Devendra: sete tons de vermelho em uma explosão sonora

Guilherme Farizeli

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25 de novembro de 2020

Inesperado, robusto e extremamente visceral. Devendra é a junção do sentimento de sete almas antagonistas e devaneadoras de sua história. Formada em de 2008 na cidade de São Paulo, a banda tem a proposta de elevar a mente do ouvinte com letras visionárias e vozes genuínas. Para isso, mescla elementos de post hardcore, prog metal e música eletrônica.

Em primeiro lugar, o grupo tem em seu histórico o lançamento do EP ‘A morte é o começo’, em 2009. Posteriormente, após um hiato de aproximadamente seis anos, retornaram em 2020 com os singles ‘Aquela Que Pertence a Julho‘ (com duas músicas), ‘Nimravidae Vermelho‘ e o mais recente, ‘Urano Contra Jápeto e a Afronta de Atlas ao Tártaro‘.

A saber, banda conta com Lucas Ovesso e Tom Rocha nos vocais, Beto Farizel no baixo, Nelsinho Pacheco na bateria e Bob Bernardo nos teclados & efeitos. Completam ainda a formação os guitarristas Ivan Lazaneo e William Pires. E é com ele que nós batemos um papo incrível.

CONFIRA!

Muito obrigado por conversar com o ULTRAVERSO! Como tem sido esse período de pandemia para vocês?

Willians: O prazer é todo nosso, agradecemos o convite e o espaço cedido para falarmos um pouco sobre a gente. É complicado passar por um momento histórico como este, né? Creio que a humanidade não estava preparada para esta reclusão.

Na Devendra, nós não vivemos de música. Todos nós nos sustentamos com trabalhos fora do universo musical. Eu sou do ramo de Tecnologia, tive que continuar com força total, dando apoio nessa onda home office. Ivan é do ramo farmacêutico e, mais do que nunca, o trabalho nesta área foi amplificado.

O Beto é do ramo da aviação e pudemos ver nas notícias que os aeroportos aproveitaram o período para reformas e adequações. E, por fim, o Nelson, Bob e Tom, são do ramo de Barbearia e também não pararam. O Lucas foi nosso único integrante que seguiu toda essa onda à risca. O restante basicamente não parou as atividades de trabalho.

Muitos artistas aproveitaram o isolamento social para dar vazão a criatividade. Foi o que aconteceu com vocês em 2020, já que vinham de um hiato?

Willians: Nós não tivemos este “bônus” de tempo livre no isolamento, já que os trabalhos para os integrantes da Devendra não pararam. Fora o clipe, todo nosso material disponível foi gravado e produzido antes da pandemia. E, embora estivéssemos em hiato para o público, estávamos ensaiando e produzindo em silêncio. Lançamos nosso primeiro single nas plataformas digitais, Nimravidae Vermelho, justamente quando a pandemia estourou.

Vocês incorporam elementos bem variados no som de vocês. Como vocês descreveriam a banda em termos de estilo para um novo ouvinte?

Willians: Essa é uma briga constante dentro da banda, porém, de forma saudável (risos). São tantas influências, de tantos estilos, que fica difícil cravar um. Entretanto, em conversas internas e até com o feedback da galera que nos acompanha, creio que o estilo seja rock experimental. Experimental é a palavra, a gente testa de tudo!

(Divulgação Devendra / Foto: Felipe Vieira)

Os teclados e sons eletrônicos são um contraponto muito legal aos riffs pesados, utilizando afinações mais graves. Como vocês equilibram esses dois lados na hora de compor as músicas?

Willians: A princípio, todas as nossas músicas são compostas de ideias vindas das guitarras. Ivan e eu levamos riffs para a banda e o processo simplesmente acontece. Logo depois, o Nelsinho monta a bateria, muda muita coisa também, e aí, vem o nosso “Lego” que é a Devendra.

Enquanto tudo isso acontece, geralmente o Beto já tem toda a ideia do baixo. Aí o Bob, que é responsável por essa parte eletrônica, vai nos metralhando de ideias, que filtramos todos juntos. Por fim, os vocalistas pegam as letras, que são sempre o Ivan e Bob que compõem, e fazem o encaixe vocal. Assim nascem as músicas da Devendra.

Vocês acabaram de lançar o novo single “Urano Contra Jápeto e a Afronta de Atlas ao Tártaro”, com esses personagens da mitologia grega no título e uma letra cheia de fúria. Sobre o que essa letra fala e, qual a ideia por trás da música?

Willians: Esta letra é de cunho totalmente político. O título revela um conflito entre gerações. Urano teve filhos com Gaia e acreditava que seus filhos tomariam seu trono. Então, ele sempre os derrotava. Gaia porém, escondeu alguns deles e os atiçou para que matassem Urano. Jápeto junto com Cronos e outros irmãos emboscaram Urano e o mataram.

Atlas é a próxima geração da história, já que ele é filho de Jápeto. Atlas e outros titãs queriam tomar o monte Olimpo. Então, Zeus os castigou e os condenou ao tártaro. Entretanto, Atlas recebeu um castigo ainda pior: o de sustentar para sempre o céu em seus ombros.

A história da letra é contada com base na nossa posição social. Como os nossos governantes são e sempre foram nocivos. Como não fazem nada para melhorar nossa vida e como isso é cultural. Nós não podemos ficar sempre do lado de baixo, precisamos revidar de alguma forma. Ou seja, é totalmente uma crítica ao governo. Ao mesmo tempo, é uma crítica a nós mesmos. Mesmo sabendo de tudo isso, não nos movemos para mudar.

Isso foi retratado no clipe quando as criaturas são reveladas e embaixo dos mantos estão os integrantes da banda. Sempre somos nossos próprios inimigos, guiados por líderes que enxergam isso e são totalmente coniventes.

Junto com o single, vocês também lançaram um vídeo incrível produzido pela Ogiva Filmes e dirigido por Felipe Vieira. Como foi o processo de gravação desse vídeo?

Willians: Intenso. Esta é a palavra. Em primeiro lugar, para uma banda independente fazer qualquer material aqui no Brasil, é simplesmente desafiador em todos os aspectos. A questão financeira foi a primeira barreira que encontramos, pois custear uma produção do nível que foi, com equipamentos de cinema, não foi uma missão muito simples. Contudo, tivemos o apoio do Felipe Vieira, que abraçou nosso projeto e fez de tudo pra sintetizar este sonho junto conosco. Eu, Ivan e Felipe tomamos a frente e começamos a delegar algumas tarefas para os membros da banda.

Antes de tudo, discutimos o roteiro do clipe e qual mensagem passaríamos. Nesse sentido, como o Ivan escreveu a letra, acabou escrevendo o roteiro também e todos nós o apoiamos.

Logo depois, chegou a parte tensa da parada. Fazer fantasia, fazer sangue, ferramentas, coroa, chamar figurantes, logística pra buscar os produtores, fazer fogo, contratar bombeiro, autorização de gravação nas locações, segurança armada (os locais eram super hostis). Além disso, muita coisa gravada não entrou pro clipe, diversas vezes alguns integrantes quase desmaiaram, passando mal. O Nelsinho ficou sem conseguir andar em alguns momentos… Mas era respirar e continuar. Por fim, após 20 horas de gravações, concluímos todo o processo. E está aí, online!

Como vocês enxergam o panorama do rock pesado no Brasil atual? Acham que tem mais espaço, menos espaço ou está mesma que, digamos, 10, 15 anos atrás?

Willians: Do nosso ponto de vista, o espaço foi ampliado brutalmente. Nós fazemos este rock com a Devendra desde 2008. Naquela época, se houvessem gritos na música, a galera taxava de Emo e pronto. Mesmo sem conhecer o movimento Emo e sua profundidade. Simplesmente por ser algo “legal de zoar”.

Atualmente, o rock pesado tem muito mais espaço. Da mesma forma, a cabeça do metaleiro das antigas está em desconstrução. Temos bandas aqui como o Project46 e JohnWayne que estão em um nível muito alto. São bandas que tocaram no Rock in Rio, e isto eu afirmo: nunca aconteceria em 2008. E, olha o som dos caras! Pesadíssimo!

Em conclusão, o cenário está sendo amplificado e temos ótimos representantes. O negócio é sempre inovar e a Devendra tem tentado fazer isso. Menos do mesmo. E experimentar.

(Divulgação Devendra / Foto: Felipe Vieira)

E, do ponto de vista artístico, como você enxerga a Devendra em sua vida?

Willians: Uma coisa que aprendi com esse tempo de convivência, foi deixar de pensar em mim como unidade para pensar como um todo. Viemos de sete histórias diferentes, com sete longos caminhos sendo percorridos um pouco mais a cada dia. Mas, quando estamos juntos, somos apenas um.

O vermelho é importante por isso, ele é o símbolo que nos lembra que fazemos parte de algo maior do que nós mesmos. Somos o cruzamento de sete vibrações que formam um universo único, que não só se ouve, mas se sente, se respira e se vive. Conquistamos nosso respeito com a cabeça erguida e orgulho de tudo que trazemos até aqui. Somos a Devendra!

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho.

Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail wilson@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Guilherme Farizeli

Músico há mais de mil vidas. Profissional de Marketing apaixonado por cinema, séries, quadrinhos e futebol. Bijú lover. Um amante incondicional da arte, que acredita que ela deve ser sempre inclusiva, democrática e representativa. Remember, kids: vida sem arte, não é NADA!
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