CRÍTICA #2 | Com roteiro fraco e infantil, ‘Valerian e a Cidade dos Mil Planetas’ vale pelo visual

Claudio Dorigatti

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9 de agosto de 2017

Durante a produção do filme diversos rumores circularam pela internet, entretanto, um em especial me chamou muito a atenção e merece ser comentado para que ninguém entre na sala de exibição sob a influência de inverdades: Valerian e a Cidade dos Mil Panetas é baseado nos quadrinhos franceses “Valerian et Laureline” de Jean-Claude Mézières e Pierre Cristin, que foi lançado em 1967 e conta as histórias de dois agentes especiais (humanos) em suas missões pelo espaço, como agentes de um “FBI entre planetas”. Os rumores, que não são somente sobre o longa, mas também sobre os quadrinhos, é que George Lucas se baseou intensamente nessa obra pra criar nada menos do “Star Wars”. É mentira, exceto pelo fato de ser uma “aventura espacial” onde os protagonistas são um homem e uma mulher. De resto, mais nada se parece diretamente nas histórias ou nos mundos das duas obras. Portanto, esqueça que possa existir qualquer vínculo de uma obra com a outra. Isso lhe influenciaria negativamente.

CRÍTICA #1 | Rico visualmente, ‘Valerian e a Cidade dos Mil Planetas’ se perde em um roteiro pouco cativante, arrastado e confuso

Valerian e a Cidade dos Mil Panetas foi dirigido por Luc Besson (“O Quinto Elemento”, “Lucy”, “O Profissional”, “Nikita”), e é responsável também pelo roteiro do filme. Atualmente, é reconhecido como o longa mais caro da indústria do cinema francês, chegando ao custo de U$ 190 milhões. Todo esse investimento se traduziu na altíssima sofisticação da produção, que até pouco tempo era quase impensável em um filme com tantos “live action”, em idioma diferente do país de origem (o filme é em inglês), e com toda a aparência de Hollywood em ser produzido por lá.

Os quadrinhos retratavam uma ficção científica totalmente nova e original em sua época, fez enorme sucesso e acabou por influenciar muitas outras “obras intergalácticas”. Talvez esse seja o motivo do filme não parecer uma grande novidade em se tratando de “aventuras espaciais”. Antes de Valerian e a Cidade dos Mil Panetas, muitos outros diretores e escritores foram influenciados pelos quadrinhos originais e, de uma forma ou outra, trouxeram antes algumas das que seriam as primazias da saga “Valerian e Laureline”.

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Logo no início, nos é apresentada, de forma bem interessante e com uma bela trilha sonora de David Bowie, a evolução da Terra desde o início da era espacial até a época da produção.. Não é uma novidade, mas o diretor nos leva da nossa época para dentro do filme. Outro destaque é que quase todo o visual do filme é um tanto “mais colorido” que qualquer filme do gênero espacial que costumamos ver, às vezes beirando o psicodélico em algumas cenas, como logo na segunda sequência. Esse fato (aliado aos que comentarei a seguir) me transmitiu uma sensação que o público alvo seja “pré-adolescente”.

Os protagonistas “Valerian e Laureline” são dois agentes da Terra que realizam juntos missões em diversos planetas. Valerian tem a patente de major e Laureline é sargento, apesar dos atores Dane DeHaa e Cara Delavingne  terem respectivamente 31 e 24 anos de idade e na trama não haver citação quanto as idades dos personagens, talvez a maquiagem, as roupas e suas interações na história soem como aqueles adolescentes de seriados, daqueles que a gente sabe que os intérpretes não têm 15 anos de idade, mas que nos empurram os atores adultos se passando por muito mais jovens. O texto da interação entre os dois protagonistas tenta ter seus pontos cômicos, mas não é suficiente para nos fazer rir ou ao menos achar engraçado de fato. Outro ponto fraco do texto é a forma como Laureline se faz de difícil para Valerian, desde a primeira cena fica claro o contrário e como tudo vai se desenrolar entre os dois sem qualquer mistério.

Da mesma forma e sem mistério, é possível prever o grande vilão oculto da história. Surpreendente mesmo é o que ele deseja, mostrado sem muita explicação na segunda sequência do filme, e que soa ainda mais infantil pela forma em que o objeto desejado pela vilania fora criado e sua função, da forma em que se apresentam. Resumindo, é algo estranho e isso no faz até rir. Talvez, em 1967, fosse interessante e muito revolucionário dentro de uma história tal forma de vida com esse “poder” (talvez nos livros e quadrinhos fique interessante e não tão infantil), mas em uma adaptação para o cinema há que se tomar alguns cuidados para que tudo o que for apresentado seja convincente e não dependa da imaginação do espectador. Na literatura há o “benefício” da imaginação do leitor que traduz a cena e a forma de vida (no caso) para algo mais crível para si.

Em aspectos gerais é um filme com uma história simples, fácil de compreender por quase qualquer idade, sem grandes mistérios. Sobre os efeitos especiais, personagens, mundos e lugares digitais, o diretor Luc Besson quis (e conseguiu) deixar claro que se trata do filme não produzido em Hollywood com a maior quantidade e melhor qualidade nesse aspecto. Nesse quesito, tudo impressiona, até para o mal pelo excesso de cenas com os recursos digitais. E falando em personagens digitais, destaque muito interessante é a participação da cantora Rihanna, não pela importância da sua personagem na história que em Battleship foi bem melhor, mas por sua performance combinada aos recursos utilizados, a sequência vale ser conferida.

De qualquer forma Valerian e a Cidade dos Mil Planetas não tem uma história de aventura empolgante. Apesar de alguns exageros, o visual dado ao filme pelo diretor Luc Besson até ficou interessante, mais para curioso eu diria. Contudo, é perceptível também que o longa pode até ter o diretor certo, mas teve o roteirista errado (ele mesmo), com um texto beirando o infantil na concepção dos mundos, na interação dos protagonistas e na forma de vida almejada pelo vilão. É fácil imaginar o mesmo filme um pouco mais adulto e teríamos algo que poderia ser tornar até um clássico. Resumindo, é uma super produção francesa que encanta como “diversão visual” pelo excesso de bons e excelentes efeitos especiais, mas com um roteiro fraco.

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Luc Besson
Roteiro: Luc Besson
Elenco: Alain Chabat, Alexandre Nguyen, Cara Delevingne, Clive Owen, Dane DeHaan, Emilie Livingston, Ethan Hawke, John Goodman, Kris Wu, Mathieu Kassovitz, Rihanna, Rutger Hauer, Sam Spruell
Gênero: Aventura
Produção: Luc Besson
País: EUA
Ano: 2017

Claudio Dorigatti

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