Gui Farizeli Riverdies por Vinícius Giffoni

Com referências dos anos 90, banda Riverdies atravessa gerações

Wilson Spiler

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26 de agosto de 2020

Foto de capa: Vinícius Giffoni

A banda Riverdies não é só um quarteto de rock do Rio de Janeiro. Com um público consolidado, o grupo foi fundada em 2001, ou seja, completará 20 anos de estrada no ano que vem.
ULTRAVERSO conversou com Gui Farizeli (baixo e vocal), que foi o grande idealizador do grupo ao lado de Fil Buc (guitarra). O line-up atual da banda conta ainda com Alex Melch (vocal e guitarra) e Rafael Glaychman (bateria).
Confira o nosso bate-papo com o baixista da banda Riverdies:

Ultraverso: Como surgiu a banda em sua formação original?

Gui Farizeli: Vou tentar resumir. Eu e Leo Graterol (antigo guitarrista) estudávamos no mesmo colégio e acabamos trocando ideia por curtir as mesmas bandas, especialmente Soundgarden. O convenci a tocar comigo e começamos a montar uma banda. Ao mesmo tempo, eu e Fil nos conhecemos por meio de um amigo em comum e nosso primeiro papo também foi sobre Soundgarden, mais especificamente sobre o álbum “Down on the Upside”.
Chamei-o pra banda também. Alex era um vocalista relativamente conhecido na região em que vivíamos e o processo foi quase o mesmo. Acho que o grande catalisador foi o fato de que eu, Alex e Fil já tínhamos o costume de escrever nossas próprias músicas e em inglês. Isso nos garantiu uma sinergia inicial muito boa. Victor von Draxeler foi o batera dessa formação inicial da banda.

UV: Por que a opção por cantar em inglês?

GF: Alguns motivos. Primeiro, a sonoridade: pro nosso gosto e pro tipo de som que a gente se propôs a fazer, era um caminho natural. Além disso, nossas principais influências (especialmente aquelas que eram/são comuns aos compositores da banda, todas eram bandas que cantavam em inglês, até mesmo as nacionais).
Por último, como disse anteriormente, nós três (GuiFil e Alex) já chegamos na banda com algumas ideias/músicas bem encaminhadas, todas em inglês. Lá atrás, nunca sentamos pra decidir isso (escrever em inglês). Pra gente foi 100% natural e qualquer coisa diferente daquilo não faria sentido (risos).

Gui Farizeli, da baixista da banda Riverdies (Foto: Vinicius Giffoni)

Gui Farizeli, da baixista da banda Riverdies (Foto: Vinicius Giffoni)

UV: No início da banda, as principais referências ainda estavam em alta. Bandas como Alice in Chains, Soundgarden e Faith no More eram ouvidas com certa frequência nas rádios e tocadas na MTV. Como é atravessar esse período e ver essa grande mudança na música atual? Ainda há espaço para um som desse estilo?

GF: Na real, quando a gente surgiu, algumas dessas bandas estavam terminando e outros estilos estavam mais em alta, como o new metal, pop punk, indie, etc. Foi um período até estranho para o nosso estilo, eu acho.
Mas a gente também não fez uma “análise de mercado” antes de colocar o projeto na rua. Nossas composições refletem nossas influências, nossa visão de mundo e acho que esses pilares são atemporais. Embora o mainstream seja cíclico, a internet permite que todo mundo tenha espaço.
Sou ouvinte contumaz de uma banda americana de eletronic jazz chamada Sungazer, uma banda de rock alternativo da Noruega chamada Ribozyme e também dos australianos do Hiatus Kaiyote. Assim como o River é ouvido no Canadá, Portugal, Austrália, Itália, Argentina, Malásia e Sri Lanka.. Portanto, respondendo mais diretamente sua pergunta, eu acho que a noção de “espaço” que tínhamos mudou e isso é ótimo.

UV: Em 2007, o single “Still Remains” estourou na internet. Esperavam essa repercussão toda?

GF: Não esperávamos mesmo. Foi nossa primeira gravação profissional e deu muito trabalho pra chegar naquela qualidade sem contar com o aporte financeiro de um selo ou gravadora. Hoje em dia, é possível gravar um belo disco dentro de casa, com os recursos certos, obviamente.
A tecnologia evoluiu muito, é uma delícia (risos). Mas em 2007, produzir um EP de rock sem esse aporte que eu mencionei, sem grana pra gastar com horas e horas de estúdio, era uma tarefa hercúlea. Então, quando a gente recebeu esse retorno super positivo foi maravilhoso! E foi também uma resposta pra gente, de que estávamos no caminho certo.
Antes do EP Black Days, a gente tentou gravar com outras pessoas produzindo, mas não rolava um entendimento básico de coisas como o timbre de guitarra que a gente procurava, ou como a gente queria que o baixo soasse na mix, etc.
Chegamos a descartar um álbum inteiro gravado em entre 2002 e 2004 pq não soava exatamente como a gente queria. Então, esse primeiro EP foi o resultado da nossa decisão de gravar e produzir nosso próprio material.
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UV: O único álbum completo de vocês é “Waterskies”, de 2011. Teremos novidades em breve?

GF: Temos mais algumas músicas gravadas pra lançar, mas ainda faltam detalhes de produção que foram atrasados/adiados por causa da quarentena. Ano que vem o Waterskies completa 10 anos. Espero que a gente consiga fazer um show comemorativo pra celebrar com a família, amigos e fãs.
Da maneira que operamos hoje em dia e principalmente da forma que o mercado funciona, não sei se vamos lançar outro álbum full lenght tão cedo. Acho que, para a nossa realidade, faz mais sentido lançar EPs ou singles, como a gente tem feito.
Mas eu adoraria surgir com um disco novo e, para ser sincero, material não falta. Por ora, convido todos a darem uma ouvida no nosso single mais recente, “Passion Long Gone”, disponível em todas as plataformas de streaming!

UV: Após o lançamento do álbum completo, a banda entrou em um hiato e só voltou a lançar um single em 2017, com “Split Life Crisis”. O que houve nesse meio tempo?

GF: Imediatamente após o o lançamento do “Waterskies”, saímos em turnê, voltamos para algumas cidades onde já havíamos tocado antes como BH e Sampa e estivemos em outras pela primeira vez, como Salvador onde tocamos no Palco do Rock, em pleno carnaval pra umas 10, 15 mil pessoas e Vitória, no Espírito Santo.
Um pouco depois disso, nosso batera teve alguns problemas de saúde e acabou saindo da banda. Isso encurtou a turnê e, como estávamos naquele ciclo de tocar praticamente as mesmas músicas desde 2009, fizemos a escolha de partir para as próximas, iniciar um novo ciclo.
Encerramos a turnê com um show acústico na Fnac do Barra Shopping, com nosso amigo Rodrigo Konder na batera. E esse acabou sendo também o último show do Leo na banda. Decidimos que não escolheríamos outro guitarrista, Alex ficaria com essa função, quando necessário.
As composições que começaram a surgir na época também refletiam essa sonoridade mais voltada para um quarteto, sem tanta necessidade de uma segunda guitarra. Então, todos esses fatores levaram a gente pra esse hiato.
Fil é produtor, se concentrou mais no trabalho com dezenas de artistas que ele recebe em seu estúdio (Fil Buc Produções), eu e Alex demos atenção a outros projetos pessoais e musicais, etc.
Na real, a gente vinha em uma batida forte de trabalho direto, focado no Riverdies desde 2001, 2002. Então foi importante dar essa pausa, essa respirada. E foi em um dos projetos nesse período que eu conheci o batera Rafael Glaychman, que se tornou um grande amigo e que toca com a gente atualmente.

Rafael Glaychman, o baterista da banda Riverdies (Foto: Marcelo Martins)

Rafael Glaychman, o baterista da banda Riverdies (Foto: Marcelo Martins)

UV: Muitas das bandas e artistas que os influenciaram surgiram nos anos 90, há quase 30 anos. Como vocês enxergam o rock atual?

GF: Eu acho que o rock está bem, apesar de tudo. Não temos mais MTV ou rádio, mas acho que as pessoas tem mais acesso ao que elas querem ouvir.
E aí, se apresentam dois fatores: o grande artista vai ter seu público um pouco mais pulverizado/dividido; esse público pode ter acesso e curtir vários outros artistas com uma penetração bem menor que a dele. E se divertir tanto quanto.
E esse “pequeno” artista pode ter seu trabalho conhecido por mais pessoas do que conseguiria pelos antigos meios tradicionais. O YouTube, Instagram e os streamings têm esse lado democrático que é bem legal.
Nós crescemos ouvindo esses artistas dos anos 90, mas nossa gama de influências é bem mais abrangente do que isso e eu não tenho um pingo de saudosismo, gosto de novas tecnologias, de conhecer artistas novos. Sempre que posso, incentivo todos a conhecerem também e saírem das mesmas bandas que ouvem sempre (risos).
Numa perspectiva mais filosófica, isso é essencial pra música, pra arte seguir existindo. Nada me inspira mais pra sentar e compor uma nova canção do que assistir um filme incrível ou descobrir uma nova banda ou artista e me apaixonar por ela.

Conheça o trabalho da banda Riverdies

Então, com o rock mais vivo do que nunca, a banda Riverdies promete atravessar gerações entre o antigo e o novo, sem rótulos ou preconceitos.
Enfim, se você ainda não conhece o grande trabalho do quarteto, confira abaixo as redes sociais e os serviços de música nos quais eles se encontram.

Spotify

iTunes

YouTube

Instagram

Facebook

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Quer aparecer aqui também?

Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Corrente do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!
Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho.
Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail wilson@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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