Com promessa de resistência, encerramento do Rio Fantastik Festival consagra ‘A Sombra do Pai’

Wilson Spiler

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24 de novembro de 2018

Não teve nada de terror no encerramento do Rio Fantastik Festival 2018, muito pelo contrário. A “fantástica”  (para ficar no trocadilho) noite foi de festa na entrega dos prêmios para os melhores do evento, que consagrou “A Sombra do Pai” como o grande vencedor.

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O filme de Gabriela Amaral Almeida levou os troféus Cramulhão em quatro categorias: Melhor Filme, que foi escolhido tanto pelo Júri Oficial – formado pela atriz Alessandra Verney, pelo diretor Hsu Chien e pelo roteirista Rodrigo Lages – quanto pelo da Crítica – integrado por membros da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), como Ana Rodrigues, Bruno Giacobbo (que é crítico do BLAH!), Francisco Carbone, Graça Paes e Zeca Seabra; Melhor Diretor (a diretora, inclusive, já havia sido premiada no ano anterior como Melhor Roteirista por “O Animal Cordial”); e Melhor Ator (Julio Machado). “Morto Não Fala”, de Dennison Ramalho, também se destacou com dois importantes prêmios: Melhor Diretor (pelo Júri da Crítica) e Melhor Atriz, para Fabíula Nascimento.

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Idealizador do festival, Mario Abbade falou sobre as dificuldades de se fazer cinema no Brasil (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Idealizador do Rio Fantastik, Mario Abbade, crítico de cinema e jornalista, falou como é difícil realizar um evento deste tipo no Brasil e como adotou medidas para evitar que algum filme deixasse de ser exibido.

– Eu estive no Festival do Rio agora e a primeira sessão de “A Casa que Jack Construiu”, um filme do Lars Von Trier, um diretor consagradíssimo, que as pessoas vão assistir, num domingo à tarde, na Gávea, tinha quatro fileiras vazias dentro do cinema. Para vocês verem a crise que está. As pessoas, infelizmente, não estão tendo dinheiro para ir ao cinema. Então, às vezes, você faz uma sessão que tem quatro, cinco, seis, dez pessoas, mas é importante a gente fazer mesmo tendo apenas uma única pessoa. A gente não pode deixar de exibir o filme.

Mario destacou ainda que, mesmo diante de tantos obstáculos, é preciso resistir. Ele ainda afirmou que o melhor para que todos ficasse satisfeitos.

– Resistir no computador, no Facebook, mandando mensagem, é uma coisa. Eu acho que resistir é você ir para o cinema, programar um filme, mesmo contra tudo e contra todos, e passar esse filme mesmo que tenha uma única pessoa dentro do cinema. Eu acho que resistir é fazer um ato e não ficar só no diálogo e na fala. A gente fez o melhor para que todos os realizadores ficassem satisfeitos.

Dono do Cine Joia, Raphael Aguinaga elogiou os filmes exibidos no festival (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Ao obter a palavra, Raphael Aguinaga, administrador do Cine Joia, espaço onde os filmes do Rio Fantastik foram exibidos, e organizador do festival, enalteceu a qualidade dos trabalhos selecionados.

– Fiquei impressionado com a qualidade das produções e acho que o brasileiro é muito criativo, consegue fazer coisas maravilhosas, principalmente quando ele não tem recursos, Acho que o que vai abrir as portas para a gente lá fora é exatamente esse gênero, porque, para ganhar da gente na criatividade, vai ser muito difícil.

Aguinaga também chamou a atenção para o conservadorismo e deixou o convite para a quarta edição do Rio Fantastik, em 2019.

– Queria fazer também uma menção de um sinal de mudança de tempo, né? Hoje, a gente está aqui entregando a premiação num festival de gênero, nichado, com a presença do presidente da Ancine é uma honra, um orgulho e um prazer muito grande. Queria deixar o convite para a quarta edição do Rio Fantastik, para a gente ir com mais força no ano que vem, atingir mais gente e trazer mais produções.

Christian de Castro Oliveira, presidente da Ancine, elogiou a iniciativa do Rio Fantastik (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

O presidente da Agência Nacional do Cinema, Christian de Castro Oliveira, citado na fala de Aguinaga, também falou sobre as dificuldades de se produzir no Brasil, elogiou a iniciativa do Rio Fantastik e prometer trabalhar cada vez mais para que o cinema brasileiro obtenha mais recursos.

– O brasileiro sabe fazer filme. A criatividade e a diversidade, a gente tem. Nós conseguimos fazer filme com muito pouco recurso. Então, o meu trabalho é a gente procurar fazer com que a gente tenha cada vez mais recursos para fazer cinema de gênero porque esse é o que vai fazer a gente crescer como cinematografia, não só local, mas também internacional. A oportunidade está aqui, terceira edição, cada vez mais forte, uma cinematografia diversa, novos cineastas… a ideia é a gente trabalhar para que isso não seja a exceção e que a gente, cada vez mais, tenha isso cada vez mais presente com a capacidade que a gente tem de entregar.

Luciana Paes, atriz de ‘A Sombra do Pai’, brinca com o troféu Cramulhão (Foto: Wilson Spiler / BLAH!)

Diante das promessas de resistência e da continuidade do trabalho, além da revelação de uma nova edição do festival, como bem disse Luciana Paes, atriz de “A Sombra do Pai”, em um de seus discursos: “Vida longa ao Rio Fantastik”.

Confira todos os premiados:

JÚRI OFICIAL

  • Longa:

Melhor Longa-metragem: “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida
Diretor Longa-metragem: Gabriela Amaral Almeida por “A Sombra do Pai”
Atriz: Fabíula Nascimento por “Morto Não Fala”
Ator: Julio Machado por “A Sombra do Pai”
Menção Honrosa para a Fotografia: “O Barco”, de Petrus Cariry

  • Curta:

Melhor Curta-metragem: “Para minha gata Mieze”, de Wesley Gondim
Diretor Curta-metragem: Armando Fonseca, Raphael Borghi por “A Última Cova”

  • Voto Popular:

Longa-metragem: “Christabel”, de Alex Levy-Heller
Curta-metragem: “Lilith”, de Edem Ortegal

JÚRI DA CRÍTICA

  • Longa:

Melhor Longa-metragem: “A Sombra do Pai”, de Gabriela Amaral Almeida
Diretor Longa-metragem: Dennison Ramalho por “Morto Não Fala”
Menção Honrosa para a Fotografia: “Los Silencios”, de Beatriz Seigner
Menção Honrosa para Efeitos e Maquiagem: “A Mata Negra”, de Rodrigo Aragão

  • Curta:

Melhor Curta-metragem: “Para minha gata Mieze”, de Wesley Gondim
Diretor Curta-metragem: Edem Ortegal por “Lilith”

Homenageado: cineasta Ivan Cardoso

Veja o álbum de fotos do evento:
https://www.facebook.com/media/set/?set=a.2294806817220079&type=1&l=7e99763ee6

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
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