Crítica de Filme | Annabelle

Wilson Spiler

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5 de outubro de 2014

“Invocação do Mal” foi uma das maiores – e melhores – surpresas de 2013 no cinema. O terror vinha se repetindo e não trazia novidades, fazendo com que o público fã do gênero ficasse órfão de boas produções. O filme de James Wan (Sobrenatural, Jogos Mortais), que aqui aparece apenas como produtor, teve um custo considerado baixo para os padrõs norte-americanos (US$ 20 milhões), mas conseguiu ótima arrecadação (US$ 318 milhões), o que permitiu a produção de uma sequência de “The Conjuring” (no original), assim como outra película baseada em um dos personagens mais marcantes do longa: Annabelle.

Baseado em uma história real, Annabelle é inspirado nos depoimentos de uma jovem que tinha uma boneca de mesmo nome na década de 1970 (vale destacar que a peça tinha uma aparência bem diferente da apresentada no filme). A estudante alegava que a boneca de pano se movia quando ela não estava em casa e teria tentado atacar um amigo seu. Quando a brinquedo foi encontrado com sangue, o objeto “amaldiçoado” foi entregue ao casal Ed e Lorraine Warren (interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga em “A Invocação do Mal”), que juntos se dedicavam a investigar casos paranormais. Aqui, o longa mostra como o brinquedo “ganhou vida” antes de parar na mão da garota.

annabelle - original e do filme

A boneca Annabelle – à esquerda, a original; à direita, a do filme

Em 1970, Mia (Annabelle Wallis) e John (Ward Horton), que viviam a expectativa do nascimento da primeira filha, tinham uma vida normal. Frequentavam a igreja e moravam em uma cidade pacata até a chegada da já citada boneca. O brinquedo foi presenteado pelo marido à esposa, a fim de que ela completasse a feia coleção iniciada há algum tempo. Pouco depois, os vizinhos são assassinados brutalmente em sua casa e os supostos bandidos invadem também a residência do casal. Em poucos minutos a polícia chega e consegue evitar uma tragédia ainda maior. Mas já era tarde: além da gestante ter sido esfaqueada na barriga, a criminosa Annabelle Higgins havia se suicidado abraçada à boneca. A dupla de assassinos era adoradora do Diabo e tentava invocar o mal levando a alma de alguém. A partir daí, assustada, Mia pede para o marido jogar a boneca fora, já que ela havia ficado nos braços da criminosa e trazia más lembranças. John nem pestaneja e joga o objeto no lixo. Mas é claro que isso não daria certo, não é mesmo? Afinal, o brinquedo já estava possuído.

Fruto de um novo emprego de John, já com a filha nascida, o casal vai para outra cidade, até para encontrar novos ares e esquecer o ocorrido. Mas adivinha quem reaparece no meio das caixas de mudança? Pergunta difícil, não? #sóquenão. Sim, ela mesma: Annabelle. A partir daí, o mal volta a dominar a residência e tenta, de toda forma, capturar a criança a fim de conseguir uma alma.

>>> LEIA A CRÍTICA DO FILME INVOCAÇÃO DO MAL

Annabelle Higgins, a causa do nome e da maldição

Annabelle Higgins, a causa do nome e da maldição

O filme dá prosseguimento e, com ele, uma sequência de sustos de tirar o espectador da cadeira. Diferente de “Invocação do Mal”, onde a maior qualidade era o clima de tensão que perdurava durante todo o longa, Annabelle apela mais para o susto de impacto, onde misturado com efeito sonoro, sangue jorrando na tela, zoom de forma rápida no rosto da personagem e virada de tomada (aquele conhecido recurso utilizado quando o protagonista da cena vira para trás rapidamente e se depara com algo assustador), torna a produção menos incomum, digamos assim. Por diversos minutos (principalmente no momento da mudança de endereço do casal), a película torna-se mais um drama do que um terror propriamente dito e fica um pouco arrastada.

Ah, isso quer dizer que Annabelle é ruim então? Longe disso. Apesar de cair algumas vezes, como dito acima, nos sustos fáceis, o longa de John R. Leonetti (diretor de fotografia de “Invocação do Mal”) traz sim clima de tensão e momentos aterrorizantes. A cena em que o demônio aparece com aquela cabeça de carneiro (embora não seja citado o nome, provavelmente a seita se dirige ao conhecido Azazel) atrás da boneca é antológica, já registrando um novo momento inesquecível do cinema de terror. É feita aqui também uma referência clara ao clássico “O Bebê de Rosemary” na tomada do carrinho da criança. As atuações também são bem convicentes, o que torna as ações mais verídicas e deixa o coração do espectador a ponto de sair da boca. Além disso, a fotografia nebulosa e sempre escura também mantém o clima esfuziante. Tudo impecável. É bom destacar também que assim como sua antecessora, a película também não cai no humor involuntário, tão presente na fase ruim do gênero.

Acho que alguém se mexeu e não foi o bebê...

Acho que alguém se mexeu e não foi o bebê…

O grande pecado do filme talvez seja seu desfecho. Não cabe aqui um spoiler, mas posso dizer que a criatividade do roteirista não estava tão aflorada. Além disso, o tão esperado casal de demonólogos não aparece, apenas é citado. Mas aí até podemos perdoar, já que a história é contada antes do caso referido por Ed e Lorraine Warren em “Invocação do Mal”. Além disso, a impressão que temos ao final da exibição é que o longa original é mais impactante.

Finalizando: apesar do receio de uma produção feita com tão pouco tempo depois da anterior (cerca de um ano) e a grande chance de que seria produzida apenas como caça-níquel, Annabelle não decepciona. Está aquém da qualidade de “Invocação do Mal”, é verdade, mas ainda assim vale o ingresso e vai deixar muita gente sem dormir. É o terror voltando em grande estilo à Hollywood.

BEM NA FITA: Atuações; clima de tensão; caracterização do demônio; fotografia; muitos sustos.

QUEIMOU O FILME: Desfecho; alguma apelação para sustos fáceis; em determinado momento, o longa se torna arrastado (ainda bem que por pouco tempo).

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Terror
Direção: John R. Leonetti
Roteiro: Gary Dauberman
Elenco: Alfre Woodard, Annabelle Wallis, Brian Howe, Eric Ladin, Gabriel Bateman, Michelle Romano, Morganna May, Paige Diaz, Shiloh Nelson, Tony Amendola, Ward Horton
Produção: James Wan, Peter Safran
Fotografia: James Kniest
Montador: Tom Elkins
Trilha Sonora: Joseph Bishara
Ano: 2014
País: Estados Unidos
Cor: Colorido
Estreia: 09/10/2014 (Brasil)
Distribuidora: Warner Bros
Estúdio: Evergreen Media Group / New Line Cinema

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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