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A fórmula desastrosa de ‘Dolittle’: de 1928 a 2020

Victor Lages

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20 de fevereiro de 2020

A saga cinematográfica de Dr. Dolittle, o médico que conversa com os animais, é mais antiga do que se possa imaginar. Além disso, a obra conta com filmes sendo lançados desde 1928 inspirados nos contos infantis originais do inglês Hugh Lofting. Mas, curiosamente, nenhuma das 10 obras fez realmente algum sucesso de bilheteria e de crítica. Entre curtas e filmes feitos para a TV, vamos aqui destacar as semelhanças e diferenças entre as três produções que mais se destacaram no imaginário fílmico do público.

O fantástico Dr. Dolittle: o musical de 1967

Dolittle

Dirigido por Richard Fleischer, o filme “O fantástico Dr. Dolittle” acompanhava um médico (interpretado pelo vencedor do Oscar Rex Harrison) que, cansado da raça humana, se isolou em sua imensa casa de campo para tratar exclusivamente de animais, até sair em uma jornada atrás do gigante Caracol Cor-de-rosa.

Seguindo a onda dos musicais coloridos e esplendorosos, a produção que custou 17 milhões de dólares (o que era bastante na época) tinha uma estética muito similar aos clássicos “Mary Poppins” e “Minha Bela Dama”. Conseguiu ainda 9 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme (mas entra em diversas listas como um dos piores filmes a concorrer nessa categoria) e obteve a façanha de vencer em Efeitos Visuais e Canção Original.

Criticado por sua longa duração de 2 horas e meia, bem como por seu roteiro torto e sem uma história real, o tom da narrativa falha em trazer comédia (que acaba sendo sem graça) e força um romantismo e sentimentalismo que não convence hora nenhuma.

O pastelão de 1998

Mesmo com o fracasso inicial, 31 anos depois, o protagonista retorna, agora na persona de Eddie Murphy. No entanto, essa comédia de nada se assemelha ao musical anterior. Ela pega apenas o plot de um homem que conversa com os animais. Aqui nos deslocamos da Inglaterra antiga para uma Los Angeles dos anos 90 a fim de aproximar mais o público da realidade norte-americana.

O filme dirigido por Betty Thomas embarca nas comédias bobas da época, com caras e bocas do personagem principal que mais constrangem do que divertem. Ainda assim, conseguiu marcar uma série de jovens que cresceu assistindo à Sessão da Tarde da Rede Globo e lucrou mais de US$ 200 milhões ao redor do mundo (feito que não se repetiu na sua sequência desastrosa lançada em 2001).

Se fosse para eleger o filme menos pior de todos que foram lançados nesse quase século de Dolittle nos cinemas, esse seria o vencedor; o que, convenhamos, não é algo tão grande a se orgulhar.

A aventura épica de 2020

Chegando em 2020 e passando por mais três filmes que traziam a filha de Eddie Murphy como a Dra. Dolittle (e nenhum desses sendo sequer conhecido pelo grande público, pois foram lançados em um circuito muito limitado), temos outro grande ator em outro grande fiasco.

Ademais, o novo filme, que chegou aos cinemas nesta quinta-feira (20), se assemelha bastante ao musical de 1967, mas sem músicas. Agora no século dos efeitos visuais e do abuso exagerado de CGI (que não compensam o roteiro pífio), Robert Downey Jr. interpreta Dolittle. Um homem que se isola em sua casa de campo após a morte de sua esposa e precisa embarcar em uma viagem épica para salvar a Rainha Vitória da Inglaterra. Entretanto, se antes o motivo da jornada era um caracol gigante, nessa obra de Stephen Gaghan, o objetivo é conseguir um fruto especial que está numa ilha muito distante.

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Pegando o épico de 1967 e acrescentando o cômico catastrófico de 1998, Dolittle é um fracasso absoluto em tudo o que se propõe. Além disso, a atuação do protagonista beira o ridículo, o roteiro tem momentos humilhantes para o grande elenco envolvido na produção e até os efeitos visuais não convencem por completo, tendo momentos mal renderizados. Contudo, só nos restam duas perguntas a fazer:

  1. Se viemos de falhas após falhas desde 1928, porque os estúdios ainda insistem em ressuscitar essa história?
  2. A principal: o que é realmente preciso para narrar com dignidade a história do Dr. Dolittle?

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
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