‘Iracema 236ml’ faz uma releitura da trágica história de amor entre a índia tabajara e seu colonizador
Giselle Costa Rosa
Com texto e direção de Leonarda Glück, o coletivo curitibano Selvática Ações Artísticas apresenta, em São Paulo, em curta temporada de 2 a 4 de outubro, na Sala Arquimedes Ribeiro, da Funarte, Iracema 236ml – O Retorno da Grande Nação Tabajara, uma releitura contemporânea da trágica história de amor entre a índia tabajara e seu colonizador, imortalizada no romance-épico-lírico (na definição de Machado de Assis) “Iracema”, de José de Alencar (1829-1877).
Na montagem, ironicamente transmutado em produto envasado, o texto de José de Alencar encontra vida falante na forma de manifesto literário-teatral. A realidade cultural lírica do início do século XVII, retratada na obra de 1865, é transportada para um atribulado cenário brasileiro atual, pós-industrialização, afetado pelo avanço tecnológico, pelas discussões de gênero e pela velocidade comunicacional que a contemporaneidade suscita. “Durante a pesquisa, questões filosóficas primordiais foram visitadas, em busca de uma identidade nacional singular, e os artistas criadores expressam com exatidão a simbologia da dominação cultural a que estamos submetidos, de uma identidade cultural brasileira que se constrói com base em permanente amálgama histórica, digerindo a cultura exportada pelas grandes potências mundiais e regurgitando-as já mescladas de cultura popular”, avalia Leonarda Glück.
Por meio de uma narrativa crítica e irônica, a peça desconstrói o romantismo indigenista da obra de Alencar, como forma de questionar a relação entre colonizador e colonizado e a formação da cultura brasileira, seus frutos e desdobramentos através dos tempos. A diretora da peça comenta que “apesar de terem sido os primeiros habitantes do Brasil, para além de todo o processo de colonização, os índios sempre estiveram ausentes da vida social e política do país, ocupando um lugar inferior na hierarquia da civilização branca”.
Ao questionar a legitimidade de uma cultura genuinamente brasileira, a peça se volta para as questões que determinam e perpetuam as desigualdades de gênero, raça e os tradicionais modos de submissão. “A Iracema selvática é uma breve passagem literatura brasileira adentro rumo à cena viva. A imagem da índia brasileira é suscitada pela cor local de um Brasil que mal nasce e já vai morrendo, de doença, escassez, de falta de educação, de falta de amor, de ser roubado, sugado e crackeado”, pontua Glück.
Espetáculo multimidia, a encenação dialoga com a cenografia digital do paulistano Danilo Barros (Modular Dreams) e a projeção contínua de vídeos, inspirados nos cenários pictóricos pintados em grandes telas no século XIX.
:: SERVIÇO
Dias 2, 3 e 4 de outubro de 2015 (sexta a domingo)
Horário: às 21h
Local: Complexo Cultural Funarte SP – Sala Arquimedes Ribeiro
Rua: Alameda Nothmann, 1058 – Campos Elíseos
Tel: 11 3662-5177)
Duração: 1h20
Classificação: 16 anos
Lotação: 50 lugares
GRÁTIS (os ingressos devem ser retirados uma hora antes, na bilheteria do teatro)
Giselle Costa Rosa
Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.















































