Crítica de Filme | Trinta

Antonio de Medeiros

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6 de outubro de 2014

O filme começa mostrando a transição de Joãosinho Trinta, de funcionário de uma repartição pública cheia de colegas preconceituosos para sua entrada no corpo de balé do Theatro Municipal. No entanto, a realização desse sonho se revela uma frustração, já que Trinta, por sua pequena estatura, não conseguia o destaque que queria.

Mais do que uma simples cinebiografia, o que interessa ao filme é contar a experiência e transformação de um artista, cuja história de vida e superação de dificuldades se assemelha com a de muitos brasileiros.

Paulo Machline, diretor do filme, realizou uma extensa pesquisa sobre a vida de Trinta. Seu contato com o carnavalesco foi muito próximo e intenso, o que gerou o documentário “A raça síntese de Joãosinho Trinta” e, posteriormente, o longa Trinta. Paulo apresenta as diversas facetas de Trinta, seu lado mais erudito e educado e o jeitão histérico e bravo quando se fazia necessário.

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trinta 1

Carnavalesco brilhando no Salgueiro

O que se nota na produção é a preponderante solidão desse personagem, algo muito comum quando falamos de personalidades geniais. Essa solidão também é muito comum nos cargos de liderança como o de carnavalesco, por exemplo. Essa pressão leva Joãosinho a ter um ataque histérico numa das cenas mais divertidas do filme, quando ele perde a paciência, xinga a Deus e o mundo e coloca ordem no barracão. Essa cena é crucial por mostrar que Trinta precisou se adequar e se firmar dentro do barracão para que fosse respeitado por todos os componentes.

Um dos destaques de Trinta é a interpretação de Matheus Nachtergaele para o carnavalesco. O ator conseguiu transformar-se em Joãosinho sem recorrer a imitações ou maquiagem. A figura do personagem está perfeitamente representada, os gestos de braço, a postura, o olhar e os conflitos internos desse personagem estão todos ali bem representados.

O filme nos permite adentrar num barracão de uma grande escola de samba e acompanhar progressivamente todas as etapas anteriores ao desfile, como a escolha do enredo, o desenho das fantasias e o surgimento dos carros alegóricos.

Joãosinho Trinta em sua época de bailarino do Theatro Municipal

Joãosinho Trinta em sua época de bailarino do Theatro Municipal

A contagem regressiva dos dias para o desfile entre as cenas funciona como um artifício interessante para que o público sinta um pouco dessa pressão por mostrar resultados e terminar de aprontar tudo até a data do desfile.

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Trinta conta com personagens reais e fictícios e a transposição de fatos ocorridos em anos diferentes do mostrado no corte temporal escolhido pelo diretor, no entanto, essas escolhas se justificam por permitirem atender a uma construção dramatúrgica escolhida pelo diretor e pelo restante da equipe de roteiristas.

O longa cumpre com o que promete, que é por meio de um corte de um período crucial da vida de Joãosinho Trinta mostrar como se deu a transformação de um bailarino do Theatro Municipal sem destaque a um dos principais carnavalescos do Brasil. Quem tiver interesse em saber mais detalhes e curiosidades sobre a produção, pode dar uma conferida na matéria sobre a coletiva de imprensa realizada durante o Festival do Rio clicando AQUI.

BEM NA FITA: Magistral interpretação de Joãosinho Trinta por Matheus Nachtergaele.

QUEIMOU O FILME: A história prescinde do personagem do pai de Joãosinho Trinta, que teve uma construção mais caricatural em relação aos outros personagens.


FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Direção: Paulo Machline
Roteiro: Cláudio Galperin, Felipe Sholl, Maurício Zacharias, Paulo Machline
Elenco: Augusto Madeira, Ernani Moraes, Fabrício Boliveira, Léa Garcia, Marco Ricca, Mariana Nunes, Matheus Nachtergaele, Milhem Cortaz, Paolla Oliveira, Paulo Tiefenthaler, Tato Gabus
Produção: Joana Mariani, Matias Mariani, Paulo Machline
Fotografia: Lito Mendes da Rocha, Oswaldo Santana
Montador: Fernando Honesko
Ano: 2014
País: Brasil
Cor: Colorido
Estreia: 13/11/2014 (Brasil)
Distribuidora: Fox Film
Estúdio: PRIMO Filmes

Antonio de Medeiros

Antonio de Medeiros apenas digita os textos entregues pela própria Patty, ou por seu sobrinho Fernandinho, em papeizinhos escritos à mão (cartõezinhos amarelados de fichamento) ou datilografados, às vezes manchados de café ou quase sempre de whiskey. Ela me fez prometer que eu não modificaria nem uma única vírgula. De modo que não me responsabilizo por sua opinião e pitacos. (Antonio De Medeiros é formado em Turismo pela UniRio. Atualmente, é funcionário público. Passou pela CAL e pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Ama Cinema, Literatura e Teatro. Sonha em ser escritor. Enquanto escreve peças e um romance, colabora para o site "Blah Cultural")
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