CRÍTICA | ‘Black Lightning’ – 1ª e 2ª Temporadas

Leandro Stenlånd

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5 de maio de 2019

Com estreia no ano retrasado, a sérieBlack Lightningteve boa repercussão, chamando atenção para o fato de apresentar o primeiro herói ‘negro’ entre heróis na telinha. Sendo lançado até mesmo antes de Pantera Negra nos cinemas, a representatividade pode não ter sido tão gigante quanto no filme da Marvel, mas havia sua importância, afinal, quantos heróis negros estão na mídia nos dias de hoje? Sabemos que muito se cobra sobre a representatividade na cultura pop e sabemos também que pouco consumimos disso. Talvez a culpa não seja de Hollywood ou dos cartolas das séries da TV, mas nossa, por pouco ter ideia de quantos heróis negros existam por aí. Luke Cage, Pantera Negra, Tempestade, Super Choque, John Stewart (Lanterna Verde), Vixen, Falcão, Raio Negro, Estática, Manto e por aí vai. São diversos que já fizeram alguma aparição aqui e ali, mas todos sempre ‘oprimidos’ pelos seus olhos que esquivam-se de focá-los.

Com “Black Lightning” no ar, agora temos essa representatividade totalmente efetivada em um show que teve um primeiro ano considerado razoável e ao mesmo tempo medíocre. Com uma luta totalmente focada em seu primeiro vilão Tobias Wale, Jefferson Pierce, alter ego do herói, teve muita coisa a aprender com seus poderes. Vimos a narrativa de um vigilante cascudo, que fez sua escolha e aposentou sua identidade secreta há cerca de 9 anos ao ver os efeitos que sua vida dupla causaram em sua própria família e nas pessoas ao seu redor. Porém, por motivos alheios à sua vontade (uma filha obstinada em fazer justiça e seu melhor aluno sendo recrutado por uma gangue local) ele será puxado de volta à luta contra o crime, vestindo novamente o manto de Raio Negro. Neste segundo ano, a coisa não ficou muito diferente. O herói teve que aprender ainda mais com seus poderes e parentes. Agora, o mesmo tem duas filhas com poderes, sendo a Trovão a primeira a descobrir que tem super força e que pode ir muito além do que seu pai.

https://www.youtube.com/watch?v=pTvhai4EM9Q&list=PLx6PsrYY1ucMChi8qHNlXYeIBuyMbUAL0

O roteiro durante os episódios pode até ter tido momentos sérios, mas num geral já está cansando essa coisa de crise de identidade. Ao lado disso, essa coisa de que há a necessidade de esconder o rosto para proteger quem amamos também tornou-se algo um tanto quanto bobo, já que conta a rotina de um super-herói com seus aparentes 50 anos, personagem que jamais engatou com os fãs de quadrinhos e até então nem mesmo tinha sua história muito explorada. Ao que tudo indica, a série foi mais uma aposta dos cartolas da DC, em jogá-la na Netflix, e seu ‘sucesso’ está longe de ser aplaudível, já que outros títulos de super-heróis que possuem importância maior não tiveram a mesma chance de “Black Lightning“.

Muito provavelmente suas novas habilidades serão exploradas para lutar contra criminosos que aparecem pela cidade enquanto, entre 1 capítulo e outro, os ”enche linguiça” atormentam nossas vidas em breves 29 episódios encomendados pela Netflix, sendo 13 no primeiro ano e 16 no segundo. O maior erro da série talvez esteja em trilhar momentos onde temos que aprender com nossos erros. Erros esses que são os poderes de suas filhas. Todo tempo Jefferson tenta passar a imagem de que, por ser mais velho e ter seus poderes há anos, ajudando-o a combater a criminalidade, estaria sempre certo de tudo que falasse ou fizesse. É um saco essa coisa de ”pais sabem de tudo”. O pai não entende que, neste caso, para combater o crime, três cabeças pensam melhor do que uma. Fica nítido a insistência dele manter a jovem filha, interpretada por China Anne McClain, longe de qualquer zona de perigo.

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Qualquer coisa funciona assim, se não faz sucesso é cancelada e, incrivelmente, diferentemente das séries da Marvel que foram canceladas recentemente, as séries da DC continuam ganhando cada vez mais um ano de sobrevida – exceto por “Arrow” – que já tem seu cancelamento confirmado ao lado de Legends of Tomorrow. Há um certo desleixo no público “afro-nerd” em ao menos tentar abraçar o novo, e é o que acontece aqui. Afastando-se do Arrowverse, precisamos entender esta série como algo solitário e que, mesmo que haja quem assista, sempre haverá quem diga que “não há super-herói negro para representar”. Na verdade, há esse problema de preconceito, a batalha entre o negro e o branco, as divergências de pensamento onde em alguns momentos tentam mostrar que o branco que é o certo e o negro, errado. Exemplo disso é que o real vilão da série que perdura por duas temporadas é um branco, que no início da série era chamado de Albino, e do outro lado, dos heróis, temos negros a todo momento sofrendo bullying e similares.

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Ao singrar pelos episódios a costurar diversas emoções, gritos e sussurros, fica nítido uma camada da sociedade ainda tão fortemente marginalizada, excluída e silenciada. E o foco de seus diretores e produtores é justamente fazer parte da arte de um poderoso instrumento de luta contra o racismo e o machismo instalados no alicerce do seriado. Não temos somente a questão do negro, mas também há muito do que se pode tentar entender do ‘feminismo negro’ e o medo da população quanto a isso. Há sim a luta racial, mas acima de tudo,  questões de sexualidade e identidade. Somos induzidos para iniciativas que tentam, acima de tudo, prezar pelo respeito e afirmação da identidade da matriz africana, o que é bastante imperativo.

Black Lighting vai além de uma série de heróis negros. A mesma introduz reflexões sobre a importância da cultura africana, sem deixar de lado a importância de um herói, independente de cor, raça, sexo ou religião. Há também o questionamento religioso na série durante vários episódios. A questão do preconceito quanto a um cadeirante. O seriado é, acima de tudo, sobre respeito. Além de colocar os negros em uma posição de destaque, ainda consegue passar mensagens importantes sobre racismo e empoderamento feminino.

Leandro Stenlånd

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
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