CRÍTICA | ‘Deixando Neverland’

Renata Teófilo

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15 de março de 2019

A HBO mostra, nesse final de semana no Brasil, o documentário Deixando Neverland (Leaving Neverland), que já foi exibido no começo do mês nos EUA e está causando grandes discussões sobre o comportamento do astro Michael Jackson. O documentário traz os depoimentos de James Safechuck e Wade Robinson, e suas respectivas famílias. Os dois rapazes, agora adultos, alegam terem começado a sofrer abusos sexuais pelo cantor quando eles tinham 10 e 7 anos respectivamente.

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Michael Jackson, como se sabe, era uma figura controversa, com muitas excentricidades e loucuras permeando toda sua carreira musical. Quando ele foi acusado de abuso contra crianças, no começo dos anos 90, o público ficou perplexo com as suspeitas, mas um acordo milionário fez com que o caso ganhasse ares de golpe por parte dos acusadores, assim como no outro processo que aconteceu em 2003 em que o cantor foi inocentado.

A primeira parte de Deixando Neverland é a mais pesada e difícil de ver. Ali conhecemos toda a história de James e Wade e seu encontro com o cantor, que os recrutou depois de ver o trabalho deles como crianças que o imitavam com destaque. Os dois praticamente contam a mesma história de como o cantor se encantou com o jeito deles e os chamou para participar de excursões e passar dias com ele, tanto em seu grandioso rancho Neverland como em algumas de suas outras casas. As mães e familiares de cada um narram os detalhes sobre como Michael se mostrava gentil e amoroso, frequentando a casa deles como se fosse um membro da família.

Foto: HBO / Divulgação

Por esses depoimentos, fica claro como o cantor ganhava a confiança dos familiares para poder deixar os meninos sozinhos com ele em seu quarto, por exemplo. As famílias se mostram totalmente deslumbradas com a vida milionária do astro e se deixam seduzir por esse estilo de vida e pelas manipulações emocionais do cantor. Michael carregava uma aura de pureza e inocência que parecia encantar todos os adultos e, segundo os rapazes, era essa mesma aura e uma fascinação desmedida que os fazia confiar nele, fazendo com que o astro conseguisse tudo o que queria, inclusive sexualmente.

James e Wade relatam que era difícil para eles, como crianças, entenderem que o que estavam passando era totalmente errado por causa de todo o amor que Michael dizia nutrir por eles. Segundo os rapazes, o cantor deixava bem claro que eles não poderiam contar a ninguém o que faziam entre portas fechadas, pois isso poderia destruir a vida de todos, além de todas as precauções e esquemas que combinava com os meninos para que eles não fossem pegos. Cada um dos rapazes ficou com o artista em anos diferentes e o documentário mostra que a cada ano, o astro escolhia um menino diferente para participar de sua vida. O mais chocante do documentário são os detalhes sórdidos que cada um dos rapazes descreve.

Foto: HBO / Divulgação

A segunda parte de Deixando Neverland lida com a juventude e a vida adulta dos acusadores, mostrando como a relação que tiveram com Michael Jackson fez com que eles não conseguissem levar uma vida plena por causa do segredo que mantinham. Depois de cada um ser trocado por outros meninos, o cantor mal se comunicava com eles e só os procurava para que os dois testemunhassem a seu favor no tribunal na época dos processos contra ele. O testemunho de Wade, inclusive, foi fator determinante para o veredito de inocência de Michael nos anos 2000. Os dois acusadores só tiveram coragem de contar o que escondiam depois que tiveram os próprios filhos e compreender o impacto que um abuso pode causar em uma criança. Como eles sempre negaram que o astro teria feito algo de errado com eles, a revelação caiu como uma bomba para suas esposas e familiares e é o que faz as pessoas duvidarem de seus novos depoimentos.

O documentário tem uma estrutura normal, apenas com entrevistas e imagens ou áudios de arquivo, e praticamente mostra apenas o lado dos acusadores. Como era de se esperar, a família Jackson se manifestou contra o filme e as acusações, e muitos fãs se recusam a acreditar nas alegações, colocando em xeque a reputação dos acusadores.

A arte de Michael Jackson é incomparável, porém, tratar artistas e celebridades em geral como criaturas divinas, sem erros e que só fazem o bem pode ser perigoso. O título do documentário Deixando Neverland pode ser entendido como um chamado para o público deixar a terra de fantasia de idolatria desmedida a pessoas que fazem arte e acordar para a realidade dura do que um ser humano é capaz de fazer. Não perca o documentário nesse final de semana na HBO e tire suas próprias conclusões.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Leaving Neverland
Direção: Dan Reed
Produção: Dan Reed
Edição: Jules Cornell
Produtora: Amos Pictures
Distribuição: HBO, Channel 4, Kew Media
Data de estreia: sáb, 16/03/19
País: Estados Unidos, Reino Unido
Gênero: documentário
Ano de produção: 2019
Duração: 236 minutos
Classificação: 18 anos

Renata Teófilo

Nascida no dia do Natal, a paulista Renata Teófilo se formou em Rádio & TV na Universidade São Judas e é uma apaixonada por Cinema.
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