CRÍTICA #2 | ‘La La Land’ volta à Era de Ouro de Hollywood e empolga o espectador

Italo Goulart

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19 de janeiro de 2017

Qual foi a última vez que você saiu empolgado do cinema?

Igual quando você era criança e assistia aqueles filmes de Kung-Fu que te faziam bater nos coleguinhas. Ou qualquer outro filme que fez seus olhos brilharem, seu coração acelerar e suas emoções estarem descontroladas, vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo. Essas coisas são sintomas de quem está apaixonado, e é isso que você vai sentir depois que assistir La La Land: Cantando Estações.

CRÍTICA #1 | Tudo funciona na ousada obra-prima ‘La La Land: Cantando Estações’

CRÍTICA #3 | ‘La La Land: Cantando Estações’ encanta e deixa uma bela mensagem

“Les temps sont durs pour les rêveurs” (tempos difíceis para os sonhadores), já disse Amélie no divertido e belo “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (2001) e Chazelle confirma isso no seu mais novo longa. Mia (Emma Stone), que sonha em se tornar uma atriz renomada, é uma atendente de uma lanchonete que fica dentro de um grande estúdio de cinema. Sebastian (Ryan Gosling), um pianista que sonha em ter seu próprio bar para tocar o seu tão amado Jazz.

O filme já começa de forma magistral. Aos primeiros cinco minutos, a vontade de aplaudir de pé o que vi já me deixou plenamente satisfeito, mas mal sabia eu que teria mais, muito mais. O longo plano inicial, com uma coreografia impecável, já mostrava a dimensão do que veríamos pelos próximos minutos. Numa transição suave entre o real e o imaginário, ela nos leva para dentro de uma animação cantante da Disney, o que não trazia apenas uma surpresa como uma familiaridade ímpar. E isso ocorre em meio a um engarrafamento, onde somos apresentados aos nossos protagonistas e onde acontece o primeiro, e nada amigável, contato entre eles.

Assim como em “Whiplash – Em Busca da Perfeição” (2014), o tema proposto por Damien Chazelle é a busca e a luta para realizar sonhos. Mas, dessa vez, de uma forma mesmo nociva e quase inocente, o esforço doentio para ser reconhecido que vimos no personagem de Miles Teller no filme de 2014, em La La Land: Cantando Estações temos dois artistas bons que não conseguem se alavancar simplesmente por serem bons, mostrando que a vida na “Cidade dos Sonhos” pode não ser tão fácil assim e que nem sempre a meritocracia acontece. No caso de um dos personagens, a vida só começa a dar certo quando ele sai da zona de conforto e tenta inovar, criar algo para si, e isso impulsionado pelo conselho do outro, o que gera uma perda mútua no decorrer do filme, mostrando que todo sucesso tem seu preço e que a vida não entrega nada de graça.

O esforço de Sebastian para reviver – ou fazer com que permaneça vivo – o Jazz, pode ser facilmente ligado ao mesmo que Chazelle fez para fazer um musical ser novamente relevante, mesmo que por um curto período de tempo.

Por ser um musical, esperamos que a trama se apoie nesse contexto, mas La La Land: Cantando Estações foge disso. As músicas são colocadas de forma quase cirúrgica em momentos chave da película, assim, nem a história se apoia nas músicas e nem o contrário acontece. Os dois se casam muito bem, fazendo, por vezes, você esquecer que está vendo um longa, e sim um grande e primoroso espetáculo. Cada personagem tem seu jeito intimista de ser, e, em várias ocasiões, a música e a dança é posta como um “pensar alto” com o corpo e a voz.

Sem focar demasiadamente no romance em si, a obra mostra o impacto que uma pessoa causa na vida de cada um, quando nos envolvemos em um relacionamento. Não há aquele romance esperado entre ele e ela, pois ambos são apaixonados por seus sonhos. E a química que rola entre os personagens é pouco a pouco moldada, sem nenhuma pressa, com gentileza e graça, passando por aquela implicância de adolescente à ardente paixão, até virar um amor improvável, claro que com a ajuda do destino que é imprescindível para os romances acontecerem. Um amor que se desenvolveu seguindo as estações do ano, mais fervoroso no verão e mais calmo e frio no inverno.

As referências são muitas, algumas mais explícitas, outras mais subjetivas. Conseguimos identificar pequenas coisas de grandes clássicos durante a projeção – da pequena e singela pendurada de Sebastian no poste de “Cantando na Chuva” até a longa cena do planetário de “A Bela Adormecida” (1959), ao melhor estilo Fred Astaire e Eleanor Powell.

Se você ainda tinha resistido aos encantos da pequena ruiva de olhos grandes, garanto que não escapará dessa vez. Emma Stone está lindamente apaixonante nesse que é seu melhor trabalho até agora. Se “Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)” (2014) abriu as portas para ela brilhar, dessa vez ela escancarou tudo e é uma atriz que todos vamos torcer que apareça mais vezes. Ela consegue não só fazer o papel proposto de dançar e cantar, como também se sobressair muito na sua atuação, por vezes até ofuscando seu par romântico, Ryan Gosling, que mostrou uma entrega para seu personagem, seja tocando piano, cantando e dançando. Ele não é tão bem explorado como Stone, mas faz um personagem carismático e consegue criar uma atmosfera encantadora nas cenas com ela.

Chazelle, que usou de uma mise en scène mais rígida em “Whiplash – Em Busca da Perfeição”, soube atribuir um novo valor nesse quesito em La La Land: Cantando Estações, onde tudo se encaixa, beirando a perfeição, com planos sequencias longos, às vezes com cortes quase imperceptíveis, abusando de closes e transições de cena que conduzem o espectador quase como uma dança durante toda a cena. Sem nenhuma colocação desnecessária, Chazelle expõe uma estética Parnasiana, algumas vezes contida, outras, extrapolada.

A fotografia, o cenário e o figurino dão a impressão que o filme se passa na Era de Ouro de Hollywood. Uma trama completa para nos enganar e nos levar mais adentro da história – efeito que só é perdido aos toques de celulares e o passar dos carros mais modernos. Mary Zophres, já indicada ao Oscar em 2010 pelo filme “Bravura Indômita”, é a responsável pelo figurino. O Diretor de Fotografia, Linus Sandgren (“Joy – O Nome do Sucesso”, 2015), é conhecido por suas contribuições para a Sétima Arte, já carregando em sua carreira várias indicações a prêmios e condecorações no cinema. E teve um trabalho extra em La La Land: Cantando Estações, onde a maioria das cenas foi filmada em locações reais e quase sempre com luz natural. Um longa simplista em roteiro, mas de grande complexidade em sua composição e montagem.

Novamente, Chazelle aposta no Jazz, e o ritmo contribui mais uma vez para sua ascensão. Apesar de sua aparente ingenuidade – do filme e do diretor -, a película passa longe disso e conquista o espectador a cada momento, criando uma variação de emoções e mostrando o melhor de cada envolvido na produção. Com La La Land: Cantando Estações, Damien Chazelle passa de um ser sortudo por “Whiplash – Em Busca da Perfeição” e começa a ser reconhecido como um grande diretor.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: La la Land
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 19/01/17
País: Estados Unidos
Gênero: romance
Ano de produção: 2016
Classificação: livre

Italo Goulart

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