Biografia de autor | Henrik Ibsen

Vanesca Soares

O dramaturgo norueguês Henrik Johan Ibsen nasceu em Skien, em 20 de Março de 1828, e morreu na Cristiânia, 23 de Maio de 1906. É considerado um dos criadores do teatro realista moderno. Foi o maior dramaturgo norueguês do século XIX. Foi também poeta e diretor teatral, sendo considerado o “pai do drama em prosa”, e um dos fundadores do modernismo no teatro. Entre seus maiores trabalhos destacam-se Brand, Peer Gynt, Um Inimigo do Povo, Imperador e Galileu, Casa de Bonecas, Hedda Gabler, Espectros, O Pato Selvagem e Rosmersholm.
Muitas de suas peças foram consideradas escandalosas na época em que foram lançadas, pois o teatro europeu estava sujeito ao modelo determinado pela vida familiar e pela propriedade. Os trabalhos de Ibsen analisavam a realidade contida por trás das convenções e costumes, o que trouxe muita inquietação para seus contemporâneos. Ele lançou um olhar crítico à sociedade e fez uma livre investigação sobre as condições de vida e as questões da moralidade da época. A poética peça Peer Gynt, no entanto, tem fortes elementos do Surrealismo.
Ibsen é muitas vezes classificado como um dos verdadeiramente grandes dramaturgos da tradição europeia. Ele influenciou outros dramaturgos e romancistas, tais como George Bernard Shaw, Oscar Wilde, James Joyce e Eugene O’Neill. Muitos críticos o consideram o maior dramaturgo desde Shakespeare.
Embora a maioria de suas peças sejam definidas na Noruega, muitas vezes em lugares que lembram Skien (a cidade portuária onde cresceu), Ibsen viveu por 27 anos na Itália e Alemanha e raramente visitou a Noruega durante seus anos mais produtivos.
Ibsen nasceu na pequena cidade portuária de Skien, em Telemark, uma cidade que se ocupava do transporte de madeiras. Seus pais eram membros, de ambos os lados, das famílias mais respeitadas da cidade. O avô de Ibsen, o capitão de navio Henrich Ibsen, morrera no mar em 1797.
Knud Ibsen, pai do dramaturgo, veio de uma longa linhagem de marinheiros (capitães), mas decidiu se tornar um comerciante, alcançando sucesso inicial. Seu casamento com Maria-Cornélia Altenburg foi um arranjo familiar excelente. Ela era filha de um dos mais ricos comerciantes madeireiros na próspera cidade de Skien.
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Quando Henrik Ibsen tinha cerca de sete anos de idade, no entanto, a sorte de seu pai deu uma guinada significativa para o pior e a família acabou por ser forçada a vender o edifício principal dos Altenburg no centro de Skien e mudar-se definitivamente para sua casa de verão de pequeno porte, Venstøp, fora da cidade. Tal mudança influenciou definitivamente o comportamento de Ibsen que, já tímido por natureza, tornou-se mais isolado e taciturno. A atmosfera familiar também era difícil, pois o pai era um homem dominador e alcoólatra, e sua mãe uma mulher submissa, que buscava conforto na religião. Suas maiores distrações na infância eram o desenho e a pintura, paixões que manteve.
A família Ibsen acabou se mudando para uma casa da cidade, Snipetorp, de propriedade do meio-irmão de Knud Ibsen, o rico banqueiro e armador Christopher Blom Paus. Sua formação teria uma forte influência no trabalho posterior de Ibsen. Os personagens em suas peças, muitas vezes eram espelho de seus pais, e seus temas muitas vezes lidavam com questões de dificuldade financeira, bem como conflitos morais decorrentes de segredos escondidos da sociedade. Ibsen usaria tanto o nome quanto o modelo de personagens inspirados em sua própria família.
Na adolescência, Ibsen apaixonou-se pela teologia e se tornou grande leitor da Bíblia, porém pouco pôde se dedicar a tal estudo, pois aos dezesseis anos, mediante as precárias condições da família, teve que escolher uma profissão, mudando-se para a cidade de Grimstad, onde passou a trabalhar como aprendiz do farmacêutico, aí permanecendo por cinco anos.
Em 1846, quando Ibsen tinha 18 anos, nasce Hans Jacob Henriksen, seu filho ilegítimo com Else Sophie, que ele assumiu e sustentou imbuído pelo senso do dever, mas nunca o viu. Um dos proprietários da farmácia Lars Nielsen, deu mais liberdade a Ibsen, que passou a administrá-la praticamente sozinho. O dramaturgo conhece o músico Christojher Due e o estudante de direito Ole Shulerud e a farmácia passa a ser um local de encontro de jovens que discutiam política, sociologia e literatura da época.
Ibsen pretendia, nessa época, estudar medicina, mas foi reprovado nos exames de admissão à universidade, passando a se dedicar, então, apenas à literatura. Sua primeira obra para teatro foi escrita em 1849, Catilina, que na época foi rejeitada pelos editores, que foi publicada um ano depois, sob o pseudônimo Brynjolf Bjarme. Sua segunda peça, Kjaempehoien (Túmulo de gigantes), compõe-se de um só ato e foi representada no teatro real de Cristiânia, atual Oslo, em 1850, mas recebeu pouca atenção.
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A principal fonte de inspiração de Ibsen do início até Peer Gynt, foi aparentemente o autor norueguês Henrik Wergeland e os contos populares noruegueses, tais como recolhidos por Peter Christen Asbjørnsen e Jørgen Moe. Na juventude de Ibsen, Wergeland foi o mais aclamado, e de longe o mais lido poeta e dramaturgo norueguês.
Produziu algumas sátiras, como Norma, e poesias, como A Epopeia e Helze Hundingsbone, adquirindo alguma celebridade. Foi designado, então, para diretor de cena num pequeno teatro de Bergen, o Det Norske Theater, onde esteve envolvido na produção de mais de 145 execuções como escritor, diretor e produtor. Escreveu quatro peças, entre elas Madame Inger em Ostraat, em 1855. A Festa em Solhaug, de 1856, foi seu primeiro sucesso popular, resultando no convite para uma festa na casa da escritora Magdalene Thoresen, onde conheceu sua futura esposa Suzannah Daae Thoresen, filha da escritora. Em 1858, casou-se com ela e em 1859 nasceu o único filho do casal, Sigurd.
Ibsen voltou para Cristiânia e assumiu o Norwegian Theatre, em 1857. Após a falência desse teatro, assumiu a direção do Cristiânia Theatre, escrevendo então Os Guerreiros em Helgeland, em 1858, e a sátira A Comédia do Amor, em 1862, essa idealizada inicialmente em prosa, mas transformada depois em versos. Nesta obra inicia sua luta contra as mentiras sociais, no caso específico, a hipocrisia do amor.
Em 1861, descontente com suas dívidas, doenças e com a pouca valorização atribuída à sua literatura, chegou a pensar em suicídio. O casal Ibsen vivia em péssima situação financeira e Ibsen ficou muito desiludido com a vida na Noruega. Em 1864 foi para Sorrento, na Itália, em exílio auto-imposto. Ele não retornaria à sua terra natal nos próximos 27 anos, e quando retornou, foi como um famoso, mas controverso, dramaturgo.
Sua peça seguinte, Brand (1865), foi para trazê-lo à aclamação da crítica e ao sucesso financeiro e a seguinte, Peer Gynt (1867). Com o sucesso, Ibsen se tornou mais confiante e começou a introduzir mais e mais de suas próprias crenças e julgamentos nos dramas, explorando o que ele chamou de o “drama de idéias”.
Ibsen mudou da Itália para a Dresden, Alemanha, em 1868, onde passou anos escrevendo a peça que ele considerava como sua principal obra, Imperador e Galileu (1873), dramatizando a vida e os tempos do imperador romano Juliano, o Apóstata. Embora o próprio Ibsen sempre tenha olhado essa peça como a pedra angular de sua obra inteira, muito poucos partilharam a sua opinião, e suas obras seguinte seriam muito mais aclamadas. Ibsen mudou para Munique em 1875 e publicou Casa de Bonecas, em 1879. A peça é uma crítica mordaz aos papéis conjugais aceitos por homens e mulheres que caracterizou a sociedade da época.
Espectros se seguiu em 1881, apresentando outro comentário mordaz sobre a moralidade da sociedade. Nele, uma viúva revela ao seu pastor que havia escondido os males de seu casamento para a sua duração. O pastor a aconselhara a se casar com seu noivo, apesar de sua promiscuidade, e ela fez isso na crença de que seu amor iria reformá-lo. Mas essa promiscuidade continuou até sua morte, e seus vícios são passados para seu filho na forma de sífilis. A menção da doença venérea, para mostrar como ela pode envenenar uma família respeitável, foi considerada intolerável.
Em Um Inimigo do Povo (1882), Ibsen foi ainda mais longe. Em peças anteriores, elementos controversos foram componentes importantes e até mesmo fundamentais na ação, mas eles foram em pequena escala. Neste, a controvérsia tornou-se o foco principal, e foi o antagonista de toda a comunidade. A mensagem principal da peça é que o indivíduo que está sozinho é mais “certo” do que a massa de pessoas, que são retratados como ignorantes e carneiros. A crença da sociedade contemporânea era a de que a comunidade era uma instituição na qual se podia confiar, mas Ibsen apresenta a contestação dessa noção. Ele criticava não só o conservadorismo da sociedade, como também o liberalismo da época. O protagonista é um médico em um local de férias, cujo principal objetivo é construir um banho público. O médico descobre que a água está contaminada, e espera ser aclamado para salvar a cidade do pesadelo de infectar os visitantes com a doença, mas ao invés disso ele é declarado um “inimigo do povo” pelos moradores, que lutam contra.
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O Pato Selvagem (1884) é por muitos considerado o melhor trabalho de Ibsen, e é certamente o mais complexo. Ele conta a história de Gregers Werle, um jovem que retorna à sua cidade natal depois de um exílio prolongado e se reencontra com seu amigo de infância Hjalmar Ekdal. Ao longo da peça, os muitos segredos que estão por trás da casa Ekdals, aparentemente feliz, são revelados por Gregers, que insiste em perseguir a verdade absoluta.
No final de sua carreira, Ibsen se voltou para um drama mais introspectivo, que tinha muito menos a ver com denúncias dos valores morais da sociedade. Nas peças posteriores, tais como Hedda Gabler (1890) e Solness, o Construtor (1892), Ibsen explorou conflitos psicológicos que transcendiam uma rejeição simples de convenções atual. Hedda Gabler é provavelmente uma das peças mais executadas de Ibsen, com o papel-título considerado como um dos mais desafiadores e recompensadores para uma atriz, mesmo nos dias de hoje.
Em 1889, Ibsen conheceu Emilie Bardach, uma jovem da alta sociedade canadense, com a qual passou a trocar correspondência, e especula-se um possível relacionamento amoroso entre eles.
Em 1894, escreveu O Pequeno Eyolf, onde criticou o papel social da família do século XIX. No drama escrito por Ibsen, a tragédia da morte do filho de Eyolf traz à tona o relacionamento do casal, com as dificuldades do compromisso social do casamento. Mediante a não realização individual, o casal deposita seus sonhos e expectativas na vida do frágil Eyolf que, numa atitude de libertação, segue a Senhora dos Ratos, personificação da morte na mitologia norueguesa.
E finalmente, em 1899, Ibsen escreveu sua última obra: Quando Despertarmos de entre os Mortos.
Em março de 1900, Ibsen contraiu uma forte gripe, e em poucas semanas teve o primeiro derrame. Em 1901 o segundo. Em 1902, foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 1903, após um terceiro derrame, perdeu a capacidade manual de escrever, e morreu em 23 de maio de 1906, sendo sepultado em primeiro de junho com honras de Estado no cemitério Var Freisers.
 
Bibliografia:
Catilina – 1850.
Kjaempehoien – 1850
Justedalsrypen – 1850
Norma – 1851
Sankthansnatten – 1853
Fru Inger til Ostraat – 1854
Gildet paa Solhaug – 1855/ 1856
Olaf Liljekrans – 1856
Haermaendene paa Helgeland – 1858
Kjaerlighedens Komedie – 1862
Kongsemnerne – 1864
Brand – 1866
Peer Gynt – 1867
De Unges Forbund – 1869
Digte (poesia) 1871
Kejser og Galilaer – 1873
Samfundets Stoetter – 1877
Et Dukkehjem – 1879
Gengangere – 1881
En Folkefiende – 1882
Vildanden – 1884
Rosmersholm – 1886
Fruen fra Havet – 1888
Hedda Gabler – 1890
Bygmester Solness – 1892
Lille Eyolf – 1894
John Gabriel Borkman – 1896
Naar vi doede vaagner – 1899
 
 
 
Fonte: Wikipedia
 
 
 
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