Crítica de Filme | Crimes Ocultos
Bruno Cavalcante
Baseado no primeiro livro da trilogia de Tom Rob Smith, Crimes Ocultos (Child 44), longa produzido pelo mestre Ridley Scott (Blade Runner / Alien), é de fato uma adaptação bem ousada e que chama a atenção, principalmente do governo russo, que recentemente causou polêmica ao declarar que o filme retrata os soviéticos unicamente como uma “massa sangrenta” e decretando a proibição do filme por lá. Entretanto, apesar de interessante, a película pode ter ficado bem aquém do esperado. Vamos analisar!
Crimes Ocultos já logo de cara chama a atenção devido a seu elenco de primeira, que conta com nomes como Tom Hardy (Mad Max: Estrada da Fúria), Gary Oldman (Os Infratores) e Noomi Rapace (Prometheus). Hardy e Oldman inclusive já trabalharam juntos recentemente em Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), no qual ambos interpretaram os personagens Bane e James Gordon, respectivamente.
A obra nos faz voltar ao passado, mais precisamente no início dos anos 50. Nesta época, o regime autoritário da União Soviética comandado por Stalin, estava a todo vapor. E é dentro deste clima de tensão que a trama do diretor Daniel Esponisa (Protegendo o Inimigo) acontece.

Leo Demidov (Tom Hardy) é um órfão que foi acolhido por um militar em uma época em que milhões de crianças haviam perdido seus pais devido a uma sangrenta guerra civil na Ucrânia. Anos mais tarde, Leo se consagra como líder do departamento investigativo da KGB (Comitê de Segurança do Estado), após aparecer como o grande salvador da URSS na luta contra o regime Nazista no fim da Segunda Guerra Mundial. Tudo parece ir muito bem para ele, que possui um cargo digno de inveja de seus companheiros, status, uma família que o ama e Raisa (Noomi Rapace), sua bela esposa.
As coisas então começam a mudar quando o filho de seu amigo é encontrado morto bem próximo a uma linha de trem. A morte, que notoriamente parece resultado de um assassinato, é tratada apenas como um “simples acidente” pelo governo local, já que até então a União Soviética era vista como “paraíso”, e como diziam: “não há crimes no paraíso”. A partir daí, Leo se vê intrigado com a situação e resolve investigar o caso, juntamente com sua mulher. O único problema é que seus superiores não parecem gostar muito da ideia de trazer a verdade à tona e, por causa disso, Leo e sua família passam a correr risco de vida.
Com toda a certeza a obra de Tom Rob Smith é uma história com bastante recheio, com direito a dramas pessoais e familiares, momentos históricos, governos de índole duvidosa, entre outros. No entanto, senti que a mão de Espinosa tremeu quase que literalmente no andamento da coisa.

Primeiramente notei que muitas cenas tinham uma câmera bastante tremida, com a intenção de dar um pouco mais de realidade para o momento. Entretanto, as vezes a técnica parecia exagerada demais e me sentia como se estivesse em uma montanha russa ambulante. A fotografia do longa como esperado, era bastante escura, com muitas nuances frias, típicas de filme de guerra. Já o roteiro de Richard Price se tornou muito, mas muito confuso. A verdade é que Espinosa tinha um diamante bruto nas mãos, mas que não soube lapidar da forma correta. Talvez se Ridley Scott estivesse no comando, o resultado fosse um pouco melhor.
Eram muitos detalhes a serem abordados: ambições políticas, a ameaça de um serial killer, personagens intensos e tudo isso ambientado em uma atmosfera pós-guerra. É de fato muita coisa para um filme só, tanto que nenhuma delas foi tratada de forma mais profunda, o que fez com que o filme se tornasse superficial demais, além de confuso, principalmente da metade para o final. A sensação é de que ficaram lacunas a serem preenchidas, e isso para um filme desse porte não é nada bom. Não é à toa que a crítica europeia não pareceu muito satisfeita com a película, alegando a falta de conteúdo adaptado do livro, como uma abordagem mais política, homossexualidade e principalmente o lado mais psicológico de seus personagens.
No entanto, posso facilmente destacar o belo desempenho do elenco. Tom Hardy, assim como Noomi Rapace estavam impecáveis. Eu fico impressionado com a versatilidade de Hardy como ator. O cara simplesmente se entrega em qualquer papel que ouse fazer. E neste filme não foi diferente. O seu personagem conseguiu passar de anti-herói para o mais aclamado dos mocinhos de uma forma magnífica. Já a bela Rapace mostrou que possui mais conteúdo do que eu pensava, dando um show de atuação e carga dramática em muitas cenas.

O personagem de Gary Oldman teve pouco destaque, mas conseguiu passar o recado. Já Joel Kinnaman (Noites sem Fim), talvez tenha surgido como a grande surpresa do longa. Seu personagem, apensar de também ter sido pouco explorado, brilhou nos momentos cruciais deste suspense. No mais, eu ainda posso destacar a excelente trilha sonora, que elevou o status do filme com toda a certeza.
Resumindo a obra, Crimes Ocultos, filme que poderia ser um candidato nato ao Oscar 2016, sai da corrida devido a problemas nítidos em sua condução. No entanto, a trama vale a pena por abordar um tema bastante sensível, uma realidade que talvez poucos conheçam.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Child 44
Diretor: Daniel Espinosa
Roteiro: Richard Price (cinema); Tom Rob Smith (livro)
Elenco: Tom Hardy, Gary Oldman, Noomi Rapace, Joel Kinnaman, Paddy Considine, Jason Clarke, Vicent Cassel, Charles Dance, Sam Spruell, Josef Altin, Tara Fitzgerald, Nikolaj Lie Kaas, Fares Fares, Agnieszka Grochowska, Michael Nardone.
Produção: Ridley Scott, Michael Schaefer, Greg Shapiro
Trilha sonora: Jon Ekstrand
Fotografia: Oliver Wood
Bruno Cavalcante
Meu nome é Bruno Cavalcante, sou formado em publicidade e propaganda, carioca, escorpiano, apaixonado pela vida e por cinema também. Meu gênero preferido é o terror, mas gosto e vejo de tudo um pouco.















































