CRÍTICA | ‘Rua Cloverfield, 10’: uma ponta solta no meio do caminho

Bruno Giacobbo

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5 de abril de 2016

A primeira coisa que o público precisa saber antes de ir aos cinemas assistir Rua Cloverfield, 10 é que ele nada tem a ver com o seu quase homônimo, “Cloverfield – Monstro”, exibido por aqui em 2008. Excetuando a similaridade do título e a produção de J.J. Abrams, não existe nenhuma outra semelhança. Nem mesmo o found footage, técnica onde se emula um documentário colocando uma câmera nas mãos de um dos personagens, é bisado neste longa-metragem. Na nova história, Michelle (Mary Elizabeth Winstead) é uma jovem que, após uma discussão telefônica, sai dirigindo desembestadamente pela estrada. Distraída, sofre um acidente e perde a consciência. Ao despertar, ela descobre que está presa em um bunker, vigiada de perto por Howard (John Goodman). Há, ainda, uma terceira pessoa: Emmett (John Gallagher Jr.). Do lado de fora, aparentemente, está ocorrendo uma guerra e, por segurança, eles não podem sair.

rua cloverfield 10 - 2

Como nada do que, supostamente, está acontecendo no mundo exterior é mostrado, os espectadores não têm outra alternativa além de acreditar no que é dito pelos personagens. A incerteza em relação à veracidade dos fatos, mais o ambiente claustrofóbico no qual o trio está confinado, tem o objetivo de inserir quem está vendo, satisfatoriamente, no meio de uma trama de mistério e suspense. A partir daí, o roteiro, que tem como um de seus três autores a revelação Damien Chazelle (“Whiplash: Em Busca da Perfeição”, 2015), apresenta uma série de reviravoltas que mexem com a emoção do público. É difícil ficar indiferente quando, de uma hora para outra, tudo aquilo que parecia verdade já não parece mais. Alma mater do suspense engendrado, tais viradas de texto só não são irretocáveis porque, lá pelas tantas, há um exagero em sua utilização, conferindo, assim, uma esquizofrenia narrativa ao filme dirigido pelo cineasta estreante Dan Trachtenberg.

Uma das melhores coisas desta obra é a atuação de seus protagonistas. Recentemente visto em “Trumbo – Lista Negra” (2016), Goodman entrega mais um grande trabalho. Misturando traços visíveis de psicopatia com a mágoa de um chefe de família enganado, seu personagem é complexo e assustador. Presente nos elencos de “O Chamado 2” (2005) e “À Prova de Morte” (2007), Winstead veste com perfeição a carapuça da mocinha ingênua que precisa aprender a se defender, seja de espíritos, psicopatas ou alienígenas. Aqui, eles formam uma dobradinha interessante e funcional. Rua Cloverfield, 10 faz, ainda, ótimo uso do som para acentuar situações tensas. Contudo, peca por deixar, pelo menos, uma ponta solta no meio do caminho e apelar para um desfecho óbvio. No fim, há um gancho claro para uma continuação que não necessariamente acontecerá, vide o caso dos dois primeiros filmes.

Desliguem os celulares e boa diversão.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Direção: Dan Trachtenberg
Roteiro: Damien Chazelle, Josh Campbell e Matthew Stuecken
Elenco: John Goodman, Mary Elizabeth Winstead e John Gallagher Jr
Produção: J.J. Abrams e Lindsey Weber
Fotografia: Jeff Cutter
Montador: Stefan Grube
Trilha Sonora: Bear Mccreary

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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