Crítica de Filme | O Rio nos pertence
Bruno Giacobbo
Sônia (Leandra Leal) vive no exterior, absorta em um mundo de amor com o namorado gringo. Eles não saem do pequeno apartamento em que vivem, em parte porque parecem não precisar mais do que aquilo para serem felizes, em parte porque lá fora faz um frio danado. Um dia, sua vida, seus planos de construir uma casa de praia no Pacífico Sul, são interrompidos graças à chegada de um cartão postal. Nele, uma daquelas imagens paradisíacas e uma única frase no verso: “O Rio nos pertence”. Sem entendermos, inicialmente, o motivo, aflita, assustada, ela decide voltar para o Rio, deixando os seus sonhos para trás e sem se despedir.
Com esta sinopse, O Rio nos pertence, dirigido por Ricardo Pretti e segundo capítulo da trilogia batizada de “Operação Sônia Silk”, não poderia ser mais diferente do que o seu antecessor, “O Uivo da Gaita“. Se no primeiro filme Bruno Safadi conduz o público por uma ousada experiência sensorial, com pouquíssimas palavras e onde o que menos importa é a história, aqui, o diretor optou pela utilização de uma narrativa mais convencional, equilibrando na telona o que é visto e ouvido. Contudo, isto não significa falta de ousadia. A diferença é que, neste caso, ser ousado foi apostar em uma obra de gênero, o bom e velho terror psicológico com momentos de puro surrealismo.
Já no Brasil, em busca de respostas para o que a aflige, a protagonista vai atrás de um ex-namorado (Jiddu Pinheiro) e da irmã (Mariana Ximenes). Estes encontros são marcados por uma tensão e um nervosismo crescentes. O ambiente de tranquilidade amorosa, reinante nos minutos iniciais da película, não existe mais. Aos poucos, as tomadas vão ficando mais escuras e adquirindo uma sensação de claustrofobia pungente. Elementos de cena, sombras e som, em um ótimo trabalho de sinergia entre toda a equipe técnica e de forma bastante similar ao excelente “Trabalhar Cansa” (2011), ajudam a inserir o público no clima do filme e, principalmente, provocar sustos.

Deixando de lado um pouco da convencionalidade inicial, O Rio nos pertence não fornece todas as respostas. A história é de fácil entendimento, já os seus porquês nem tanto. E este é outro aspecto que contribui decisivamente para que este filme provoque calafrios: aquilo que não conhecemos é muito mais assustador, pois não nos permite estarmos prontos para o pior. O temor em relação ao desconhecido está o tempo todo estampado no rosto de Leal, em mais uma grande atuação desta atriz excepcional.
Desliguem os celulares e ótima diversão.
FICHA TÉCNICA:
Direção e roteiro: Ricardo Pretti.
Assistente de Direção: Júlia de Simone.
Elenco: Leandra Leal, Jiddu Pinheiro e Mariana Ximenes.
Produção Executiva: Rita Toledo.
Direção de Produção: Elaine Soares e Leonardo Pirovano.
Fotografia: Ivo Lopes Araújo.
Direção de Arte e Figurino: Luisa Horta.
Edição: Guto Parente e Luiz Pretti.
Som direto: Pedro Diógenes.
Desenho de Som: Bernardo Uzeda.
Mixagem: Ricardo Cutz.
Design Gráfico: Tatiana Bond.
Maquiagem: Auri Mota e Keice Jhoness.
País: Brasil.
Duração: 75 minutos.
Ano: 2013.
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.















































