CRÍTICA | ‘Venom’ entretém e diverte, mas está na vala dos filmes comuns
Bruno Giacobbo
|3 de outubro de 2018
Após uma participação subaproveitada em “Homem-Aranha 3” (2007), o vilão da vizinhança, Venom, o arqui-inimigo do Aracnídeo, está de volta em um longa-metragem solo. Com todas as câmeras e todos os flashes voltados para ele, o personagem, que apareceu pela primeira vez nos quadrinhos em 1984, tem sua origem dissecada pelo diretor Ruben Fleischer. Isto em pouco menos de duas horas e de maneira bastante eficaz para o grande público que nunca pegou em um gibi na vida, mas que gosta deste tipo de aventura. No entanto, este acerto tem um preço. A chance de os fãs mais xiitas rejeitarem o filme Venom é enorme, uma vez que as diferenças são perceptíveis, a começar, claro, pela simples ausência de Peter Parker e de seu alter ego. Dá para imaginar um sem o outro? Até aqui não dava. Contudo, por mais incrível que pareça, a história funciona bem direitinho.
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O repórter Eddie Brock (Tom Hardy) vive tranquilamente na ensolarada São Francisco. A fama de encrenqueiro ficou para trás e, hoje, ele tem um programa investigativo que faz sucesso em uma televisão local. Além disto, está prestes a se casar com a advogada Anne Weying (Michelle Williams). Só que a sua sorte começa a mudar no dia em que é obrigado a entrevistar Carlton Drake (Riz Ahmed), o poderoso presidente da Fundação Vida e uma espécie de Steve Jobs da corrida espacial. O cara está precisando de publicidade positiva após testemunhar a queda de um de seus foguetes, que estava no espaço, na terra. Todavia, Brock decide mudar o roteiro da reportagem ao descobrir, de maneira controversa, podres envolvendo Drake e a tal fundação. Daí até o fundo do poço é um pulo, mas nada vai mudar mais a sua vida do que entrar em contato com Venom, um dos aliens que foram trazidos pela nave.
O encontro, ou melhor, a fusão entre o repórter e o alienígena, já que a criatura utiliza o humano como hospedeiro, marca a primeira de uma série de mudanças pelas quais o longa passa. Se até ali tínhamos uma história de investigação e até mesmo de espionagem, depois deste momento ela flerta com outros gêneros. O terror é evocado em no mínimo duas cenas, sendo que uma delas remete a uma dessas películas de zumbis. Acontece que a verdadeira vocação é outra. Tendo como base os engraçados diálogos entre Brock e o alien, a forma que se toma é a de uma comédia de ação. Há adrenalina de sobra para quem acredita que filmes de super-heróis precisam ser assim (Venom não é um herói, mas aqui tão pouco é um vilão, ele está mais para um anti-herói); e há humor em abundância, afinal, uma obra com personagens da Marvel nunca será tão soturna quanto uma da concorrência. E na busca por este equilíbrio, o único senão está na montagem acelerada e, por vezes, confusa de algumas tomadas.
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Foto: Sony Pictures / Divulgação
Com caprichados efeitos especiais, longe de ser a bomba apregoada por parte da crítica norte-americana, que o comparou a “Mulher-Gato” (2004), Venom cumpre com bastante dignidade o seu real propósito: entreter o público por um punhado de horas. Por outro lado, ele também não vai além disto por ter problemas em aspectos essenciais, como o roteiro escrito a oito mãos por Scott Rosenberg, Jeff Pinkner, Kelly Marcel e Will Beall. Este falha, por exemplo, na hora de justificar, no fim das contas, a simpatia que acaba marcando a relação entre o protagonista e o alienígena. Outra coisa incômoda (e prejudicial) é que depois de tantas obras com subtextos mais sólidos e que dialogam com a terrível época em que vivemos, vide “Pantera Negra” (2018) e o seu engajamento racial, paira, desconfortavelmente, no ar a sensação de que estamos diante de algo que logo será relegado a vala dos filmes comuns.
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Em tempo: Não deixem a sala antes do fim dos créditos. Há uma cena e um teaser.
Desliguem os celulares e boa diversão.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Venom
Direção: Ruben Fleischer
Elenco: Tom Hardy, Michelle Williams, Woody Harrelson
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 04/10/18
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2017
Duração: 112 minutos
Classificação: 14 anos
Bruno Giacobbo
Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
