CRÍTICA #1 | ‘Lady Bird: A Hora de Voar’ é tocante e agradável, mas já vimos este filme mil vezes

Bruno Giacobbo

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14 de janeiro de 2018

Com 34 anos, Greta Gerwig está na estrada há mais de uma década. Sua estreia como atriz foi em “LOL”, de 2006. Depois disto, ela trabalhou com Woody Allen, Barry Levinson e Ivan Reitman. No entanto, a grande virada de sua carreira ocorreu quando conheceu Noah Baumbach. Sob a batuta dele, ela estrelou “O Solteirão” (2010). No ano seguinte, eles começaram a namorar e, em sequência, roteirizaram juntos o fenômeno de crítica e público “Frances Ha” (2013) e o controverso “Mistress América” (2015). Desta forma, era natural que a “musa do cinema indie” logo sentisse necessidade de alçar voos próprios e dirigisse sua primeira obra solo (ela co-dirigiu um filme com Joe Swanberg, em 2008). E para os seus numerosos fãs a notícia é boa. Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird) é um filme tocante e agradável.

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O longa conta a história de Christine (Saoirse Ronan), uma adolescente de 17 anos que mora com a os pais, o irmão e a cunhada em uma pequena casa, em Sacramento, capital da Califórnia. A mãe, Marion (Laurie Metcalf), médica, trabalha em um hospital e é controladora. O pai, Larry (Tracy Letts), é empregado de uma empresa que, enfrentando grave crise, está demitindo funcionários. Ele tem medo de ser o próximo. Aluna de um colégio católico, ela quer ser chamada de “Lady Bird” e sonha em cursar uma universidade na Costa Leste, mais precisamente, em Nova Iorque. Só que seus pais preferem, até por uma questão financeira, que Lady Bird estude em uma faculdade local mesmo. A enorme distância entre o sonho e a realidade é motivo de brigas homéricas envolvendo mãe e filha. Em meio a isto tudo, a protagonista vive o desabrochar de sua vida amorosa. Seu coração bate forte pelo simpático Danny (Lucas Hedges), mas sabe-se lá o que pode acontecer ao avistar outro bonitão.

As histórias que Greta escreveu e levou para as telonas, junto com Baumbach, são sobre pessoas comuns realizando coisas comuns. O charme de Frances Há, interpretada pela própria cineasta, residia em seu jeito atrapalhado de ser. Aqui não é diferente, Christine ou Lady Bird, como vocês preferirem, poderia ser alguém próximo da gente, da nossa família. Eu tenho amigas que, nesta fase da vida, se pareciam com ela. Só aqui há algo que talvez não houvesse em Frances ou Brooke, protagonista de “Mistress América”: um componente autobiográfico. A diretora nasceu, cresceu e passou toda a sua adolescência em Sacramento. Estudou em um colégio católico e quando chegou a hora de voar se mandou para Nova Iorque. Foi lá que ela se graduou em inglês, filosofia e se embrenhou no meio artístico, enverando, assim, na nova carreira. Ela sonhou alto e realizou. E esta é a mensagem que a diretora quer passar para o público: sonhem e realizem. Agora, será que isto é suficiente para vencer um Oscar de melhor filme?

Lady Bird: A Hora de Voar é um dos filmes mais premiados da temporada. Como escrevi lá em cima, é tocante e agradável. A direção de Greta Gerwig é segura e é fácil perceber que ela tem o elenco sob controle. Direção de atores não é uma arte simples. Entretanto, outros cineastas tiveram trabalhos mais desafiadores e se saíram melhor. Em relação as atuações, Saoirse Ronan e Laurie Metcalf estão cotadas e, de fato, bem em cena. A relação conflituosa delas é um dos pontos altos da trama e o seu desfecho muito bonito. Aliás, outro destaque é o roteiro recheado de diálogos afiados e que desenvolve todos os arcos dramáticos competentemente. Contudo, apesar destes aspectos positivos, a sensação é de que falta alguma coisa. Talvez seja a incômoda impressão de que já vimos este filme mil vezes.

Desliguem os celulares e boa diversão.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Lady Bird
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 15/02/18
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 93 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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