CRÍTICA | ‘She-Ra e as Princesas do Poder’ é uma grata surpresa pela narrativa inocente e criativa

Leandro Stenlånd

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15 de novembro de 2018

O século XXI é realmente a época das grandes heroínas, as famosas “Girl Power”. Uma grande revolução no gênero, de várias formas, foi She-Ra. Apesar de Super Amigos ter mostrado Mulher-Maravilha e todo seu poderio bélico na década de 70, sabemos que She-Ra foi o pontapé para dar início às animações onde mulheres tudo podiam na mesma proporção que os homens, ou até mais. Enquanto He-Man sofria e gemia para levantar um tanque, por exemplo, She-Ra levantava tudo com simples facilidade. Essa era a prova real de que as mulheres podiam e podem muito mais.

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Etérnia é um mundo vibrante com cores brilhantes, rico em encantamento e magia e que foi mergulhado no caos quando os invasores da Horda chegaram com suas máquinas da destruição. Depois de muitos anos, uma capitã da Horda chamada Adora nem fazia ideia de que foi sequestrada de seus pais, que são o Rei Randor e a Rainha Marlena. Quem a sequestrou ainda bebê foi Hordak, que a levou para os caminhos do Mal. Com o poder da Espada Mágica, ela se transforma em She-Ra, a Princesa do Poder. Acompanhando de perto o horror da Horda, Adora percebe agora que eles precisam ser detidos. Antes de voltar para o lar com seus ‘amigos’ Cintilante e Arqueiro, She-Ra sente uma obrigação de liderar um dedicado grupo de guerreiros conhecido como a Grande Rebelião. Além de ser unido pelo seu amor à liberdade, independência e lealdade para com Etérnia, o grupo é determinado a continuar sua luta até recuperar seu lar das mãos da Horda do Mal.

Em um momento onde a representatividade feminina ganha ainda mais espaço, o novo visual da princesa guerreira deve incomodar, principalmente ao público masculino. A Netflix preocupou-se totalmente em remover aqueles detalhes ‘indecentes’ onde as roupas utilizadas pela heroína na década de 80, versão da Filmation, mostravam seios fartos, decotes e uma mini saia provocante. Agora temos o uso de um shortinho e um colete totalmente fechado que certamente não será bem quisto pelo público masculino dos dias atuais. Mas é preciso frisar que o desenho em si tem seu foco no publico infantil e infantojuvenil, logo, a opção da Netflix é a mais apropriada para a atual geração. É uma épica e atemporal jornada que celebra a amizade feminina e seu empoderamento ao invés de mostrar possíveis pormenores. O desenho apresenta o lado juvenil com os seus gostos e costumes típicos de meninas.

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A mudança no visual de She-Ra não é a única diferença da nova versão da guerreira. He-Man, irmão gêmeo da protagonista, sequer existe aqui, mas sabemos que ele está por aí em algum lugar. Sabemos que cedo ou tarde Adam vai aparecer para ajudar sua irmã, coisa bem corriqueira na versão da Filmation. Há um respeito muito grande dos produtores pela história original, mostrando que Corujito, Mantena e Geninho são importantes sim, apesar de aparecem somente como menções em imagens ao invés de personagens. Os produtores tomaram certa liberdade em enxugar também a quantidade desnecessária de heroínas e seus amigos na trama. Apesar de o foco ser voltado para She-Ra e suas relações, há uma quantidade considerável de personagens em 13 episódios.

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Sem o príncipe de Etérnia no elenco, o desenho foca totalmente em suas mulheres. No primeiro ano da animação, She-Ra e sua amiga Cintilante viajam para reunir um time de princesas para combater a legião maligna. São várias outras princesas e por este motivo o título da animação mudou um bocado em relação à versão da filmations. A versão de 1980 tinha como título She-Ra: A Princesa do Poder, enquanto agora é ‘She-Ra e as Princesas do Poder’, mostrando que não é somente a nossa heroína que terá poderes durante sua jornada. Entre os vilões, mais mulheres ganham espaço para engrandecer o naipe de mulheres contidas no seriado como Escorpina, Felina e Sombria.

Existe um elo muito grande de amizade, enquanto Adora está no submundo da Horda, a mesma tem uma amizade muito forte com Felina. É um elo que de início parece estranho, mas muito interessante de se ver. No decorrer de toda a jornada, tanto da heroína She-Ra quanto de Adora, ambas vão se encontrando a quase que todo momento para mostrar que uma amizade, independente de lados, possa existir. Há um certo ressentimento por parte de Felina em querer ser sempre a melhor, e claro, quem leva os elogios sempre é Adora. Isso vai minando a amizade e então a mesma acaba que por parte de Felina, elas duas se tornam inimigas uma da outra. Sombria, a bruxa da Horda percebe que tanto a espada quanto Felina estão minando seu controle mágico sobre Adora e então tenta remover a espada dela.

Ao todo, são apenas três homens que ganham destaque e são vistos em toda temporada: Falcão do Mar, Arqueiro e Hordak. Hordak apenas aparece para atormentar psicologicamente as vilãs, enquanto o Falcão do Mar é um baita conquistador barato e hilário. Por inúmeras vezes me peguei rindo das atrocidades cômicas que o mesmo cometia. Já o Arqueiro é aquele amigão para todas as horas, há momentos em que o mesmo é bastante sério, em outros nem tanto. Hordak quase não demonstra reações,pouco aparece e não possui apelo cômico como a primeira versão, mas tem uma baita voz, dublada por Guilherme Briggs, casando perfeitamente com o vilão.

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Um detalhe muito interessante da animação é que ela possui Início, Meio e Fim. Diferente da versão da Filmations, aqui há 13 episódios que se interligam e não há como assistir um sem ver o outro. Essa façanha foi corrigida, afinal, nunca houve uma batalha final entre She-ra e Hordak na versão da década de 80. Foram ao todo duas temporadas, somando 93 episódios produzidos entre 1985 e 1986 pela Mattel e Filmations Associates, mas que nunca houve um confronto final, muito menos uma batalha entre She-ra e o Lider da Horda (que sempre foi visto na animação representado por uma mão enorme).

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No geral, a trama é focada em defender Etérnia. O elo da amizade entre protagonistas e antagonistas se desenvolve de forma bem lenta com episódios que duram cerca de 20 minutos em média, sendo o bastante para manter qualquer um antenado. Há indícios de que essa trama esteja alinhada com o que muitos autores têm denominado como pós-modernidade. Com o sucesso da animação no passado, não demoraria muito para tentarem inovar com uma aventura que lembrasse uma espécie de supergrupo. Essa ideia é bastante eficaz, no season-finale temos várias formas de entender que She-Ra e as Princesas do Poder é quase que uma espécie de Liga da Justiça Feminina: Cada uma com seu poder e mostrando que a Supergirl (She-Ra) pode até crescer ao se transformar e ficar com quase três metros de altura, mas nada pode fazer sozinha. É necessário um grupo, uma liga, uma aliança para derrotar o vilão num embate final.

O objetivo de She-Ra a as Princesas do Poder é trazer uma história descompromissada e inocente que reúna a maior quantidade de mulheres possíveis para salvar o mundo. Essa inocência é perfeitamente representada através de jovens e crianças, elas acreditam que podem superar qualquer coisa e que não podem ser penetradas pela maldade de Hordak, pois são puras. Um dos momentos mais fortes e cativantes da narrativa é justamente este, a preparação de terreno para um universo diferente e inovador.

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She-Ra e as Princesas do Poder é uma aventura interessante e obrigatória para fãs dos Mestres do Universo. Pode não ser grandioso como deveria, mas é divertidíssimo testemunhar o surgimento de um novo universo em que essas princesas precisam se unir e lutar contra um inimigo em comum. Essa é a prova de que premissas básicas de super-heróis não se tornam ultrapassadas quando executadas da maneira certa.

::: TRAILER

https://www.youtube.com/watch?v=TNI92L1TlZk

::: FICHA TÉCNICA

Título: She-Ra and the Princesses of Power (Season 1) (Original)
Ano produção: 2018
Dirigido por: Noelle Stevenson
Estreia : 16 de Novembro de 2018 ( Mundial )
Classificação L – Livre para todos os públicos

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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