CRÍTICA | ‘Love’, em sua 1ª temporada, desconstrói os esteriótipos da comédia romântica
Giselle Costa Rosa
O amor costuma ter um peso grande na vida das pessoas. E é tão por isso que o tema é exaustivamente explorado em uma gama filmes, séries e músicas falando sobre essa força motriz. Love, série original da Netflix, em sua primeira temporada com dez episódios, fala de forma bem ácida de como o amor permeia as nossas vidas.
Pense no casal de “Big Bang Theory” formado pelo nerd Leonard e pela descolada e bonita Penny. Agora tire as piadinhas sobre ciência e sexo, a dependência emocional de Leonard e adicione problemas psicológicos, além de baixa autoestima. Coloque também problemas com álcool, drogas, um abuso sexual infantil (sugerido), dinheiro no limite e insatisfações com a carreira escolhida. Temos o casal central de Love, Gus (Paul Rust) e Mickey (Gillian Jacobs) que se conhecem casualmente numa loja de conveniência.
Criada por Judd Apatow, nome responsável por filmes como “O Virgem de 40 anos” e “Ligeiramente Grávidos”, essa série traz à tona as frustrações não só em termos de relacionamento amoroso. Ela evidencia as dificuldades enfrentadas pela geração que hoje está na faixa dos trinta em se firmar em uma carreira, as dúvidas acerca do que se quer fazer em termos profissionais e o reflexo disso nas questões financeiras.
Apatow lançou mão de referências do mundo do entretenimento nos episódios. Todas bem provocativas e diretas, aproveitando-se que os personagens centrais exercem funções na área. Mickey é uma descolada produtora de rádio, com vários namoros no currículo. Gus é um tipo sem graça, um nerd aparentemente frágil que ganha a vida dando aulas particulares para estrelas mirins de séries de TV nos estúdios de Hollywood, que tem o hobby de tocar contra-baixo. Ambos estão recém saídos de relacionamentos fracassados.
Uma série obscura sem ser pesada, longe de ser uma comédia romântica. Tem momentos engraçados, sim, mas não da forma como estamos acostumados a ver. Quando você começar a pensar que virá um clichê, o que se segue estará longe do esperado. Trata-se de uma desconstrução da evolução de um relacionamento romântico e dos estereótipos dos protagonistas. Por isso a trama torna-se tão interessante.
Rust e Jacobs desempenham muito bem os respectivos papéis. Conseguiram modular e exteriorizar de forma eficaz, ao longo dos episódios, as nuances de seus personagens. A caracterização de roupa, cabelo, maquiagem realizada em cima deles é outro ponto que merece destaque. Um pé de apoio pra vermos a transformação, principalmente, de Mickey na história.
Em Love não espere ver casais rindo ao som de alguma baladinha indie. Muito menos se deparar com a polaridade bom/mau. Não se engane. Os personagens dessa série têm extremo potencial bélico, ou seja, podem magoar, ferir, usar o próximo sem cerimônias e noutro momento exercer toda uma benevolência novamente. Um convite à vida como ela é, com suas mazelas, hipocrisias e cicatrizes emocionais, seus conflitos internos e dilemas profissionais, adultos (com pontos de imaturidade) tentando lidar com suas inseguranças diante de um mundo inóspito.
::: TRAILER
Giselle Costa Rosa
Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.















































