Crítica de Filme | Império Proibido
Alan Daniel Braga
Em 1835, Nikolai Gogol, o reverenciado escritor “russo-ucraniano”, lançava Mirgorod, uma compilação de contos fantásticos. Dentre as histórias constava a soturna Viy, na qual um estudante de um monastério, o filósofo Khoma Brut, vê-se envolvido com uma bruxa e é obrigado a rezar por ela depois que esta morre, enfrentando bruxarias e o demônio Viy por três noites seguidas.
Em 1967, os diretores Konstantin Ershov e Georgi Kropachyov levaram para as telonas a primeira adaptação do conto em “Viy – A Lenda do Monstro”. Império Proibido, o remake de Oleg Stepchenko, foi produzido em 2005 e tinha como previsão de lançamento o ano de 2009, data da celebração de 200 anos de Gogol. Mas nem tudo são flores e a produção foi adiada, chegando aos cinemas em 2014 e no Brasil somente agora, no próximo dia 13 de agosto.

A nova versão apenas se inspira no conto de Gogol. A história original está ali, mas Oleg Stepchenko e Aleksandr Karpov vão bem além, criando um novo enredo em cima do conto. No longa-metragem, um cartógrafo inglês do século XVIII, Jonathan Green, se aventura em uma jornada para mapear as terras desconhecidas da Transilvânia, a fim de descobrir os segredos obscuros e perigosas criaturas escondidas em uma amaldiçoada vila perdida na floresta ucraniana.
Com uma produção de mais de 20 milhões de dólares, o filme traz ótimos efeitos visuais (principalmente se levado em consideração ser uma produção iniciada em 2005) para ilustrar uma trama repleta de oportunidades imagéticas. A fotografia, a arte, o figurino não deixam por menos e ajudam a construir muito bem o universo histórico, fantasioso, lúdico do longa-metragem, que só não consegue decolar mais alto em função do roteiro e de algumas escolhas da direção.
Para início de conversa, a história é longa. Além de histórias paralelas, querer misturar a história de Khoma Brut, criar um Jonathan Green, amarrar as duas tramas e ainda querer que o novo protagonista tenha um arco externo, sendo reconhecido por um pretenso sogro pelo seu trabalho, torna o filme um tanto extenso. A solução encontrada, então, foi otimizar… E o que vemos são muitos pulos, muitos planos cortados abruptamente (parece que o filme foi reduzido em mais de 20 minutos, o que piora a situação), muita correria, pouco respiro, pouco desenvolvimento e quase nenhuma cena de preparação. A ação segue da ação e não temos tempo de acreditar em romances, degustar piadas, nos envolver com a tensão, entender a história.

Outro problema é que, embora tente passar um desejo pela fuga do óbvio em alguns pontos, há ali um clima familiar… Um clima familiar demais. A sensação é de uma reunião de filmes já vistos, histórias já contadas, soluções já encontradas, caminhos já muito explorados, aliados a discursos um tanto óbvios.
Além dos problemas estruturais, a cópia chega ao Brasil com uma dublagem em inglês, o que causa estranheza na interpretação dos atores. Talvez não fosse tão palatável ou fácil para os ouvidos já acostumados com a língua inglesa – que, é claro, para quem tem alguma fluência até ajuda na compreensão de algumas partes em que fogem as legendas -, mas certamente daria um tom mais original se o filme viesse no idioma da região que retrata.
Império Proibido é um filme divertido com a maioria dos elementos que blockbusters de fantasia e aventura precisam… E talvez esteja aí o problema: são elementos demais. Fica no espectador aquela sensação de que não precisava do tanto para ser muito mais.
FICHA TÉCNICA
Direção: Oleg Stepchenko
Roteiro: Oleg Stepchenko Aleksandr Karpov – Da obra de Nikolai Gogol
Elenco: Jason Flemyng; Aleksey Chadov, Andrey Smolyakov, Charles Dance, Olga Zaytseva, Igor Jijikine, Agniya Ditkovskite e outros
Produção: Alexander Kulikov, Leonid Ogorodnikov, Oleg Teterin
Produção Executiva: Oleg Stepchenko, Michael Roesch, Uwe Boll
Diretor de Fotografia: Vladimir Smutny
Distribuidor brasileiro : Elite Filmes
Gênero: Aventura, Fantasia, Mistério
Lançamento: 13 de agosto de 2015
Duração: 1h51min
Nacionalidade: Rússia , República Tcheca, Ucrânia
Ano de produção: 2014
Título original: Viy
Classificação: 12 anos
Alan Daniel Braga
Publicitário e roteirista de formação, foi de tudo um pouco: redator, produtor, vendedor, clipador, operador de som e imagem, divulgador, editor de vídeos caseiros, figurante e concursado. Crítico, irônico e um tanto piegas, é conhecido vulgarmente como Rabugento e usa essa identidade para manter um blog pouco frequentado (Teorias Rabugentas). Também mantém uma página no Facebook (Miscelânea Rabugenta), com a qual supre a necessidade de conhecer músicas, artistas e pessoas novas. Está longe de ser Truffaut, mas gosta de dar voz aos incompreendidos. (Acesse http://teoriasrabugentas.blogspot.com.br/ e curta https://www.facebook.com/MiscelaneaRabugenta)















































