CRÍTICA | Embora seja o mais fraco dos candidatos ao Oscar, ‘Estrelas Além do Tempo’ é importante e cativante

Italo Goulart

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1 de fevereiro de 2017

Tratar de assuntos polêmicos, mas necessários, como racismo, machismo e qualquer outra forma de preconceito são frequentes no cinema e assim deve ser. No entanto, fazer de forma simples e leve como foi feito em Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures) é algo a ser observado com mais atenção. Sem muita abertura para debates, apesar de alguns personagens insinuarem que querem conseguir seus direitos à força, o longa tenta buscar uma forma mais racional de tratar o tema e, assim, propondo também uma forma mais branda de resolução, transformando o preconceito em admiração. Isso é uma tarefa relativamente fácil por se tratar de uma história real de três excepcionais mulheres negras que buscaram seu espaço no mundo profissional.

Baseado no livro homônimo da escritora Margot Lee Shetterly, o filme nos mostra a história de três geniais mulheres que têm que se provar a toda hora por serem do sexo feminino e negras em uma sociedade racialmente segregada e machista. A trama começa na década de 60, em meio aos temores da Guerra Fria, algo que foi tratado bem subjetivamente ao longo da película e da corrida espacial entre os EUA e URSS. Neste meio, temos Katherine Johnson (Taraji P. Henson), prodígio em matemática, que aceita seu lugar no mundo do jeito que ele é, mas que conquista os objetivos com seu talento; Dorothy Vaughn (Octavia Spencer), líder nata que busca sempre melhorar suas condições, mesmo que tenha que se por em risco às vezes; e Mary Jackson (Janelle Monáe), mulher orgulhosa com o talento necessário para ser uma excelente engenheira. Correndo contra tudo e todos, ela vai atrás da realização do seu sonho.

Junto a esse elenco cheio de mulheres poderosas, também temos Kevin Costner (Mente Criminosa, 2016), que faz o papel de chefe de Katherine em um departamento de cálculos e que nos entrega um personagem sério e comprometido com seu trabalho. E ele o faz muitíssimo bem. No mesmo cenário encontramos Jim Parsons (The Big Bang Theory), que faz um papel parecido com o seu já marcante Sheldon e que não entrega nada demais ou memorável. Kirsten Dunst (a Mary Jane da primeira trilogia do Homem-Aranha) é outra que também quase passa despercebida por interpretar uma personagem bem secundário, sem muita relevância para o longa. Os papéis de Dunst e Parsons demonstram o preconceito de forma mais nítida. Eles escancaram mais a realidade do pensamento comum e são o contrapeso das coisas que dão certo na vida das protagonistas. Mahershala Ali (Moonlight: Sob a Luz do Luar) marca presença em suas cenas e demonstra cada vez mais confiança e versatilidade em seu trabalho  dentre os personagens secundários, ele é o que mais se destaca.

O filme se desenvolve de forma espontânea, criando vários momentos alegres e engraçados, sem muitos picos de tensão. A direção e o roteiro de Theodore Melfi (Um Santo Vizinho) são limpos e claros, não tentam fazer nada de muito extraordinário. Contam uma história de forma simplista e linear, conseguindo criar um clima familiar e uma química entre as personagens principais, entregando protagonistas críveis e encantadores, mas abusa de clichês de produções que mostram alguma espécie de superação, mostrando assim um receio de fugir do “feijão com arroz”.

Os figurinos e os cenários casam bem com todo o clima e estética que a época oferece, dando maior imersão e credibilidade na história, desde as roupas usadas até as cenas filmadas nas ruas, onde podemos ver cartazes da candidatura presidencial de John F. Kennedy e carros antigos. A trilha sonora, em grande parte, é composta por excelentes toques de “Black Music” assinadas por Pharrell Williams e outras orquestradas pelo mestre Hans Zimmer.

Estrelas Além do Tempo é divertido, trata de um tema até hoje relevante e discutido, e mostra a importância dessas mulheres não só para a NASA, mas também como verdadeiras guerreiras pela luta contra a segregação e a representatividade. Provavelmente, é o mais fraco na corrida do Oscar, onde foi indicado em três categorias: Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer) e Melhor Roteiro Adaptado (Theodoro Melfi). Mas, ainda assim, entrega uma boa e cativante obra.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Hidden Figures
Direção: Theodore Melfi
Elenco: Taraji P. Henson, Octavia Spencer, Janelle Monáe, Kirsten Dunst, Kevin Costner, Glen Powell, Mahershala Ali, Jim Parsons
Distribuição: Fox
Data de estreia: qui, 02/02/17
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Classificação: livre

Italo Goulart

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