CRÍTICA | ‘Vidro’

Paulo Cardoso Jr.

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15 de janeiro de 2019

Lembro como se fosse hoje o lançamento de “Corpo Fechado” (2000), no mesmo ano do arrasa-quarteirão “X-Men – O Filme”, onde as produções de heróis chegavam com força total. O longa era muito aguardado, já que, um ano antes, a parceria Bruce Willis e M. Night Shyamalan já havia rendido mais de US$ 650 milhões com “O Sexto Sentido”, mas ficou aquela aura de película de herói, misturado com um suspense psicológico e que, talvez, por isso não tenha dado tão certo na época. Para a sorte do diretor, “Corpo Fechado” virou um cult à cultura geek e foi analisado, visto e revisto inúmeras vezes em todo mundo. Uma sequência havia sido prometida, mas o cineasta nunca disse quando e como seria, e os fãs ficavam cada vez mais ansiosos.

Relembre:

– CRÍTICA #1 | Fragmentado
– CRÍTICA #2 | Fragmentado

Quando o assunto já estava praticamente encerrado (para os fãs), eis que, em 2016, foi lançado “Fragmentado”. E o que parece um filme louco, descobrimos nos cinco minutos finais que se tratava de uma continuação de “Corpo Fechado”. Ou seja: M. Night Shyamalan fez das duas horas de projeção uma grande apresentação de um novo personagem que seria o arqui-inimigo de David Dunn (Bruce Willis). Por isso, essa grande expectativa para o lançamento de Vidro (Glass).

É uma sequência temporal curta de “Fragmentado”, mas 15 anos após o anterior, ou seja, David Dunn (Bruce Willis) já está na estrada desse negócio de herói há muito tempo, tanto que ele já não é mais um mero segurança de estádio e agora tem sua própria firma de artigos de segurança. David leva uma vida relativamente tranquila, ao lado do seu filho Joseph Dunn (Spencer Treat Clark, o mesmo ator de “Corpo Fechado”) e, como agora é viúvo, divide seu tempo entre ser pai, empresário e justiceiro. Tudo parece ir relativamente bem até que ele tem seu maior desafio posto à prova ao encarar Kevin Wendell Crumb (James McAvoy) na forma de uma de suas personalidades conhecidas como “A Fera”. Mas o embate é interrompido pela polícia que os coloca numa clínica psiquiátrica onde está também o Sr. Vidro (Samuel L. Jackson).

Foto: Disney / Divulgação

As críticas depois da primeira exibição para a imprensa estrangeira não são muito animadoras e é perfeitamente compreensível por que Vidro não tem o mesmo ritmo dos seus antecessores e, depois dos primeiros 20 minutos de cenas externas, os outros 100 minutos ocorrem no mesmo ambiente: a clínica psiquiátrica. É aí que entra em cena a doutora Ellie Staple (Sarah Paulson), dita especialista em tratar de pessoas que se acham realmente heróis e que, de alguma forma, possuem habilidades sobre-humanas. Ela vai colocar Sr. Vidro, Kevin e David em várias sessões de terapia para provar que não existe essa coisa de herói e vai derrubando um por um dos argumentos que o trio acreditou que fosse capaz durante todos esses anos. É a luta da chamada “razão” contra o “desconhecido”.

Talvez seja por isso que não tenha sido bem recebido pela crítica estrangeira, pois Vidro é mais introspectivo. São longas conversas da psiquiatra para mostrar que o trio é louco e as melhores partes são justamente os diálogos da doutora com Kevin, porque, afinal, são 24 personalidades a serem desconstruídas.

Foto: Disney / Divulgação

O ator James McAvoy faz um trabalho brilhante. Em “Fragmentado”, as trocas de personalidades são acompanhadas de troca de figurino, mas em Vidro, por estar confinado numa clínica, as personalidades brotam com uma naturalidade que é como se estivessem realmente discutindo para externar o que pensam. “Todos” querem ser ouvidos e expressar sua opinião à doutora, e McAvoy salta de uma interpretação para outra numa facilidade que chega a assustar em alguns momentos. Os ambientes, as roupas e, algumas vezes, os cenários ganham cores diferentes que associam a um, ou outro, personagem, como roxo, azul, amarelo e rosa, ou um enquadramento que deixa o personagem com o rosto inteiro na tela, até algumas filmagens com plano inclinado. Se pudéssemos dar um “pause” no filme ficaria bem parecido a uma história em quadrinhos.

Entre mortos e feridos, Vidro cumpre a sua função e dá um desfecho à altura a cada um de seus personagens. Destaque para as explicações do Sr. Vidro para tudo que acontece com ele, Kevin e David, pois tudo se resume a “situações clássicas” dos quadrinhos, dando um toque de humor. Para os créditos após o filme, no que diz respeito ao ator James McAvoy, justiça feita com louvor! No mais, fica a reflexão: o que são heróis afinal? Pessoas com habilidades extraordinárias fazendo coisas impossíveis ou cidadãos comuns fazendo algo extraordinário? Talvez a mensagem seja de que a crença no herói inspire e sirva de exemplo para as pessoas, seja ele o Superman ou o policial que se arrisca todos dias nas ruas. Até a próxima.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Glass
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: Bruce Willis, Samuel L. Jackson, James McAvoy, Sarah Paulson
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 17/01/19
País: Estados Unidos
Gênero: suspense
Ano de produção: 2017
Duração: 132 minutos
Classificação: 14 anos

Paulo Cardoso Jr.

Jornalista formado pela PUC-RJ e Pós Graduação em "Comunicação com o Mercado" pela ESPM-RJ.
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