Sou Francês e Preto filme crítica

Em ‘Sou Francês e Preto’, só quem ganha é o espectador

Cadu Costa

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28 de novembro de 2020

Filmes, pinturas e estátuas são objetos iridescentes, isto é, dependendo de onde estiver ou quando são vistos, eles mudam matizes e formas, como um arco-íris. Eles podem nos fazer rir, chorar ou nos revoltar nos mesmos momentos. Além disso, não nos contam as mesmas histórias. Por isso, o filme francês Sou Francês e Preto (Tout Simplement Noir), de Jean-Pascal Zadi, não poderia ter uma definição melhor.

Visto por mais de um milhão de espectadores na França após a reabertura dos cinemas, o longa dirigido por Jean-Pascal Zadi em parceria com John Wax, tem o potencial de uma bomba. E ela não poderia ter pedido um alvo melhor do que o momento atual pulsando sob as alegações e manifestações de uma fúria em chamas pelo assassinato policial de George Floyd, assim como do caso da morte do brasileiro João Alberto no Carrefour na última semana.

A trama

Ademais, um agradecimento ao Festival Varilux de Cinema Francês, que proporcionou uma exibição online especial para imprensa. Graças a isso, podemos acompanhar Jean-Pascal Zadi interpretando a si mesmo, colocando-se como um ator malsucedido, que já tentou tudo na vida e decide organizar um grande protesto contra o racismo, em Paris. Vendo tudo como uma oportunidade de autopromoção do que propriamente pela causa, Zadi busca apoio em diversas personalidades da comunidade preta parisiense.

Sou Francês e Preto crítica filme

No entanto, nem tudo corre como o planejado e o resultado são sequência simplesmente hilárias num formato ‘mockumentary’, tão popularizado pelos filmes de Sacha Baron-Cohen. Mas ao contrário do “Borat” (2006), Sou Francês e Preto é simplesmente espetacular.

Ousado, comovente e engraçado

Político, bem como fino, ousado, comovente e incrivelmente engraçado, a produção transcende sua natureza como um filme de esboço para oferecer um retrato emocionante de uma França em plena introspecção de identidade.

Repleto de piadas contundentes, o longa de Zadi e Wax seduz com sua maneira sutil de desmontar um por um todos os clichês do racismo fingindo sucumbir a ele. Também gostamos de sua diversão dos códigos de reportagem para pintar um retrato de um homem de família cativante que também gostaria de seu lugar sob o Sol.

Por fim, Sou Francês e Preto não é somente hilário. É simplesmente revigorante ao mesmo tempo que agradável, inteligente e numa eterna zoeira com o politicamente correto. Enfim, em tempos de Vidas Negras Importam, uma comédia despojada com um humor corrosivo onde só quem ganha é o espectador.

TRAILER

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FICHA TÉCNICA

Título original: Tout Simplement Noir
Direção:
Jean-Pascal Zadi e John Wax
Elenco:
Jean-Pascal Zadi, Fary, Caroline Anglade
Distribuição: Festival Varilux
Data de estreia:
 qua, 24/11/20
País: 
França
Gênero: 
comédia
Ano de produção: 
2020
Duração: 
90 minutos
Classificação: 
a definir

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
9
Créditos Galáticos

Créditos Galáticos: 9

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