Gal Costa show no Vivo Rio (foto Maíra Chalfun)

Em retorno ao RJ, Gal Costa mostra porque é uma das maiores cantoras do nosso país

Fabricio Teixeira

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16 de novembro de 2021

Após o longo e tenebroso inverno imposto pela pandemia, Gal Costa voltou aos palcos do Rio de Janeiro no último sábado (12) para apresentar o show da turnê “As Várias Pontas de Uma Estrela” no Vivo Rio. Além de uma celebração aos seus 56 anos de carreira, a turnê homenageia o cantor e compositor Milton Nascimento. Um amigo de longa da cantora e de quem a artista já gravou vários sucessos.

Escolhido com muita minúcia e tato pelo produtor Marcus Preto – que dirige o show-, o setlist, além de Milton Nascimento, incluiu uma seleção de hits do cancioneiro popular brasileiro que foram sucesso (alguns estrondosos) na voz de Gal. A lista inclui Chico Buarque, bem como Caetano Veloso, Djavan, Michael Sullivan, Victor Ramil, Jards Macalé, entre outros.

Sem parar para respirar

Gal Costa abriu os trabalhos da noite no Vivo Rio cantando versos a capela de “Ponta de Areia”, parceria de Milton com Fernando Brant. Sua voz se fez presente e forte em cada pedaço da casa, mostrando que, mesmo depois de mais de cinco décadas de carreira, ela mantém um brilho e uma potência no cantar que, ainda que não seja a mesma coisa da década de 1960, revelam porque ela foi elevada ao status de diva da música popular brasileira.

Acompanhada de André Lima no piano, Fábio Sá nos contrabaixos acústico e elétrico, assim como Victor Cabral na bateria e percussão, Gal emendava uma música na outra sem tempo para respirar. “Fé Cega, Faca Amolada”, também de Milton e Brandt, foi acompanhada pela linda interpretação de “Hotel das Estrelas”, de Jards Macalé. Na sequência, “Estrela, Estrela”, de Victor Ramil, mostrou toda a ternura presente naquela voz por vezes tão afiada, e “Paula e Bebeto”, de Milton com Caetano Veloso, explodiu mais uma vez o Vivo Rio.

Sua potência vocal é inversamente proporcional à sua presença de palco. Gal mantém-se estática, no centro, sem tempo (ou necessidade) para movimentos exuberantes aos quais cantores solo muitas vezes recorrem. Sua voz é tudo o que ela precisa dar ao público naquele momento, e essa voz só é soterrada quando a cantora tenta falar ao público – algumas poucas vezes – e é ovacionada à gritos que vão de “maravilhosa”, “deusa” até “necessária”.

Gal Costa no Vivo Rio show (foto Maíra Chalfun)

Foto: Maíra Chalfun / ULTRAVERSO

Ponto luminoso na escuridão

Entre os destaques do já citado setlist, “Dom de Iludir”, “Baby” e “Sorte” de Caetano Veloso, têm na voz de Gal a sua versão definitiva. Nenhum outro artista consegue dar vida a essas músicas como ela. E isso fica ainda mais nítido ao vivo.

Após terminar a primeira parte do show com “Maria, Maria”, mais uma homenagem a Milton, Gal  Costa voltou ao palco para uma versão apoteótica de “Um Dia de Domingo”, de Michael Sullivan e Paulo Massadas, que fez o Vivo Rio inteiro cantar em uníssono. Ela encerrou seu retorno aos palcos cariocas com “Brasil”, de Cazuza, que, embora tenha envelhecido mal, conserva nessa versão um respiro (leve, bem leve) de crítica social comum da juventude nos anos 1980.

Gal Costa é um tipo de artista que você precisa ver ao vivo pelo menos uma vez na vida. Pelo menos, para afirmar que aquela potência, de fato, existe. A voz não é a mesma de 1964, e isso é óbvio. O que não quer dizer, nem perto disso, que é uma voz ruim. Pelo contrário, o canto da artista carrega uma experiência de palco e de vida de uma artista que não se dobra ao tempo e ao manto de estupidez que nos cobre, sendo um ponto luminoso na escuridão que tem tomado contra do Brasil. De fato, segue “necessária”.

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Fabricio Teixeira

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