Ocres de Nante banda entrevista Ultraverso

A poesia ‘marciana’ e sensível da banda Ocres de Nante

Wilson Spiler

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5 de novembro de 2021

A Ocres de Nante é uma banda que saiu há pouco tempo das “fraldas”. Afinal, em setembro, lançou seu primeiro single intitulado “Café Passado”. Composta no contexto da pandemia, a música retrata as dúvidas e medos surgidos após o fim de um relacionamento, potencializados pelo isolamento social.

Embora seja nova, a banda já começaram a fazer seus primeiros shows. Formada por Renan Andrade (voz, violão, percussão); Fabrício Teixeira (baixo elétrico, cavaquinho, percussão e backing-vocal); Helena Monahan (violino); e Rodrigo de Andrade (guitarra), o grupo promete alcançar altos patamares em breve, devido à qualidade do seu som.

Então, para falar sobre os novos rumos da carreira, o vocalista da Ocres de Nante, Renan Andrade, conversou, de forma exclusiva, com o ULTRAVERSO, num bate-papo muito legal que você pode conferir logo abaixo.

ULTRAVERSO: Acho que concordamos que Ocres de Nante é um nome diferente. De onde surgiu a ideia?

Renan Andrade (Ocres de Nante): A gente penou pra achar esse nome, viu?! (Risos) Acho que o barato dele é que causa esse impacto realmente. Teve gente que não curtiu, queria um nome mais fácil… mas a gente acredita que com o tempo, as pessoas vão acostumar com ele e até gostar. Foi assim com muita banda brasileira né?! Paralamas do Sucesso é sempre o caso que a gente cita quando conversamos sobre isso. Hoje o nome pegou, e se você falar “fui ver os Paralamas”, todo mundo já entende que é a banda. Qualquer dia as pessoas vão falar “tu vai ver os Ocres?” e todo mundo vai saber que somos nós! Pelo menos é o que a gente espera! (Risos)

‘Café Passado’ passeia por diversos gêneros e estilos musicais. Quais as principais referências musicais da Ocres de Nante?

Renan Andrade (Ocres de Nante): A gente provavelmente se encaixaria numa MPB com influências de vários outros estilos como rock, pop, jazz, samba… Mas não rola uma pretensão de qualquer síntese de gêneros no nosso som, apenas canalizamos o que compomos numa grande panela coletiva das influências de cada um de nós.

Acho que os artistas que mais escutamos são o Tom Zé, Mutantes, Raul Seixas, Caetano, Gil, Chico, Arnaldo Antunes, Sérgio Sampaio, Cássia Eller (a lista é longa). E da galera mais nova tem o Tim Bernardes, o Boogarins, Curumin, Metá Metá, Gui Amabis, Pietá, Cícero… é muita gente fazendo muito som bom!

Além desse single, ‘Deixe que Eles Saibam’, ‘Minha Poesia, Sua Concretude’ e ‘Deu no Jornal’ têm letras bem poéticas. Como a poesia influencia no trabalho da banda e quais autores vocês indicariam?

Renan Andrade (Ocres de Nante): Nós lemos bastante, de uma forma geral, e acho que isso impacta diretamente na nossa produção. Essa coisa de ter um poeta específico que influencie é mais complicado. O Fabrício gosta do estilo do Sérgio Vaz e do Paulo Leminski. A Lena assina a newsletter da Poetry Foundation, e lê um monte de poesia que eles mandam diariamente, mas não guarda o nome dos autores. Eu gosto bastante da poesia dos marginais da música popular, como Itamar Assumpção, Luiz Tatit…e gosto muito também do Drummond! “A Flor e a Náusea” é o meu poema de cabeceira.

Diante das condições atuais, vocês entregariam as poesias para os marcianos?

Renan Andrade (Ocres de Nante): Bem, na música “Deu no Jornal”, quando a gente entrega a poesia (que tá representando a arte, no geral) o planeta acaba se transformando num lugar mais fascista, né?! A ideia é que não dá mesmo pra viver sem arte, sobretudo nesse momento tenebroso que estamos atravessando… e que nem por todas as promessas de “curas” do mundo vale abrir mão da nossa expressão e criatividade. Então não, a gente não entregaria a poesia não! (risos)

O primeiro single retrata o fim de um relacionamento em meio à pandemia. O que a banda espera do futuro das relações sociais nesse contexto?

Renan Andrade (Ocres de Nante): A pandemia evidenciou muito as solidões das pessoas. Quem teve a possibilidade de fazer quarentena e quem teve a circulação afetada pela pandemia acabou muito sozinho, cercado sempre das mesmas pessoas, precisando de muito apoio e carinho. Todos nós e os nossos amigos passaram por tantos altos e baixos, depressões e desânimos (e para não dizer tragédias, né).

Nosso lado otimista espera que haja um aprendizado sobre o valor das trocas reais, do fortalecimento de um senso coletivo que nos traga uma vida de afetos e em comunidade. O lado mais pessimista percebe o quanto as pessoas estão exaustas, corroídas pela desesperança, falta de oportunidade e se afogando na virtualidade para fugir da vida.

Mas melhor pensar pelo positivo, a gente quer e vai lutar por mudanças positivas. Nós falamos e cantamos tanto sobre amor por isso, é uma forma de dar atenção às relações.

E quanto aos shows? Haverá espaço ainda para grandes eventos e aglomerações, mesmo com todos vacinados?

Renan Andrade (Ocres de Nante): Esperamos muito que sim e que seja em breve! Tocar música é uma delícia entre amigos ou para nós mesmos, mas tem uma energia muito única em tocar para um número maior de pessoas. Claro que vamos ter novos tipos de cuidados, vacinas, máscaras, álcool, testes que deverão ser mantidos ainda por um bom tempo. Mas esperamos que não rolem muitas mutações do covid, que pessoas continuem se vacinando, que a ciência possa desenvolver testes mais eficazes e baratos e com isso as aglomerações sejam possíveis. Para isso, é preciso investimento em ciência e o fim desse negacionismo horroroso e desenfreado.

Aliás, aproveitando o espaço aqui, no dia 30 de outubro* vamos nos apresentar ao vivo pela primeira vez. Vai rolar um evento pré-Viradão Cultural Suburbano lá no Planetário da Gávea, e nós somos uma das atrações! Vai ser um esquema com todo respeito às medidas sanitárias, e só entra quem estiver vacinado! Estão todos convidados, obviamente!

*Nota do ULTRAVERSO: A entrevista foi realizada antes do show, mas publicada após.

E como foi a gravação em plena pandemia? Houve algum parte do processo a distância?

Renan Andrade (Ocres de Nante): Quem gravou e produziu a gente é o nosso quarto membro/agregado da banda, o Rodrigo de Andrade. Ele tem o projeto solo dele também, o Elefante Cinza, e saca demais de música. A gente teve muitas reuniões virtuais durante a pandemia, e só se reuniu pela primeira vez em setembro do ano passado, pra gravar a nossa apresentação para o 2º Viradão Cultural Suburbano. Ficamos uma semana juntos, gravamos cinco músicas no vídeo, e depois voltamos pro isolamento.

A partir dali decidimos que era hora de dar um passo maior e gravar o primeiro single. Aí foram mais reuniões virtuais (risos) até conseguir programar tudo. A gente gravou no home studio do Rodrigo, lá em casa mesmo, e tomamos todas as medidas necessárias pra evitar alguma possível contaminação – nossa ou dos nossos familiares. No final, de tudo certo. Definitivamente, uma aventura! Uma aventura que nos rendeu um resultado muito bonito e cheio de significados para nós.

Há previsão de lançamento de novo single ou, quem sabe, um EP/álbum em breve?

Renan Andrade (Ocres de Nante): Estamos com o próximo single no forno já e temos planos de um EP mapeados também. O mais difícil é conseguirmos tempo para nos encontrarmos, definirmos arranjos, ensaiarmos tudo e por fim gravar e fazer acontecer. É impressionante o quanto a banda precisa também se dedicar pro corre do marketing. Não adianta só lançar para o mundo se não alcançarmos as pessoas, então estamos querendo circular bastante com o single, fazer shows nesse meio tempo. É um trabalho de formiguinha, mas conforme as coisas começarem a andar, nada para a gente! (risos)

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Então você é artista e acha que não tem muito espaço? Fique à vontade para divulgar seu trabalho na coluna Contra Maré do ULTRAVERSO! Não fazemos qualquer distinção de gênero, apenas que a música seja boa e feita com paixão!

Além disso, claro, o (a) cantor(a) ou a banda precisa ter algo gravado com uma qualidade razoável. Afinal, só assim conseguiremos divulgar o seu trabalho. Enfim, sem mais delongas, entre em contato pelo e-mail guilherme@ultraverso.com.br! Aquele abraço!

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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