CRÍTICA | ‘A Mata Negra’ é Rodrigo Aragão em sua completa essência

Cadu Costa

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19 de novembro de 2018

Rodrigo Aragão é o mais conhecido diretor brasileiro do cinema de terror atual. Suas obras fogem do lugar comum e revisitam mestres do gênero como Ruggero Deodato, George Romero e Darío Argento. Se isso não for suficiente pra você, que tal galgar seu espaço dia após dia como produtor e diretor sempre com pouca grana pra fazer filme de horror ‘gore’ ambientado no interior do Espírito Santo? Só o fato de conseguir captação de verba por edital sem ser filme de gente que mora na favela com mensagem bonita no fim já deixa claro que seus filmes entregam um algo a mais para os fãs. E isso se comprova mais uma vez com seu novo A Mata Negra.

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Sempre misturando elementos do folclore nacional com terror, o capixaba Rodrigo Aragão entrega uma história onde veremos elementos de bruxaria, intolerância religiosa, possessões demoníacas e claro, sangue, muito sangue. A história é sobre Clara (Carol Aragão, filha do diretor), uma menina que encontra o poder da magia negra no Livro Perdido de Cipriano na mata em que mora. Tudo é tranquilo até ela se apaixonar por um rapaz que morre após um assalto. Ela resolve então, utilizar o livro para revivê-lo e liberta o mal na região.

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A carreira do cineasta passa por pérolas do horror brasileiro como “Mangue Negro” (2008), “A Noite do Chupacabras” (2011), “Mar Negro” (2014), “As Fábulas Negras” (2015) e sempre foi notável o baixo orçamento dos filmes com muitas cenas recheadas a litros de ‘sangue ketchup’ e feto de ‘frango zumbi’. Mas o que tem de errado nisso? Exatamente. Nada! Porque é exatamente isto que transformou o filme de horror brasileiro num show à parte e Rodrigo Aragão num gênio entre os amantes do cinema fantástico. Aliás, podemos dizer que neste quinto filme dele, após todas as loucuras boas dos trabalhos citados, as criaturas deram uma aperfeiçoada, estão mais assustadoras e causam asco e terror.

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Foto: Elo Company / Divulgação

É evidente, no entanto, que este seja o filme menos trash de Aragão e o mais comercial. Até porque teve estreia no XIV Fantaspoa, o maior festival anual de cinema fantástico da América Latina, que ocorreu em Porto Alegre no último mês de maio, além de ter tido um trecho selecionado com duração de 10 minutos exibido no Marché du Film do Festival de Cannes 2018, um dos maiores pontos de encontro para profissionais do ramo audiovisual.

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A Mata Negra tem um roteiro simples e denso, ao mesmo tempo com diversos elementos aqui e ali, mas bem honesto no que se propõe a fazer. Temos, desde a dor da perda protagonizada por Clara, o renascimento demoníaco, uma legião de fanáticos religiosos liderados pelo pastor Francisco das Graças (papel do ‘Charles Bronson brasileiro’, Jackson Antunes), elementos mágicos e abertura dos portões do inferno. Tudo isso entremeado por muita crítica social. É ou não é filme de Rodrigo Aragão? Ou como ele mesmo diz: “que por uma hora e meia nos preocupemos com monstros mais bonitos do que os da vida real”. E como são bonitos esses demônios.

Filme visto no 3º Rio Fantastik Festival.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Rodrigo Aragão
Elenco: Jackson Antunes, Clarisse Pinheiro, Carol Aragão
Estúdio / Distribuição: Fábulas Negras Produções / Elo Company
Data de estreia: dom, 18/11/18
País: Brasil
Gênero: horror
Ano de produção: 2018
Duração: 98 minutos
Classificação: 16 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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