CRÍTICA #2 | A mensagem subentendida de ‘Negócio das Arábias’ surpreende mais que o próprio filme

Luigi Martini

Tom Hanks estrela aqui seu mais recente longa metragem. “Negócio das Arábias” (A Hologram for the King) pode ser entendido como um filme reflexivo tanto do ponto de vista emocional do personagem quanto crítico em relação a questões político-econômicas entre EUA e Arábia Saudita.

A história tem início quando um homem de negócios falido e conturbado busca recuperar suas perdas financeiras no país berço do Islamismo apresentando ao rei um produto tecnológico para suas novas ambições construtivas. Em meio a péssimas condições de trabalho para a equipe de TI, falta de informações sobre sua tão esperada apresentação e a repetição contínua dos acontecimentos que se sucedem diariamente, a ansiedade e o mal estar do protagonista já existentes se intensificam.

Mencionando o produto audiovisual, o enredo, por sua repetição, pode se tornar exaustivo e sem rumo na primeira metade. O humor é presente apenas para aliviar a frustração e angústia vivida pelo protagonista. Por conta da trama enfatizar a dramaticidade, Tom Hanks aqui não mostra tanta empatia aos apelos cômicos, parecendo estar fora de sua zona de conforto, possuindo assim um tom mais frio do que de costume – algo que pode frustrar as expectativas dos fãs do ator. A fotografia expõe o cenário de forma bela mas não chega a ser encantadora.

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É interessante aqui o enorme choque cultural percebido desde a culinária típica à grande restrição para com as mulheres no contexto social e a supremacia masculina em tais relações. Porém, mesmo que a presença desse fato seja inegável, o foco não se dá nesse ponto mas sim nas variadas possibilidades que são construídas naquela região. Palácios colossais, a água cristalina do Mar Vermelho, arquiteturas extravagantes mesmo num típico hospital local, a grandiosidade sagrada de Meca e sua importância para aquela civilização; tudo é exposto sem o menor preconceito e provavelmente com muito trabalho do ponto de vista de produção e de negociações de exposição das imagens – visto que Meca é um local proibido para não-muçulmanos e por toda uma questão político-social latente aos norte-americanos.

Dentro dessa visão, a vida do negociante parece ter alívio não no ideal asséptico familiar, de propriedade e de consumo norte-americano mas na condução de uma vida simples descoberta por si próprio e por sua despretensão; uma catarse ofuscada pelos estereótipo globais, ideais culturais pétreos e uma visão filosófica sobre a busca da felicidade. Esse talvez seja o grande trunfo da trama: seu olhar humano em meio à uma guerra de intolerâncias. Algo bastante atual.

FICHA TÉCNICA

Título original: A hologram for the king
Distribuição: Mares/Alpha Filmes
Data de estreia:qui, 04/08/16
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 98 minutos
Classificação: 14 anos
Direção: Tom Tykwer
Roteiro: Tom Tykwer
Elenco: Tom Hanks, en Whishaw, Sarita Choudhury

Luigi Martini

Estudante de publicidade e futuro professor em estudos da comunicação, tecladista de uma banda alternativa em desenvolvimento e alguém que procura pensar sobre a vida e seus pertences através de filmes.

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