações de dívidas colateralizadas). Estas explicações não farão você sair do cinema em condições de dar uma aula de economia para a sua avó, mas deixam o filme divertido e palatável.

A Grande Aposta conta, ainda, com um texto delicioso, diálogos afiados, e um elenco que se destaca como um dos melhores desta temporada de premiações, lado a lado com “Spotlight – Segredos Revelados” (2015). Por esta razão, ambos estão indicados ao prêmio de melhor elenco do 22º Screen Actors Guild Awards, a premiação do sindicato dos atores. Contudo, um ator, em especial, brilha acima dos outros: Christian Bale. Burry é o mais peculiar e excêntrico de todos os envolvidos. O único que não tem formação na área financeira. Ele é médico neurologista, cego do olho esquerdo e portador da Síndrome de Asperger (autismo). Ou seja, um personagem perfeito para alguém tão camaleônico quanto o intérprete galês. Sob a direção precisa de Adam McKay, então, ele brilha ainda mais. Uma atuação digna de prêmios, assim como o restante do filme.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

FICHA TÉCNICA:
Direção: Adam McKay.
Produção: Brad Pitt, Dedé Gardner, Jeremy Kleiner e Arnon Milchan.
Roteiro: Adam McKay e Charles Randolph.
Elenco: Christian Bale, Steve Carrell, Ryan Gosling, John Magaro, Finn Wittrock, Brad Pitt, Hamish Linklater, Rafe Spall, Jeremy Strong, Marisa Tomei, Melissa Leo, Stanley Wong, Byron Mann, Tracy Letts, Karen Gillan, Max Greenfield, Margot Robbie, Selena Gomez, Richard Thaler e Anthony Bourdain.
Montagem: Hank Corwin.
Trilha Sonora: Nichollas Britell.
Direção de Fotografia: Barry Ackroyd.
Duração: 131 minutos.
País: Estados Unidos.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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