CRÍTICA #4 | Ao tentar ser tudo de uma vez, ‘Esquadrão Suicida’ não foi nada demais

Thiago de Mello

O primeiro trailer de Esquadrão Suicida sugeria um filme mais tenso, dramático e até sombrio. Afinal, o Esquadrão é composto pelos vilões mais perigosos do mundo. Gradativamente, os materiais de divulgação começaram a abandonar esse tom mais denso. Os novos trailers e cartazes apontavam que o filme seguiria numa direção mais leve, colorida e, por que não, cartunesca. Através do marketing foi impossível determinar qual era, de fato, o tom do filme. Mas ao sair da sala de cinema, notei que o marketing não teve “culpa”. O próprio filme não parece saber bem qual é o tom que deseja ter.

Após os eventos de “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça”, Amanda Waller (Viola Davis, mais imponente do que nunca) está convencida de que é preciso se preparar para futuras batalhas contra seres além da capacidade humana. Assim, após capturar os mais perigosos vilões do mundo, Waller convence o governo americano de que esses indivíduos são a melhor e única chance de resistência a inimigos maiores. E caso qualquer coisa dê errado, não há problemas em culpá-los e sacrificá-los.

A premissa básica do Esquadrão é interessante por si só. Os vilões não estão lutando um ao lado do outro por opção, eles são obrigados. Além disso, são vilões, pessoas erráticas. E cada antagonista possui sua visão do mundo e persegue o seu próprio interesse, seja ele o caos, dinheiro, ódio, medo. São idiossincrasias interessantes que, se combinadas, resultariam em algo único. Mas não é o que acontece. Se o próprio filme não ficasse reafirmando constantemente que os personagens são vilões, você esqueceria esse detalhe. Não há vilania qualquer em nenhum deles. A não ser na Magia (Cara Delevingne) e no Coringa (Jared Leto). Até Amanda Waller é mais intimidadora e perigosa do que qualquer outro vilão.

SUICIDE SQUAD

O Esquadrão nada mais é do que um bando. O filme até tenta estabelecer a união dos indivíduos, mas falha por conta de decisões bastante discutíveis. Uma delas é a má distribuição do tempo de tela. O filme opta por focar em Rick Flag (Joel Kinnaman), um caricato soldado de elite americano, e em Floyd Lawton/Pistoleiro (Will Smith), um mercenário que ama sua filha. Ambos são personagens rasos e sem qualquer carisma, mas recebem grande parte da atenção.

Harleen Quinzel/Arlequina (Margot Robbie) é quem consegue um pouco mais de cenas, principalmente por ser o nó que prende o Coringa à trama. Há carisma na personagem, mesmo sendo mal utilizada algumas vezes. Aliás, não faz muito sentido tê-la no grupo, pois nunca fica claro qual é sua real aptidão além de uma “adorável” loucura.

Chato Santana/El Diablo (Jay Hernandez) e Waylon Jones/Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje) são personagens que quase não têm importância, a não ser em momentos bem específicos. Uma pena, pois eram papéis bastante promissores por conta de seus respectivos passados. El Diablo ainda consegue uma ótima cena, no bar, em que conta o motivo de suas recentes atitudes. Não há novidades, mas adiciona profundidade muito mais empática do que a do Pistoleiro, por exemplo. Foi o personagem que mais me interessou.

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O Coringa

Jared Leto realmente buscou entregar mais uma versão única do Coringa. E, em partes, ele consegue. O visual do Mr. J nunca me incomodou e eu estava confiante que Leto faria um bom Palhaço do Crime. O problema está na relação dele com a trama. Não há peso significante que justifique a participação no filme, a não ser para satisfazer os fãs e/ou justificar a presença da Arlequina. Ou seja, é um bom Coringa, mas sem relevância real.

Tom do filme

O tom é o outro problema fundamental do longa. O diretor e roteirista David Ayer é talentoso e não acho que ele tenha tomado as decisões que atrapalharam o desenvolvimento e a dinâmica do filme. Em março, o Bith Movies Deth afirmou que o Esquadrão Suicida passava por várias refilmagens para ficar mais engraçado e apresentar mais interações entre os personagens. O problema é que o filme ficou desconexo. Há muitas piadas no filme e uma boa parte funciona. Mas muitas delas estão fora do contexto, deixando a trama sem o senso de ameaça que deveria ter.

Esquadrão Suicida é um dos filmes mais aguardados do ano. Infelizmente, ele não correspondeu às expectativas exatamente por vontade de corresponder a todas. Ao tentar ser tudo de uma vez, acabou não sendo nada de mais. Ele está condenado a habitar o limbo dos filmes OK.


 

FICHA TÉCNICA:

Título original: Suicide Squad
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 04/08/16
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção:  2014
Duração: 130 minutos
Direção: David Ayer
Roteiro: David Ayer
Elenco: Margot Robbie, Tom Hardy, Will Smith, Jared Leto

Thiago de Mello

Jornalista amante de cinema, de rock, de cultura pop e de Bloody Mary. Além de colaborar para o Blah Cultural, é idealizador do osete.com.br.

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