Pacificado

‘Pacificado’ | CRÍTICA

Cadu Costa

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19 de dezembro de 2019

Pacificado. “Mais um filme de favela”, você vai dizer. “Será que só conseguimos produzir isso?”, irão perguntar. Deixem as críticas de lado e vejam como tudo pode soar melhor quando temos outras visões do mesmo tema. Não é somente um ‘filme de favela’, é uma história de pessoas para pessoas.

A trama

Vencedor da Concha de Ouro no Festival de San Sebastián, no País Basco, Espanha; eleito pelo público da 43ª Mostra de SP como o melhor filme de ficção brasileiro; e exibido no Festival do Rio 2019, Pacificado conta a história de uma família no Morro dos Prazeres, Rio de Janeiro onde um homem volta para casa após sair da prisão e tenta continuar a vida com a filha em meio à insegurança na comunidade.

A saber, o filme é dirigido pelo americano Paxton Winters. E por mais que possa soar estranho um estrangeiro falando sobre uma realidade nossa, o cineasta tem conhecimento de causa. Ele morou na comunidade do Morro dos Prazeres durante 8 anos e sua impressão do local, mesmo ingênua em alguns momentos, traz uma humanização tão sensível quanto perspicaz ao contar como o protagonista Jaca (Bukassa Kabengele, ator congolês naturalizado brasileiro) tenta se ressocializar com base apenas na família e no amor, mas sem perder a força que o construiu em volta do lugar. Ao voltar à comunidade que comandou há 14 anos, Jaca enfrenta agora o violento traficante Nelson (José Loreto, surpreendente), num misto de confronto e redenção. Bukassa Kabengele, aliás, venceu o prêmio de melhor ator no mesmo Festival de San Sebastián. Mais que merecido.

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Fuga de clichês e renovação do gênero

Pax Winters explora o tema de pobreza e tráfico de drogas fugindo sim de alguns clichês. A violência e as mortes estão lá, mas ele enriquece sua história ao abordar famílias com personalidades diversas e personagens longe dos padrões. Ao colocar mais dor e menos tiroteios, sua narrativa cai mais sobre as pessoas e menos sobre a favela em si. Aliás, essa direção, aliada à fotografia – também premiada pelo júri em San Sebastián, com a cineasta Laura Merians – dá o tom certo de verdade a uma obra que já nasce elucidativa.

O jornal espanhol “El País” relatou que Winters se aprofundou na realidade das favelas do Rio de Janeiro depois das Olimpíadas de 2016. Algumas sequências reais de operações do Bope nas comunidades foram utilizadas no filme. Pacificado também teve coprodução do diretor norte-americano Darren Aronofsky, que trabalhou, por exemplo, em Réquiem Para Um Sonho (2000) e “Cisne Negro” (2010).

Por fim, Pacificado traz uma renovação ao gênero de ‘filmes de favela’. Isso porque, ao lançar uma visão diferenciada e longe de estereótipos, descobre um olhar humanizado sobre uma realidade frente à nossa porta. Então, vale a pena você também tentar descobrir.

*FILME ASSISTIDO NO FESTIVAL DO RIO 2019.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Paxton Winters
Elenco: Bukassa Kabengele, Cassia Gil, Débora Nascimento, José Loreto
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 19/03/20
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 100 minutos
Classificação: a definir

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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