CRÍTICA #2 | ‘Jogador Nº 1’ é o retorno triunfal de Spielberg aos blockbusters

Pedro Marco

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27 de março de 2018

Em junho de 1975, um jovem cineasta de 29 anos adaptou um livro de suspense nas férias de verão americano, iniciando assim uma moda que seria chamada de Blockbuster. Dois anos depois, seu amigo George Lucas lançaria, nesta mesma época, uma ópera espacial, espalhando assim não apenas o costume de soltar estes filmes no período próximo ao meio do ano.

CRÍTICA #1 | Repleto de referências, ‘Jogador Nº 1’ honra o livro e traz Spielberg em ótima forma novamente

Já se passaram 43 anos desde a estreia de “Tubarão”, e de lá para cá, vimos uma faceta diferente de Steven Spielberg. Os dramas pesados e mais “adultos” de “Lincoln”, “Cavalo de Guerra”, “Ponte dos Espiões” e “The Post”, pareciam ter enterrado aquele espírito jovem e aventureiro que tanto assistíamos em suas obras enquanto sentados no sofá comendo pipoca. No entanto, não tardou para que nessa Semana Santa de 2018, um dos gênios mais cultuados da sétima arte ressuscitasse seu nome estampado nos cartazes de Jogador Nº 1 (Ready Player One), e voltasse a fazer aquilo que sabe melhor: divertir. Um encontro de dois nomes reconhecidos da cultura pop chega aos cinemas nesta próxima quinta-feira. Enerst Cline coescreve a adaptação de sua obra homônima, junto ao especialista de filmes de heróis Zak Penn, num roteiro que deveria ser premiado como “melhor adaptação para um filme sessão da tarde”.


 

E Spielberg retoma suas raízes de ficção científica recheada de efeitos especiais grandiosos, completando a equipe criativa do melhor filme dos anos 80 já lançado no século 21. A jornada de Wade Watts e seus amigos pela Columbus de 2044 consegue se encaixar numa trama repleta de referências e citações, de forma orgânica e construtiva. Ao contrário de inúmeras tramas que apostaram na nostalgia oitentista para moldar seu sucesso, a obras Enerst Cline traz esses artifícios como parte integrante da trama, compondo a riqueza daquele universo e a temática de seu MacGuffin.

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Indo de Minecraft a Cidadão Kane, Spielberg retoma sua mão de “filme para toda a família”, trazendo atores infanto-juvenis e uma jornada do herói básica, bem feita, porém sem grandes surpresas. Mas apenas gênios conseguem deixar instigante e prazerosa uma ideia tão simples.

Sendo uma cria dessa nostalgia oitentista, o livro de Cline é repleto de citações às obras do cineasta, que declaradamente fugiu de uma auto referência descarada. Mas não apenas a ausência de referências à ET e Indiana Jones moram na possível indignação de alguns fãs mais fervorosos do romance homônimo. A adaptação traz uma completa repaginada nos momentos, aventuras, visuais, referências (expandindo para as décadas 90 e 2000) e trazendo uma história quase inédita para a grande caçada ao easter egg do OASIS. No entanto, as bruscas alterações no roteiro colaborativo de Cline se mostraram felizes, criando não só uma segunda obra excelente, como superior ao romance futurista lançado em 2011. Um número mais limitado de cenários e um universo mais contido conseguiram levar melhor a questão dos personagens principais na busca do desafio de Halliday, e criar um contexto mais simples, porém mantendo completamente o espírito original.


 

Mas não só de elogios vive a nova obra do diretor de “Jurassic Park”. A superficial crítica ao alienamento de um mundo cibernético, que tira o foco das reais questões sociais que o mundo está passando, foram um infeliz ponto negativo de Jogador Nº 1, visto o potencial que o discurso teria em seu público alvo.

A onda de cultura “geek” e nostálgica pega carona nos sucessos de “Stranger Things” e “The Big Bang Theory”, mantendo inclusive seus equívocos, como a constante necessidade de explicar de forma artificial a origem de suas referências para atingir um público mais generalizado. Mesmo com uma duração excessiva (2h18 não tão bem distribuída), e alguns personagens mal aproveitados, a produção encerra com saldo positivo e um sorriso alegre no público quando sobem os créditos ao som de Daryl Hall. No mais, Jogador Nº 1 abre a temporada dos blockbusters de 2018 com chaves de bronze, jade e cristal. Sem grandes pontas para uma sequência, o retorno triunfal de Spielberg deve no máximo revitalizar um gênero adormecido, utilizando o mesmo saudosismo já difundido. Algumas surpresas entregues logo no pôster e pequenos erros de continuísmo podem vir a incomodar o público, mas sem dúvida não tirará do longa o posto provisório de adaptação número 1 em questão de ode à cultura de jogos e filmes de uma época não tão distante.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Ready Player One
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Eric Eason, Zak Penn
Elenco: Tye Sheridan, Olivia Cooke, Ben Mendelsohn, Simon Pegg, Mark Rylance, Hannah John-Kamen, T.J. Miller
País: Estados Unidos
Estreia: qui, 29/03/18
Duração: 140 min.
Classificação: a definir

Pedro Marco

Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito
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