CRÍTICA | ‘Los Silencios’, uma fábula sobre solidão e direitos humanos

Cadu Costa

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24 de novembro de 2018

A dor da perda de um ente querido é pessoal. Causa angústia, solidão, tristeza, medo ou alegria marcada pelas lembranças. São sensações muito íntimas assim como lidar com cada uma delas assim como ter raiva pra encarar o que as causou.  E é sobre esse tema que se aprofunda o filme Los Silencios, de Beatriz Seigner.

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Exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2018, o longa é uma fábula sobre como não esquecer e lidar com a solidão a partir das lembranças.  É lutar contra a perda de alguém com a projeção de fantasmas numa tentativa de manter o presente. De evitar enxergar um mundo hostil que nos traz a dor.

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Inspirado na história de um amigo da diretora Beatriz Seigner, que assinou também o roteiro, Los Silencios fala sobre Amparo (Marleyda Soto), uma mãe de dois filhos pequenos que está fugindo dos conflitos armados da Colômbia. Eles encontram abrigo na tríplice fronteira entre Colômbia, Peru e Brasil, numa pequena ilha com casas de palafita no Rio Amazonas, chamada de “A Ilha da Fantasia”. Um dia, o pai desaparecido (o ator peruano-brasileiro Enrique Diaz), que supostamente estava morto, reaparece.

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Foto: Vitrine Filmes / Divulgação

Num estilo “O Sexto Sentido” (1999), Los Silencios traz à tona também relevantes questionamentos sociais sobre essas famílias, em situações financeiras de quase miséria, serem completamente ignoradas por governos locais visto que só podem receber indenizações com o aparecimento de um corpo. E nessas áreas de guerras civis, um corpo, dentre tantos outros, é algo raro.

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Com uma fotografia tão bonita e uma direção de elenco tão precisa, Beatriz Seigner transformou seu filme em um desabafo pertinente. E mais, pois no mundo de hoje, onde tudo e todos são tratados como inimigos, tentativas como essa de enxergarmos as falhas sociais e nos aproximarmos do problema como humanos são mais do que pertinentes até, são necessárias. Los Silencios é cinema direto, humanizado e na sua forma mais importante: social como forma de luta.

*Filme visto na programação do 3º Rio Fantastik Festival

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Direção: Beatriz Seigner
Elenco: Marleyda Soto, Enrique Diaz, María Paula Tabares Peña
Estúdio / Distribuição: Enquadramento Produções / Vitrine Filmes
Data de estreia: seg, 19/11/18
País: Brasil / Colômbia / França
Gênero: Drama
Ano de produção: 2018
Duração: 90 minutos
Classificação: 10 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
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