CRÍTICA | ‘Uma Loucura de Mulher’ resiste à tentação de fazer graça com piadas fáceis

Bruno Giacobbo

Primeira incursão como realizador e roteirista do produtor Marcus Ligocki Junior, que em seu currículo tem oito filmes, sendo o mais significativo “O Último Cine Drive-in” (2015), Uma Loucura de Mulher é uma comédia romântica bem diferente do que estamos acostumados a ver no cenário nacional. Se “Mato Sem Cachorro” (2013), de Pedro Amorim, flerta com as versões britânicas deste gênero cinematográfico tão popular e Bruno Gagliasso, em cena, logicamente, parece um Hugh Grant tupiniquim, aqui, a paquera é com o cinema norte-americano dos anos 50 e 60, mais precisamente com alguns dos clássicos dirigidos por Billy Wilder. Já sua protagonista, Mariana Ximenes, trajada com vestidos justos que acentuam suas curvas e uma inocência latente no rosto, vai de Marilyn Monroe a Shirley MacLaine com a velocidade do fluir da câmera.

A história é simples e, apesar desta paquera, atualíssima. Lúcia (Mariana Ximenes) sempre sonhou em ser bailarina profissional. No entanto, com a separação dos pais e uma mudança forçada para Brasília, ela se afastou de seus planos. Na Capital Federal, conheceu Gero (Bruno Garcia) e se tornou algo muito diferente do que imaginava para si: uma mulher objeto, a esposa troféu de um político em franca ascensão. No entanto, o destino lhe reservará a chance de uma reviravolta. Na noite do lançamento da pré-candidatura de Gero a um cargo público, uma confusão com o poderoso senador Waldomiro (Luis Carlos Miele) fará com que Lúcia fuja de tudo e de todos rumo à sua terra natal, o Rio de Janeiro. Lá, reencontrará seu primeiro amor e receberá a solidariedade de quem e onde menos espera.

Com a maior parte de suas tomadas cariocas filmadas dentro de um velho apartamento, não consegui deixar de pensar, o tempo todo, em “Se o Meu Apartamento Falasse”, obra de 1960 do citado Wilder. A semelhança entre o filme brasileiro e o clássico ianque está, principalmente, no entra e sai de personagens em situações cômicas. Há, ainda, a abertura em forma de desenho animado que remete “A Pantera Cor de Rosa” (1963), este de Blake Edwards. Já a conexão com a atualidade se dá através da luta de Lúcia para mudar sua vida. Em tempos de Marcela Temer e de acaloradas discussões sobre o papel da mulher nos nossos dias, este longa não poderia ter sido lançado em melhor hora. Estes aspectos, mais a carismática atuação de Ximenes e a hilária Guida Vianna, no papel de uma vizinha faladeira, são os pontos altos do filme. Porém, existem os baixos também.

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Se de alguma forma emula Wilder, Edwards e companhia, a película de Ligocki Junior deixa a desejar ao não trabalhar direito o background de determinados personagens. Pouco sabemos a respeito de alguns deles, pois entram e saem de cena do mesmíssimo jeito que o fazem no apartamento. Além disto, há ganchos mal explorados pelo roteiro. O fato da vizinha (Vianna) e do porteiro (Zéu Brito) gostarem de dançar poderia ter rendido algo mais, uma vez que a protagonista é bailarina. Nos aspectos técnicos, a crítica maior vai para a trilha sonora, e o trabalho de edição e mixagem de som. A intenção, nitidamente, era que toda esta parte sonora desempenhasse um papel chave na trama, pontuando ou acentuando passagens importantes. Não funcionou. Tanto a música, como os efeitos sonoros, são exagerados e incômodos. Fica a lição de que menos pode ser mais.

Ao colocarmos na balança todas as coisas boas e ruins de Uma Loucura de Mulher, o saldo final é positivo. Como comédia romântica provoca muito mais risos do que qualquer longa-metragem do nosso Seth Rogen Macunaíma, Leandro Hassum, e, ainda por cima, resiste bravamente à tentação de fazer graça com piadas apelativas ou escatológicas. Algo que “Mato Sem Cachorro” (2013), infelizmente, não obteve sucesso. E, se tratando de comédia nacional, esta é, por si só, uma grande vitória.

Desliguem os celulares e boa diversão.

FICHA TÉCNICA

Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 02/06/16
País: Brasil
Gênero: comédia romântica
Ano de produção: 2015
Duração: 100 minutos
Classificação: 12 anos
Direção: Marcus Ligocki Júnior
Roteiro: Angélica Lopes, Marcus Ligocki
Elenco: Mariana Ximenes, Bruno Garcia, Miá Mello

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.

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