Crítica de Filme | Longe Deste Insensato Mundo

Bruno Giacobbo

|

11 de outubro de 2015

O primeiro chamariz de Longe Deste Insensato Mundo, do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, é o fato de ser uma adaptação do livro homônimo de Thomas Hardy. Trata-se de um dos mais aclamados romances da literatura inglesa, obra lida por muita gente famosa, inclusive, a autora Suzanne Collins, que teria se inspirado na protagonista, Bathsheba Everdene, para criar Katniss Everdeen, a heroína de “Jogos Vorazes”. Além disto, houve uma badalada versão cinematografia anterior, de 1967, estrelada por Julie Christie, Alan Bates, Peter Finch e Terrence Stamp. O segundo chamariz é o próprio cineasta. Criador de algumas obras-primas modernas, entre elas “Festa de Família” (1998) e “A Caça” (2012), seu nome costuma estar associado a trabalhos de qualidade indiscutível. Com estes predicados prévios, o longa-metragem era um dos lançamentos mais aguardados do ano, contudo, o resultado final ficou bem aquém da expectativa gerada.

A história se passa na Inglaterra, nos idos de 1870, e narra a saga de Bathsheba Everdene (Carey Mulligan), uma voluntariosa, letrada, mas humilde mulher do campo. À frente de seu tempo, ela não consegue se imaginar casada e por isto resiste às investidas de seu vizinho, o rústico pastor de ovelhas Gabriel Oak (Matthias Schoenaerts), apesar deste prometer toda a segurança que um casamento pode proporcionar. Um dia, a sorte decide virar para os dois. Enquanto ele perde tudo, vítima de um infortúnio, Bathsheba herda a propriedade de um tio rico. Com a balança do poder invertida, e uma mulher dando as cartas no mundo dos homens, Oak não terá outra saída senão trabalhar nas terras dela e disputar com dois rivais o coração de sua amada: William Boldwood (Michael Sheen), um fazendeiro solitário e honrado, e Francis “Frank” Troy (Tom Sturridge), um jovem e aventureiro militar.

Longe_Insensato_Meio_1

O filme começa de forma bastante promissora. A cena que retrata o infortúnio de Oak é extremamente bem dirigida e impactante. Só que, lá pelas tantas, ele derrapa em uma correria desenfreada. Não li o romance e como crítico de cinema minha função é analisar o que vejo na tela. Em maior ou menor grau, adaptações são sempre diferentes das obras originais. No entanto, é impossível não se questionar se no livro, algumas situações não são delineadas com um capricho maior. Há uma série de acontecimentos envolvendo os personagens principais, que ocorre de forma tão rápida, que acaba conferindo a todos eles uma volubilidade pouco crível. Além de, por consequência, tornar a história bastante previsível. A sensação que fica é, mais ou menos, como se a Beija-Flor de Nilópolis tivesse acabado de atravessar a Marquês de Sapucaí correndo para não estourar o tempo do desfile. O enredo? Digno do carnavalesco Joãozinho Trinta: “O triunvirato do amor na corte da rainha Vitória”.

Protagonista de dois longas que foram exibidos no Festival do Rio deste ano, o outro é francês “Transtorno“, Schoenaerts, que despontou para a fama em “Ferrugem e Osso”, ao lado de Marion Cotillard, impressiona por sua segurança em cena. Ele é bastante superior as obras em si. Assim, apesar dos problemas vistos nas duas películas, reforça seu nome na galeria dos galãs mais promissores da atualidade. Já seus companheiros de cena não vão tão bem. Sheen é um ator de imenso talento, mas aqui está acima do tom. Enquanto, Mullingan e Sturridge, visivelmente, não combinam com os seus papéis. Ela, o da mulher que arrasa corações; ele, o de um Don Juan anglo-saxão. Stamp deve estar sentindo vergonha alheia. Para não dizer que nada, além de seu ator principal, presta em Longe Deste Insensato Mundo, a deslumbrante fotografia de uma Inglaterra rural, a direção de arte e os figurinos merecem aplausos. No entanto, nem mesmo este triunvirato é suficiente para salvar o filme.

Desliguem os celulares.

(Filme assistido no 17º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro).

FICHA TÉCNICA:
Direção: Thomas Vinterberg.
Roteiro: David Nicholls.
Produção: Allon Reich e Andrew MacDonald.
Elenco: Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Michael Sheen, Tom Sturridge, Jessica Barden, Dorian Lough, Harry Peacock, Hilton McRae, Jody Halse, Juno Temple, Mark Wingett, Sam Phillips, Tilly Vosburgh e Bradley Hall.
Direção de Fotografia: Charlotte Bruus Christensen.
Direção de Arte: Tim Blake, Julia Castle e Hannah Moseley.
Duração: 119 minutos.
País: Grã-Bretanha.
Ano: 2015.

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
O que sabemos sobre Wicked Boa noite Punpun Ao Seu Lado Minha Culpa Lift: Roubo nas Alturas Patos Onde Assistir o filme Lamborghini Morgan Freeman