CRÍTICA | ‘Personal Shopper’ é uma interessante experimentação de estilos

Bruno Giacobbo

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14 de outubro de 2016

Quem bebe Grapette repete. Lembram desta frase usada nas propagandas do tradicional refrigerante de framboesa (sim, este é o sabor dele no Rio de Janeiro)? Pois bem, faz todo o sentido! Quando gostamos de alguma coisa, normalmente, costumamos repeti-la várias vezes. O mesmo acontece com uma parceria profissional. Se deu certo uma vez, por quê não tentar de novo? Aclamados pela crítica especializada e pelo público em “Acima das Nuvens” (2014), o diretor francês Oliver Assayas e a atriz norte-americana Kristen Stewart devem ter pensado desta forma ao repetirem a dobradinha em Personal Shopper, longa-metragem que recebeu recepção mista em Cannes, este ano, já que houve de tudo um pouco: vaias e aplausos. Movido por enorme curiosidade, fui assisti-lo no Festival do Rio e devo dizer que ele é bastante intrigante.

O filme conta a história Maureen (Kristen Stewart), uma jovem personal shopper. O que faz este tipo de profissional? Traduzindo, do inglês para o português, é aquela pessoa que faz compras para terceiros, pois estes não possuem tempo livre. Para exercer esta função, você precisa ter um corpo parecido com o do seu empregador, uma que vez que dentro das suas atribuições está provar as roupas e os calçados desejados. E a protagonista, aqui, trabalha para Kyra (Nora von Waldstätten), uma famosa modelo internacional. Ela não gosta muito do trabalho, mas precisa dele para ficar em Paris e se concentrar naquilo que mais lhe atormenta: fazer contato com seu irmão gêmeo, falecido há alguns meses em decorrência da uma doença coronária que também a aflige. Dotados de poderes mediúnicos, eles combinaram que quem morresse primeiro enviaria um sinal do além. Agora, ela espera que o pacto seja fielmente cumprido.

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O novo trabalho dirigido e roteirizado pelo cineasta franco é uma interessante experimentação de estilos: drama, terror e suspense. Em um primeiro momento, ele fala sobre a imobilidade de Maureen: a jovem que não pode largar o trabalho que lhe desagrada enquanto não tiver notícias do gêmeo morto. Assim, ela fica nesta encruzilhada, estática, levando uma existência sem sentido. É como se estivesse igualmente morta, só que em vida. Drama puro. O terror e o suspense dão as suas caras posteriormente. O primeiro, quando Assayas explora os dons da personagem principal. Nestas cenas, espíritos se materializam e desmaterializam com a mesma naturalidade de qualquer película assumidamente do gênero. São instantes autênticos de frio na espinha! Por sua vez, o segundo ganha evidência quando ocorre um crime e este joga nossa ‘heroína’ no centro das evidências. Algumas tomadas são de tirar o fôlego.

Talvez, a nova parceria entre o diretor e Stewart não seja tão bem sucedida quanto o primeiro trabalho da dupla. Personal Shopper não é para todos os paladares. Além da mistura de gêneros, que pode soar como esquizofrenia cinematográfica, mas funciona muitíssimo bem, o filme conta com um final aberto onde, pelo menos, uma pergunta fica sem resposta. Caberá ao público interpretar e tirar suas próprias conclusões. Contudo, dificilmente, alguém dirá que a história não é envolvente ou não segura atenção até o fim. Este mérito é inegável. Além disto, há a atuação de sua protagonista. É nítido que Assayas sabe como dirigi-la e extrair o seu melhor. Seus dramas são reais. E se estes predicados já não fossem suficientes, há ainda a repetição de outra dobradinha, esta com o fotógrafo Yorick Le Saux (Acima das Nuvens), profissional que como poucos sabe dosar a iluminação de acordo com a necessidade de cada cena.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

*(Filme visto no 18º Festival do Rio)

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Direção: Olivier Assayas
Roteiro: Olivier Assayas
Elenco: Kristen Stewart, Lars Eidinger, Sigrid Bouaziz
Figurino: Jurgen Doering
Edição: Marion Monnier
Gênero: Drama, Fantasia
Origem: França
Ano: 2016

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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