Pleasure

‘Pleasure’, um relato sincero sobre a indústria pornográfica contemporânea

Jhone Silva

No filme Pleasure, a diretora Ninja Thyberg, apresenta um relato sincero sobre a indústria pornográfica contemporânea, sem medo de chocar e deixar seu público desconfortável. Através da perspectiva de Bella Cherry (Sofia Kappel), uma jovem de 20 anos que viaja da Suécia para Los Angeles para se tornar um grande nome na indústria pornô, a obra escancara ao espectador o que há de mais perturbador na indústria pornô contemporânea.

O choque e desconforto citado acima, não vêm apenas do conteúdo sexual explicitamente apresentado no filme. Por exemplo: durante a filmagem de um cena extrema, Bella implora aos três homens presentes que parem, que atendem o pedido da jovem. No entanto, durante a pausa, eles consolam a jovem dizendo que ela forte, dizendo que consegue seguir em frente, mas com um tom de ameaça. Toda essa cena é  horrível de assistir.

Com essa cena e muitos outros elementos no filme, Thyberg, brilhantemente, traz à tona uma discussão sobre o consentimento na indústria pornô. Sobre se o que foi acordado antes das filmagens, é cumprido durante a performance; como aquela profissional se sente durante seu trabalho; e o que realmente acontece quando elas tentam dizer não quando não estão desconfortáveis.

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O que é female gaze?

O termo “female gaze” (olhar feminino) surgiu no artigo “Visual Pleasure and Narrative Cinema”, escrito pela crítica de cinema e feminista britânica Laura Mulvey, que diz que as mulheres são retratadas na indústria cinematográfica como um objeto sexual para satisfazer o olhar masculino. Dessa forma, a autora explica que as mulheres sempre aparecem como algo a ser observado (papel passivo) e nunca como observador (papel e voz ativa).

Pleasure é exatamente sobre isso. O filme explora as questões patriarcais e misóginas, os desequilíbrios de poder dentro da indústria pornográfica, além de mostrar as experiências reais pelas quais as mulheres passam. Tudo isso do ponto de vista de uma mulher, a protagonista dentro da obra, e a diretora fora. Além disso, na contramão da indústria cinematográfica, principalmente a ocidental, o longa é um raro caso onde a nudez masculina é mais mostrada do que a feminina.

O sonho do oprimido é ser opressor

Em outra cena, Bella se vê contracenando com uma colega de quem não gosta. Levada pelo ódio, ela começa a passar dos limites, fazer o que fizeram com ela. Obviamente, ninguém a impede, sob o pretexto de que ambas são mulheres fortes. Logo após, a personagem se dá conta do monstro que se tornou por querer ascender em uma indústria com moldes patriarcais e opressores e revê sua ambições e comportamentos.

Em suma, Pleasure é um filme difícil de assistir. Às vezes por causa de seu conteúdo sexual explícito, mas principalmente pela forma nefasta e nojenta que muitos de seus personagens se apresentam. Mas superada essa barreira do desconforto, o longa leva seus espectadores a refletir diretamente sobre os temas importantíssimos retratados nele.

Onde assistir ao filme Pleasure?

A saber, Pleasure está disponível exclusivamente para assinantes da MUBI desde sexta-feira, 17 de junho de 2022.

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Trailer do filme Pleasure, da MUBI (2022)

Pleasure (MUBI), 2022: elenco do filme

Sofia Kappel
Zelda Morrison
Evelyn Claire
Dana DeArmond
Kendra Spade
Jason Toler
Mark Spiegler
Lucy Hart
John Strong

Ficha Técnica do filme Pleasure, da MUBI (2022)

Título original do filme: Pleasure
Direção: Ninja Thyberg
Roteiro: Ninja Thyberg e Peter Modestij
Duração: 109 minutos
País:
Gênero: Drama
Ano: 2021
Classificação Indicativa: 18 anos

Jhone Silva

Um jovem paulistano que aproveita a boemia da maior cidade brasileira, embora prefira ficar trancado em seu quarto lendo, assistindo, escutando e jogando e fazendo arte. Mas sempre com uma qualidade duvidável, é claro.

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