Superman – Um Herói da DC ou de James Gunn?
Pedro Marco
Quando falamos da diferença entre Marvel e DC nos quadrinhos, um aspecto bem claro é a forma com que olhamos para os heróis. Na casa das ideias, temos uma proximidade com o aspecto mundano daqueles que passam por dificuldades comuns de aluguel, términos, preconceitos… Enquanto na Distinta Concorrência, nossos heróis se equiparam aos mais nobres deuses do Olimpo.
E esse diferencial de visão acabou facilitando para que os Vingadores e seus amigos tivessem histórias mais amarradas e com consequências se espalhando em seus cotidianos, enquanto o universo da Liga da Justiça fosse mais conhecido por suas Lendas isoladas.
Novas mídias
Assim, crescia na editora uma veia mais autoral, que rapidamente seria transposta para os cinemas. Ainda hoje dificilmente conseguimos nos referir aos primeiros filmes do Batman sem citar o tom cartunesco e fantasioso de Tim Burton. Ou os mais recentes sem o realismo cruel de Christoper Nolan.
Mesmo nas levas mais recentes, enquanto o MCU se esforçava em criar um tom linear nas produções de suas fases, Zack Snyder embutia sua visão própria nos medalhões da editora. Ao mesmo tempo, histórias paralelas tinham fortes assinaturas de nomes como James Wan e Patty Jenkins. Mas isso estava para mudar, certo? Bem. Nem tanto.

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A Nova DC
Com o plano de um novo universo DC, todo pelas mãos de um único produtor chefe, e logo de cara introduzindo elementos de vários títulos, a expectativa de uma visão mais “genérica” era até óbvia. Mas pecamos em esquecer que quem assumiu o comando é um nome que até hoje não conseguiu passar sem deixar sua marca.
James Gunn começou a crescer seu nome com os roteiros das maravilhosas adaptações Live action de Scooby-Doo. Na década seguinte, ganharia de vez os corações nerds com a Trilogia Guardiões da Galáxia, o segundo filme do Esquadrão Suicida, e a série Pacificador.
Mas o que essas obras tão distintas tem tanto em comum para tornar ele um diretor autoral? E mais importante, esses pontos são suficientes para batizarmos seu novo filme de “Superman do James Gunn”? Vamos ponto a ponto.
Início sem massagem
James Gunn filma a vida como ela é. Sem introduções ensaiadas, e com universos que demonstram uma Infinita história prévia e posterior. E após fazer isto desde Seres Rastejantes até Scooby-Doo, era vez do Homem de aço.
Suprrman inicia sem precisar vermos Kripton explodir, Clark Kent conhecer Lois Lane, ou sequer descobrir a vilania de Lex Luthor. A vida está acontecendo e apenas assistimos a um recorte aleatório disso. E essa decisão faz cada vez mais falta nos cinemas.
A Trilha Sonora
Gunn nunca escondeu seu amor por músicas mais underground, e pela forma com que elas podem passar o espírito certo para determinadas cenas. Seguindo esse estilo também muito atribuído à Quentin Tarantino, Gunn fez um grande resgate histórico em músicas de diferentes décadas, ao ponto de ressignifica-las em seus filmes.
Em Superman, além dessa jogada surpreendentemente estar presente, ela é elevada ao vermos Clark Kent fã de uma banda fictícia, com letras escritas pelo próprio Gunn!
Pets
Uma das assinaturas mais nobres e corajosas de Gunn, sem dúvida é seu constante uso de animais em seus filmes. Apesar do retorno com venda de bonecos dos pets, e atrair um grande público variado, vale ressaltar a dificuldade de coordenar a atuação dos bichinhos, e casar as cenas com CGI.
Mas este não é o ponto aqui.
O ponto é que após dar vida de Scooby-Doo, Rocket Raccoon e até mesmo um homem Fuinha, Gunn nos trouxe a presença ilustre de Krypto! E isso abre espaço para em breve termos animais da Batfamília, Ch’p da Tropa dos Lanternas, e tantos outros.
Humor
Apesar de ter iniciado este artigo criticando a falta de assinaturas autorais na Marvel Studios, diretores como Favreau, Uaititi e o próprio Gunn conseguiram colocar sensos de humor bem próprios em seus filmes. E ao passar para a DC, Gunn não conseguiu segurar sua comédia tão única de quebra de expectativas e momentos vexatórios. E isso se aplica inclusive nos mais importantes momentos do Homem de Aço. Agora resta saber o quanto isso se estenderá para o restante do novo DCU, que já conta com esse humor em todas as suas primeiras obras.
Personagens desconhecidos
Surgindo de obras autorais, Gunn mostrou sua habilidade em trabalhar com personagens poucos conhecidos, desde quando introduziu Scooby-Loo na sequência dos detetives da máquina de mistério. E no gênero de heróis, quem mais encararia trabalhar com uma gangue espacial formada por um guaxinim, uma árvore, dois assassinos espaciais e um Han Solo genérico?
Já na DC, Gunn iniciou sua jornada com um novo Esquadrão Suicida recheado de nomes que somente o mais xiita dos leitores reconheceria facilmente. Mas isso acabaria ao trabalhar com o primeiro e mais conhecido herói do mundo, certo? Novamente errado.
Além de resgatar nomes como a Engenheira, Ultraman e Senhor Incrível, Gunn trouxe a participação de elementos da era de ouro que até a própria editora nunca havia resgatado (como o país Borávia).
Isso, além de uma assinatura bastante presente do diretor, traz um gostoso clima de imprevisibilidade em suas obras, onde qualquer presença é possível. E aos leitores antigos, dá o gostinho da saudosa liguinha cômica formada de heróis quase esquecidos.
Bônus: Amigo dos amigos
Além dos cinco pontos já citados, vale ressaltar também que Gunn é um Legítimo amigo dos amigos. Assim como Guel Arraes costamente trabalha com Selton Mello e Marco Nanini, e Scorsese com DiCaprio ou DeNiro, Gunn também tem sua trupe seleta que sempre marca presença em suas obras.
Para termos um parâmetro, Michael Rooker, Stephen Blackehart e o irmão do diretor, Sean Gunn, marcaram suas décimas participações na filmografia do diretor, sendo respectivamente a voz do Robô 1, Sydney Happersen e Maxwell Lord em Superman.
Isso cria uma aura única que traz um gosto nostálgico no novo filme do azulão, que não somente remete aos quadrinhos, mas todos os elementos que aprendemos a amar deste diretor grisalho.
Por fim, até onde isso é um problema? O mundo precisava de um Superman que não fosse autoral, ou uma assinatura própria aproxima ainda mais a visão humana que o herói carecia?
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Pedro Marco
Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito














































