CRÍTICA | ‘Chacrinha: O Velho Guerreiro’ é diversão para todas as Terezinhas do Brasil

Bruno Giacobbo

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19 de outubro de 2018

Como informa o próprio filme, em seus créditos finais, Chacrinha é até hoje um fenômeno cultural e de comunicação estudado em universidades pelo mundo afora. Aqui no Brasil, quem tem mais de 40 anos lembra, no mínimo, dos últimos programas do Velho Guerreiro, como o pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros era chamado, na Rede Globo. Eu ainda tenho estas lembranças gravadas na retina e em parcas memórias, com a consciência de que as tardes de sábado nunca mais foram as mesmas após a sua morte, em 30 de junho de 1988. Desta forma, era mais do que natural que uma superprodução dedicada a recuperar estas memórias e homenagear este ícone, driblasse qualquer polêmica, da mesma forma como ele dizia “vim para confundir, não para explicar”, e redundasse em uma superficialidade. É esta sensação que tende a acompanhar o público, no caminho para casa, assim que se encerra o longa-metragem dirigido por Andrucha Waddington.

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Com roteiro do cartunista e humorista Claudio Paiva, Chacrinha: O Velho Guerreiro mostra seu protagonista em duas fases: jovem, vivido por Eduardo Sterblitch, e bem mais maduro, com a conhecida caracterização de Stephan Nercessian. Com a exceção de uma brevíssima introdução, que mostra o comunicador brigando com Boni (Thelmo Fernandes), o poderoso diretor global, a narrativa segue o modelo clássico, linear, conduzindo os espectadores pelas mãos. E é assim que somos informados como se deu a sua chegada, nada premeditada, ao Rio de Janeiro, sobre suas primeiras chances em emissoras cariocas de rádio e até mesmo de que maneira conheceu sua futura esposa Florinda (Carla Ribas). Neste trecho da película, a superficialidade já se faz presente de forma latente. Tudo acontece açodadamente. Nada é aprofundado, a passagem de tempo não é clara e a impressão é de que Abelardo Barbosa conquistou seu lugar ao sol com alguma dificuldade, mas muito rapidamente.

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Já conhecido como Chacrinha, apelido que ganhou devido a um programa que apresentava na Rádio Fluminense, o filme procura mostrar que a vida do protagonista não era um completo mar de rosas. Ganham relevo a compulsão pelo trabalho que o fez ficar ausente de casa, as pequenas discussões com a mulher justamente por causa desta ausência que o impediu de acompanhar o crescimento dos filhos, Jorge (Rodrigo Pandolfo) e os gêmeos Leleco e Nanato (ambos vividos por Pablo Sanábio); e a relação extraconjugal com a sambista Clara Nunes (Laila Garin). No entanto, apesar do investimento nestas situações, a pegada humorística do longa fala mais alto e, no fim de tudo, a conclusão é de que esta obra não passa de uma comédia despretensiosa. Algum problema nisto? Em tese, não, uma vez que, como escrevi lá em cima, a intenção talvez fosse driblar qualquer polêmica. Só que esta alegria ululante acaba desperdiçando a chance de nos levar a conhecer melhor o homem por trás do mito.

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Esta vocação para o humor de Chacrinha: O Velho Guerreiro tem origem em duas frentes: o texto de Claudio Paiva, experiente roteirista de programas humorísticos de sucesso como “TV Pirata”, “Sai de Baixo” e “A Grande Família, e o trabalho de Stephan Nercessian. Ainda que em diversos momentos o que vemos na telona esteja mais para imitação do que para interpretação, ele é a melhor coisa de todo o filme: escrachado, arranca boas gargalhadas. Um pouquinho atrás vem a caprichada direção de arte de Rafael Targat e a bela composição de figurinos de Marcelo Pies. Tudo de muito bom gosto, estes elementos dão o devido ar de superprodução ao longa-metragem de Andrucha Waddington. Ah, antes que eu me esqueça, a participação da modelo Gianne Albertoni como a saudosa Elke Maravilha também traz algum frescor para produto final que, provavelmente, divertirá as Terezinhas espalhadas por todo o Brasil, mas decepcionará quem esperava algo mais profundo.

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Desliguem os celulares e boa diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Claudio Paiva, Julia Spadaccini, Carla Faour
Elenco: Stepan Nercessian, Eduardo Sterblitch, Gianne Albertoni, Carla Ribas, Rodrigo Pandolfo, Pablo Sanábio,
Thelmo Fernandes, Laila Garin, Antônio Grassi, Karen Junqueira, Amanda Grimaldi, Gustavo Machado
Produção: Media Bridge, Globo Filmes, Conspiração Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Apoio: Telecine, Prefeitura de Petrópolis, Lyons Club de Petrópolis, Fecomercio de Petrópolis
Data de estreia: qui, 11/10/18
País: Brasil
Gênero: biografia, drama
Ano de produção: 2018
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
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