NEW YORK - FEBRUARY 15: An Oscar trophy is seen at the "Meet the Oscars" 50th Golden Statuettes press preview at Time Square Studios on February 15, 2008 in New York City. (Photo by Rob Loud/Getty Images)

Especial ‘Oscar 2019’ #1 | Conhecendo os indicados a Melhor Filme

Pedro Marco

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24 de janeiro de 2019

O Oscar 2019 teve seus indicados divulgados na última terça-feira, 22, mas continua a gerar discussões entre os cinéfilos. Se você não vive no planeta Terra, chegou ontem de algum lugar sem internet e está mais perdido (a) que cego em tiroteio, o BLAH!ZINGA facilita as coisas para o seu lado. Vamos começar apresentando os concorrentes na categoria Melhor Filme. Senta que lá vem história:

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Pantera Negra

É difícil saber onde começar ao listar o quão surpreendente é esta indicação. O 18º filme da Marvel Studios nos trouxe uma história solo do herói Pantera Negra, que havia sido apresentado dois anos antes no longa Capitão América: Guerra Civil. No posto de defender Wakanda, uma nação tecnológica e tribal escondida no coração da África, o vigilante irá enfrentar seus receios e inimigos, numa disputa pelo trono e pela hegemonia de sua nação.

A indicação quebra recordes, sendo o primeiro filme com temática de super-herói a ser indicado a Melhor Filme. Vale ressaltar que, apesar das admiráveis 7 indicações, o mesmo ainda fica atrás das 8 indicações de Batman: Cavaleiro das Trevas, lançado 10 anos antes. O longa da Distinta Concorrente ganhou duas categorias (Ator Coadjuvante e Edição de Som), ficando ainda atrás de Dick Tracy (longa de 1990, baseado nas HQs de Chester Gould, que foi indicado a 7 estatuetas e levando 3 delas para casa). Ou seja, ainda há um longo caminho a trilhar para que T’Challa continue quebrando barreiras.

Outro ganho notável desta indicação é o fato do longa ter sido lançado em fevereiro. Com uma constante de filmes de novembro e dezembro entre os indicados, a lembrança de uma produção do início do ano acabou se repetindo após o caso semelhante de Corra!.

Por fim, entre os prós e contras que a indicação trará aos fãs da nona arte, está uma maior valorização e investimento do gênero, correndo junto ao fator de uma possível acomodação nas inovações em roteiro e direção de arte. No que tange a questões de diversidade e inclusão (que acabaram entrando em maior voga após a campanha “Oscar So White”), Pantera Negra fecha um time de atores majoritariamente afrodescendentes, além, claro, da temática central do roteiro ser esta cultura de orgulho e respeito.

“Pantera Negra” (Foto: Disney / Marvel / Divulgação)

Infiltrado na Klan

Apesar de sempre lembrarmos da odisseia que Leonardo DiCaprio passou para levar sua estatueta para casa, devemos ressaltar também alguns outros azarões que seguem batendo na trave em quase todos os anos. Entre eles, o polêmico diretor Spike Lee nos apresenta um filme produzido por Jordan Peele, baseado de forma satírica em uma história real. John David Washigton (filho do grande Denzel, que repete a parceria com Lee após Malcolm X), interpreta Ron Stallworth, um policial negro que se infiltra na Ku Klux Klan do Colorado para impedir uma série de ataques do grupo racista. Optando em passar a história nos anos 70, o filme recorre a diversos links com o cenário atual americano, alfinetando grupos e políticos específicos, com tons de humor e sátira.

O humor negro da Blumhouse Productions segue com uma dupla premiação de Cannes, e a chance de levar o prêmio máximo da noite. Seu discurso, apesar de beirar o panfletário, consegue ser direto e crítico sem perder o entretenimento e o soco de realidade. Sendo um grande favorito ao prêmio máximo da noite, Infiltrado na Klan busca espaço para ser mais visto e melhor difundido, assim como Moonlight: Sob a Luz do Luar há dois anos.

“Infiltrado na Klan” (Foto: Universal Pictures / Divulgação)

A Favorita

Dentre temáticas carimbadas do Oscar, deve-se ressaltar ainda os grandes filmes de época. Abordando toda a pompa e glória da época vitoriana, os longas do gênero quase sempre complementam as listas de indicações nas principais categorias, com seus vestidos altos e cabelos armados que caçam as estatuetas de maquiagem e figurino.

A bola da vez, vem do grego Yorgos Lanthimos, que, em 2015, ganhou grande renome no meio por seu longa O Lagosta. Agora, o diretor nos apresenta, em A Favorita, uma espécie de Game of Thrones britânico entre ladys e rainhas do século XVIII. Repleto de ambições, traições e amadurecimento, uma rainha, sua confidente e uma prima distante, levam o público em uma trama intrigante que prende e diverte em um equilíbrio louvável.

Com sátiras e comparações contemporâneas, maquiadas em ares clássicos e voluptuosos, o filme é a grande aposta para as categorias de atuação feminina e um forte concorrente para os wakandianos nas categorias mais artísticas. Como histórico, A Favorita carrega suas cinco indicações ao Globo de Ouro (das quais ganhou uma) e uma dupla premiação em Veneza.

“A Favorita” (Foto: Fox Film Brasil / Divulgação)

Green Book: O Guia

Mantendo a vibe de favoritismo ao prêmio e de temática racial expressada em um tom mais leve, Mahershala Ali e Viggo Mortensen representam uma das mais gratas e inesperadas duplas do cinema. Retratando uma parceria quase clichê de Hollywood, um cara mais rabugento se juntará a um de espírito mais jovem, em uma road trip em busca do autoconhecimento de cada um.

Na história, acompanhamos um ex-segurança à procura de um novo emprego e tendo que se juntar a um famoso pianista de jazz de comportamento completamente oposto e ideais conflituosos. A turnê de Tony Lip e Doc é um filme caloroso e divertido, sem deixar de cumprir sua tarefa informativa e bem exposta. Com ares de produção natalina, o longa surpreende com roteiro e atuações memoráveis, criando diálogos impactantes e um final de tirar o sono.

A surpresa está sem dúvida na direção de Green Book: O Guia, assinado por Peter Farrely, diretor de clássicos da comédia como Debi e Lóide, Eu, Eu Mesmo e Irene e Quem Vai Ficar com Mary?.  O longa conquistou 5 indicações e surge no radar de muitos entusiastas da premiação após sua vitória no prêmio do sindicato dos produtores, que tem a mesma simetria com a do Oscar em 19 das 27 últimas premiações.

“Green Book: O Guia” (Foto: Diamond Films / Divulgação)

Bohemian Rhapsody

Não é de hoje que a grande Academia das Belas Artes adora uma cinebiografia musical. Colecionando clássicos como Amadeus e Ray em seu hall de vencedores, o prêmio máximo de Hollywood decide apostar na vida e obra do grande Freddy Mercury, eterno vocalista do Queen.

Sendo apontado como um resquício da categoria de voto popular (criada para que se aumente a audiência da premiação), Bohemian Rhapsody, que já foi de Bryan Singer, segue como uma grande surpresa entre os indicados. Apesar de ter um roteiro bem amarrado e uma reconstrução histórica nostálgica e gratificante, o filme corre sérios riscos de sair de mãos abanando na maior noite do cinema americano.

Sendo discutido como um possível indicado desde os trailers, Rami Malek (intérprete do personagem central) tem a forte missão de competir com Cristian Bale (em outra cinebiografia). No entanto, alguns pontos são perdidos por sua carreira ainda recente nas telonas, e pelo detalhe de não cantar, em um filme onde interpreta um músico.

“Bohemian Rhapsody” (Foto: 20th Century Fox / Divulgação)

Roma

Sem dúvida a maior marca nas indicações do Oscar 2019 será para sempre o início do reconhecimento dos serviços de streaming na premiação. Completando 13 indicações entre Roma e A Balada de Buster Scruggs, a Netflix se integra ao time de grandes produtoras premiadas e, cada vez mais, fortalece sua gama de produções exclusivas que justificam a assinatura.

Para concretizar este grande acerto, diretores de peso foram convidados para realizar estas produções, como os irmãos Cohen, e, no caso de Roma, o mexicano Alfonso Cuarón. Completando a elite latina de diretores latinos carimbados na premiação de Guilhermo del Toro e Alejandro González Iñárritu, Cuarón decide nos presentear com um longa intimista e nostálgico sobre uma família mexicana dos anos 70.

Expondo suas memórias, e optando por uma ótica preto e branco, o longa trata de uma empregada doméstica de uma família rica em uma colônia mexicana chamada Roma. A cidade, acaba recebendo o nome após o costume latino de imitar as cidades europeias, da forma como faria o Rio de Janeiro em sua contemporaneidade. Abordando questões de divórcio e divisão de classes, Cuarón aposta em um filme mais artístico e quase estático, com uma câmera calma e imóvel que remete à personalidade da personagem central. A cinematografia (um de seus principais atrativos), acabou sendo feita pelo próprio diretor, após a indisponibilidade de Emmanuel Lubeski (seu grande parceiro de direção e tricampeão da categoria por Gravidade, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) e O Regresso, resultados desta cooperação).

A indicação do filme abre portas para produções mais independentes e paralelas ao circuito principal de cinema americano. Sendo fortemente criticado por fugir ao costume clássico de cinema e por perder parte de seu detalhamento sutil ao ser assistido em computadores e celulares, o longa de Cuarón carece desta inserção, visto que o idioma espanhol e a falta de coloração o afastaria dos grandes circuitos que o levaram à premiação.

“Roma” (Foto: Netflix / Divulgação)

Nasce Uma Estrela

Além da temática racial e das cinebiografias, outras constantes podem ser observadas ao longo do Oscar. Entre elas, a música country e a transição de atores para a direção, podem ser apontadas em quase todos os anos mais recentes da premiação. Estas duas, quando unidas, acabam trazendo grandes obras como Nasce uma estrela.

Com ares de Johnny e June, Nasce Uma Estrela traz uma refilmagem de uma história já bastante carimbada em Hollywood. Em 1937, Janet Gaynor e Fredric March estrelam o longa homônimo onde uma garota da fazenda do Kansas vai à “capital do Cinema” buscar seu sonho de se tornar uma estrela das telonas. Em 1954, Judy Garland e James Mason estrelaram uma nova versão da história em uma temática musical, onde uma cantora emergente e um ex-ídolo de matinês se juntam rumo ao estrelato. 1976, e pela terceira vez, a história surge, agora com a inserção do Rock’n Roll, em um longa musical estrelado por Barbara Streisand e Kris Kristoffreson. Fechando esta saga, temos, desta vez, Lady Gaga e Bradley Cooper (também estreando na direção) em uma roupagem country e emocionante.

Dentre os maiores atrativos do filme, a forma como as filmagens moldaram o roteiro acabam sendo grande parte do charme que cativou públicos do mundo inteiro. Entre apresentações reais, um importante falecimento na vida da atriz e uma série de improvisos dos atores, a história do filme nos é apresentada de forma orgânica e pessoal, mostrando uma Lady Gaga de cara limpa e um Bradley Cooper aspirante à música, em constante insistência e inspiração de um para o outro.

Apesar da certeza de um prêmio de Melhor Música, o longa flerta em suas 8 indicações na esperança de reconhecimentos por grandes atuações, Roteiro e Fotografia.

“Nasce Uma Estrela” (Foto: Warner Bros. Pictures / Divulgação)

Vice

Seguindo com a tendência de histórias reais, Vice aborda a vida do ex-vice presidente norte-americano Dick Cheney em seu período de atuação na Casa Branca. Abordando questões que vão do ataque de 11 de setembro até a guerra ao terror do Iraque, o filme conta com uma série de flashbacks dos anos 60 e 70, em uma trajetória política com ares de House of Cards (ainda mais no que tange a quebras de quarta parede e à crueldade do protagonista).

Mas apesar do teor interessante da história, os olhos se voltam para duas pessoas em específico. Primeiro, para mais uma grande transformação corporal de Cristian Bale em suas interpretações cinebiográficas. Após suas constantes mudanças de cair o queixo em O Maquinista e O Vencedor, em Vice, o ator mostra uma incorporação comparável ao antecessor de premiação, Gary Oldman, ao interpretar Winston Churchill, mas sem usar tanta maquiagem e enchimentos. Ainda assim, não apenas de visual se faz a atuação de Bale, onde os trejeitos e dicção são impecáveis e imersivos.

Outro fator que muito atrai no longa vem do grande Adam Mckay. Após o injustiçado A Grande Aposta, o cineasta repete sua estética documental, em um filme que beira ao didático, mas não perde seu bom humor e sua fluidez cinematográfica. O roteiro complexo e bem amarrado do longa, acaba pedindo uma direção e montagem à altura, resultando em um estilo de cinebiografia de extremo bom gosto e divertimento.

“Vice” (Foto: Imagem Filmes / Divulgação)

Pedro Marco

Pedro Px é a prova de que ser loiro do olho azul e com cabelos e barbas longas, não te garantem ser parecido com o Thor. Solteiro, brasiliense e cozinheiro, se destaca como autor de 7 livros, host do Pipocast, membro da Academia de Letras de sua cidade, fundador de Atlética universitária, padrinho da Helena, e nos tempos livres faz 40h semanais como engenheiro civil. Escreve sobre cinema desde que tudo aqui era mato, sendo Titanic seu filme favorito
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