CRÍTICA | ‘Climax’

Renata Teófilo

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30 de janeiro de 2019

O diretor Gaspar Noé não decepciona seus fãs em seu novo filme Climax, que estreia essa quinta dia 31/01. Quem acompanha o trabalho do diretor, sabe que seus filmes são recheados de drogas, sexo e violência explícita. Seu estilo é inconfundível, com uma fotografia pensada para incomodar e estarrecer o público.

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Climax pode ser divido em duas partes: a primeira acontece numa pista de dança pulsante, com diálogos divertidos que descambam para a comédia, e a segunda é um filme de horror psicodélico. Somos apresentados aos personagens com o depoimento de cada um deles sobre seu amor à dança, em uma tela de TV antiga, rodeada por livros e DVDs, que são uma influência clara do cineasta, e até mesmo uma pista para o que ocorrerá mais pra frente: livros de filosofia e psicodelia, e filmes de terror psicológico como “Suspiria”, do diretor Dario Argento, e “Possessão”, de Andrzej Zulawski.

Os personagens são jovens bailarinos de dança moderna que estão fazendo uma festa bem simples dentro de um salão fechado, com um DJ comandando o clima e com uma bandeira da França hasteada no alto, para nos situar. Uma legenda no começo do filme nos informa que ele é inspirado num fato que ocorreu em um inverno francês de 1996. Todos os dançarinos têm qualidades diversas em seu modo de dançar, e isso é mostrado na longa cena inicial ao som de uma música tecno vibrante, que faz o público sentir a adrenalina de uma apresentação desse tipo.

Foto: Imovision / Divulgação

Vamos conhecendo os personagens em diálogos realistas sobre os anseios e cotidianos de cada um dos jovens. Nesse grupo heterogêneo, vemos rapazes que se acham os maiores conquistadores, um que quer cuidar da irmã por achar ela inocente, a mãe coreógrafa que tem um filho pequeno que é o xodó do grupo, algumas meninas confiantes, outras desconfiadas, uma viciada em cocaína, um jovem gay descobrindo o mundo, um DJ experiente que agrega as pessoas e outros tantos que não conhecemos profundamente. A festa é regada a salgadinhos e uma sangria, mas o que mais importa é a dança. Em certo ponto do evento, a câmera capta os passos dos bailarinos de cima para baixo, como nas coreografias sincronizadas de Busby Berkeley na Metro dos anos 30, só que agora no ritmo de uma rave.

Como de costume em filmes de Gaspar Noé, os títulos do fim estão no começo e os títulos do começo aparecem no meio quando entramos na segunda parte do filme. Nessa parte, tudo vira de ponta cabeça (inclusive a câmera) quando algumas pessoas começam a se sentir mal e surge um boato de que a bebida teria sido batizada com alguma droga. De repente, o grupo começa a agir cada vez mais estranho e as pessoas vão tomando atitudes extremas fazendo com que a noite se torne um pesadelo que parece nunca acabar.

Foto: Imovision / Divulgação

Além do salão, a câmera passeia por um corredor estreito que remete aos corredores assombrados do hotel de “O Iluminado”, e, aqui, como no filme de Kubrick, esses movimentos pelo corredor vão nos fazer encontrar momentos de pura angústia e terror. A trilha sonora com batidas constantes que nunca param e os sons incidentais produzem uma atmosfera de desespero e o uso das cores fortes só ajuda na sensação de claustrofobia. O exterior coberto de neve é mostrado manchado de sangue no começo e apenas em algumas poucas vezes quando a porta é aberta de relance.

Segundo o diretor, ele estava interessado em examinar o comportamento de cada personagem e questiona se eles realmente estão drogados ou se aquilo é apenas uma histeria coletiva pelo fato de estarem confinados num ambiente opressor, já que nem todos os participantes tomaram a bebida. Ele insere frases como “Existência é uma ilusão fugaz” ou “A vida é uma impossibilidade coletiva”, que são inseridas dentro do contexto do que está acontecendo na ocasião.

Filmado em apenas 15 dias, com a maioria de atores não profissionais e um roteiro de somente cinco páginas, no meio do caos, Climax mantém sua coerência, se destacando na filmografia do cineasta, que procurava, nos últimos filmes, apenas ser provocativo. Trata-se de uma obra cinematográfica audaciosa que surpreende por se transformar em uma experiência assustadora e bem real. O convite de Noé para a audiência não poderia ser mais claro: “Bem-vindos ao meu pesadelo”.

::: TRAILER

:::: FICHA TÉCNICA

Título original: Climax
Direção: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Elenco: Sofia Boutella, Romain Guillermic, Souheila Yacoub
Distribuição: Imovision
Data de estreia: qui, 31/01/19
País: França
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 96 minutos
Classificação: 18 anos

Renata Teófilo

Nascida no dia do Natal, a paulista Renata Teófilo se formou em Rádio & TV na Universidade São Judas e é uma apaixonada por Cinema.
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