CRÍTICA| Emicida leva público ao delírio no Circo Voador
Bernardo Moura
A noite da última sexta-feira entrou para a história do Circo Voador e dos corações e mentes que estavam presentes na casa. O responsável foi o rapper e produtor e também repórter Emicida que, pela terceira vez, realizou no estado do Rio o show do seu mais novo álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”. E ainda vem mais uns dois por aí até o final do ano.
Mas, como o próprio rapper disse, este show no Circo era o mais esperado. O motivo? A gente até entende. O Circo é a casa antológica na história da música brasileira, palco de muitas manifestações culturais e artísticas e que mudam a história do Brasil.

O rapper paulistano com seis álbuns lançados na carreira e surgido na década passada destilou sucessos de agora e antigos. Um ponto a favor do show é que o público interage bastante com o cantor, se tornando o artista principal da festa. Assim como acontecera no show de Criolo no primeiro semestre deste ano, o público é regido pelo rapper, se tornando aquele organismo vivo e indispensável. É disso que difere o rap brasileiro atual dos outros estilos musicais. Você não consegue imaginar Emicida cantando num show intimista e acústico sem o público. Até pode rolar. Mas não é a onda dele.
O show se torna tão rico a ponto de Emicida e sua banda magistral (Carlos Café, na percussão; Doni Jr. no cavaco/violão; Anna Trea, na guitarra/percussão; Samuel Bueno, no baixo; Sivuca, na percussão, além do DJ, integrante do projeto Discopédia – o mesmo do Dj Dan Dan, de Criolo, DJ Nyack) dialogarem com outros ritmos da música, como samba, funk carioca, reggae, pagode e até às batidas percussivas do Olodum. Como vimos no trabalho anterior do músico, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” (2013), o diálogo com a África permanece. Não à toa, ele começa o seu show de quase duas horas de duração vestindo uma máscara tribal africana.

Entre uma música e outra, Emicida fala sobre feminismo e as acensão dos negros e da nova classe C. Mas o protesto de suas letras acaba que traduzindo para cada pessoa, não importa a qual classe social ou ideologia ela pertença, uma aula de história e civilização para o seu mundo. Portanto, Emicida acaba fazendo um show personalizado. É aquele tipo de show que vemos nas escolas infantis do ensino fundamental, onde os pais babam e as crianças se divertem ao mesmo tempo que aprendem. Emicida é o professor que todos nós deveríamos ter para ensinar-nos umas aulas a como ser um bom cidadão e a ser um ser humano. É disso que importa. É disso que a música dele fala.
Para finalizar, o poeta Emicida ainda conta uma poesia da moçambicana Noêmia de Sousa, “Súplica”, o qual tem tudo a ver com a situação atual que o nosso país enfrenta, principalmente nas redes sociais. Diz assim um trecho: “Por isso pedimos/De joelhos pedimos: – Tirem-nos tudo/Mas não nos tirem a vida/Não nos levem a música!”.
Fotos: Bernardo Moura
SET LIST:
1. Intro Selva/ Oito
2. Boa Esperança
3. Bang
4. Gueto
5. Mãe
6. Hoje cedo
7. Madagascar
8. Chapa/Cartola
9. Baiana/Haiti
10. Passarinhos
11. Mufete
12. Zica/Noiz/Triunfo
13. Mandume
14. Ubuntu
15. Casa
[BIS]
16. Rinha
17. Levanta e anda
18. Salve Black















































