CRÍTICA | ‘As Quatro Irmãs’ é um docudrama sensível sobre a vida de Vera Holtz

Giovanna Landucci

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18 de outubro de 2018

Uma imersão na vida de Vera Holtz. É disso que se trata o docudrama As Quatro Irmãs, onde a atriz abre as portas de sua casa em Mongaguá para receber o público contando de maneira artística e sensorial partes de sua trajetória sem mencionar a carreira. O filme aborda aspectos de sua infância e convivência em família, com cenas de narração em off para expôr os pensamentos dela; narração em terceira pessoa para contar cenas pessoais ou de sua mãe e irmãs; e uma integração entre diversos estilos de filmagem. Evaldo Mocarzel inova no gênero, trazendo uma visão sensível para a trama, tornando-a uma narrativa pessoal e intimista.

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A água do mar mostra o tempo passando, a passagem dos pensamentos e reflexões que a atriz faz durante momentos de monólogos, com equilíbrio e sensibilidade: “Vera são todos e todas…personas que se olham…”, quase que recita a artista. Teresa, Rosa e Regina, cada uma delas é descrita em forma de personalidade como se fossem a extensão de Vera Holtz, como personas de sua própria personalidade. Regina, por exemplo, é descrita como o cartesiano dela. E assim, a nossa protagonista faz as analogias do que as personalidades de suas irmãs e de sua mãe e pai representam em sua vida. Quem é Vera? É parte de cada um de seus familiares e amigos, e ela abre as páginas desse “livro íntimo” para que você conheça muito de seus mais pensamentos. O espectador abre seu diário, onde ela revela passagens de sua infância e adolescência, compara as diferentes formas de criação entre as irmãs e mostra sua real personalidade desnuda para o público, que hoje, com muitos anos de carreira, ovaciona seus espetáculos e sua carreira artística.

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Evaldo Mocarzel elabora um paralelo entre o que seria uma atriz sem memória e faz um mergulho nas lembranças de sua vida e da formação de seu ser, de seu caráter. A renomada artista se demonstra frágil em diversos momentos e mostra o lado, muitas vezes, traumático de sua criação. As Quatro Irmãs retrata a teoria de diferenciação de Kark Gustav Yung acontecendo dentro de Vera Hotz, que, aos 63 anos, se vê diante, inclusive, de momentos de tensão ao se encontrar menstruada, como se tivesse a idade de suas lembranças retratadas na filmagem. Através dessa película, o espectador poderá se encontrar nas experiências relatadas. E isso é o mais mágico que esse longa-metragem pode trazer: algo sensorial de uma “realidade ficcional”. O sentimento que a atriz consegue fazer o espectador sentir é o de nostalgia. Uma projeção inspiradora que remete a cada um aquilo que se é.

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Foto: Aline Arruda / Divulgação

O diretor faz um filme com visão minimalista que, com poucos elementos, consegue contar uma história sensível e que traz referências do cinema italiano, pois utiliza-se de não-atores (as irmãs de Vera Holtz e coadjuvantes que são próximos à família), e também enquadramentos no estilo que Antônio Abujamra costumava fazer: simples, mas belo. As Quatro Irmãs é uma produção que vale a pena assistir em família, já que é o retrato das irmãs e suas memórias sendo palco para enxergar a si mesmo dentro de cada historia contada por elas.

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::: FICHA TÉCNICA

Direção: Evaldo Mocarzel
Elenco: Vera Holtz, Maria Teresa Holtz Soares; Rosa Cristina Holtz de Camargo Barros, Regina Maria Fraletti Holtz Galvão
Distribuição: Mostra de SP
Data de estreia: 12/18
País: Brasil
Gênero: drama, documentário
Ano de produção: 2018
Duração: 80 minutos
Classificação: a definir

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
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